Sinopse: O filme acompanha o
envolvimento virtual do jovem Daniel com Alice, uma desconhecida. Mesmo sem
nunca tê-la visto Daniel apaixona-se de forma obsessiva. Conversam diariamente
pelo msn, e até quando longe do computador, ele sente-se conectado a ela. Mas Alice
possui segredos. A revelação de uma verdade surpreendente faz com que Daniel
entre em desespero. Uma série de eventos se inicia, conduzindo os personagens
por caminhos desconhecidos, perigosos e sem volta.
Sempre paramos para perguntar para nos mesmos, como
era antes, quando agente não tinha celular, ou outros meios tecnológicos que
fazem parte de nossas vidas atualmente e que dificilmente conseguimos nos
desvencilhar deles. Esse meu pensamento, imediatamente me veio a mente, ao assistir
Alice Diz:, do diretor estreante Beto Rôa, que com um orçamento minúsculo
(pouco mais de 40 mil reais) cria um filme, que é um reflexo de nosso mundo contemporâneo
e que acaba levantando inúmeras reflexões.
A historia de Daniel (Daniel
Confortin, otimo), com sua relação virtual (pelo MSN) com Alice, nada
mais é do que um retrato de nos mesmos, nos relacionando cada vez mais atualmente,
com pessoas que conseguimos nos relacionar somente pela internet, ao ponto, de
não sabermos nos comunicar com o mundo real, ou muito menos com as pessoas que
cruzam em nossas vidas. Bom exemplo disso é na cena em que Daniel observa as
mulheres que ele cruza, seja na rua ou em um ônibus, que embora demonstre
desejo em se comunicar com elas, ele simplesmente não consegue achar uma forma dele
investir na ocasião, tendo muito mais afinidade e saber se abrir, com uma garota
que ele nem sequer viu ainda pessoalmente. O filme cria certo suspense sobre a
verdadeira origem de Alice, tanto, que ao decorrer do filme, Daniel fica
assistindo um filme B dos anos 50 na TV, sobre o domínio das maquinas contra os
homens. Embora não fique muito claro, se as cenas que aparecem desse filme
sejam realmente reais, ou se elas estejam somente passando na imaginação já
conturbada de Daniel, que começa a cada vez mais ficar angustiado e paranóico sobre
quem é Alice. O filme visto na TV pode ser interpretado como uma metáfora sobre
a situação que acontece na trama, ou simplesmente uma referencia de uma década (anos
50), muito mais paranóica do que há que vivemos. Fica para o espectador que assiste
criar sua própria interpretação sobre esses momentos.
E a situação piora, quando gradualmente ele descobre
o que Alice é realmente. Embora a revelação sobre a origem de Alice, possa soar
um tanto que exagerada, ela corresponde muito bem com a proposta que o filme
quer passar para o espectador. Vivemos
num mundo atual, onde cada vez mais nos afastamos das outras pessoas e de nos
mesmos. Sendo que, acabamos por esquecer como agente se relacionava antes, e
com isso, não desfrutamos mais por completo, dos dias que vivemos como
antigamente e mesmo agente se dando conta disso, pode já ser muito tarde. Além de ser uma ótima historia cheia de
camadas de interpretação, Beto Rôa cria um verdadeiro jogo de câmeras, onde por
muitas vezes, precisamos ter a máxima atenção, pois o filme é cheio de inúmeros
detalhes simbólicos para serem ou não decifrados.
Com uma fotografia belíssima e montagem caprichada,
ALICE DIZ: é um pequeno e grande filme, que merece ser descoberto pelo grande publico
que tem interesse de assistir uma sessão, onde um filme lhe consegue passar
sentimentos, fazer levantar inúmeros questionamentos sobre a trama e consigo próprio.
Em
cartaz: CineBancários
(General Câmara, 424), Porto Alegre. Sessões: 15hs, 17hs e 19hs. O filme fica
em cartaz até o dia 13 de Junho.
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