Sinopse: Os históricos
manifestos de arte podem ser aplicados à sociedade contemporânea? É isso o que
Cate Blanchett tenta responder ao explorar os componentes performáticos e o
significado político de declarações artísticas e inovadoras do século XX, que
vão dos futuristas e dadaístas ao Pop Art, passando por Fluxus, Lars von Trier
e Jim Jarmusch.
Manifesto é um filme
que se propõe a discutir o real papel da arte de ontem e hoje. Existe uma exposição de pensamentos dos quais a obra explora, sendo que, em alguns
momentos, entrando até mesmo em confronto entre si e sintetizando a proposta principal do filme como um todo.
Talvez a proposta da qual o artista plástico e agora diretor estreante Julian
Rosefeldt queira nos passar é essa: onde se encontra a originalidade?
Talvez a arte de hoje
pudesse ser criada a partir da essência do seu artista, sendo uma representação
do mundo do qual convive e o rodeia. Ao invés disso, talvez estejamos apenas
testemunhando manifestações com teor plástico, da qual nos cause uma sensação
de Déjà vu, em vez de presenciarmos algo no mínimo original e ao mesmo tempo
crítico.
Num primeiro momento,
talvez pensássemos que estivéssemos sendo formados desde sempre a ter uma visão autoral
e livre para moldarmos o que bem entendermos com relação a arte. Porém, num
manifesto visto e dito no próprio filme, uma professora põe regras e limites
para os seus alunos com relação ao que devem fazer com relação aos seus
trabalhos artísticos. Isso vai contra a essência primordial da verdadeira arte,
da qual não se deve haver amarras, mas sim tendo uma espada, na qual consegue cortá-las
e criando-se então métodos para se fazer pensar e revolucionar.
Por meio de discursos
profundos e reflexivos, Manifesto soa como uma verdadeira poesia filmada. A
ironia é que, para compor sua obra, Rosefeldt também usa referências, da mesma
maneira como uma espécie de critica no filme. Porém, o seu primeiro longa
metragem vai muito além dessa proposta.
Ouso dizer que Manifesto corre sério
risco de se tornar um dos filmes mais originais nesse ano que está passando. Criado
para ser exposto numa exposição na Austrália em 2015, Rosefeldt reuniu essas manifestações
artísticas para então criar a sua obra, que vai desde a música, passando pela
dança e, logicamente, o cinema. O desejo era para que essa nova geração tivesse
um conhecimento sobre essas ideologias e fizessem com que pensassem sobre elas.
Mas então eis que
veio a ideia de transformar isso num filme e ser levado para os cinemas. É
claro que num primeiro momento ficamos em dúvida com relação a um artista de
primeira viagem no mundo da sétima arte, principalmente pelo fato de que não é fácil
passar textos dos quais poderiam soar até mesmo abstratos demais em cena.
Porém, Rosefeldt surpreende ao criar um filme visualmente complexo em alguns momentos e que,
embora lembre obras como Brazil: O filme (de Terry Gilliam) nos passe certa originalidade
e obtendo então a nossa total atenção.
Contudo, o que torna
Manifesto um filme indispensável é a presença magnética de Cate Blanchett, que aqui interpreta
13 personagens distintos durante o filme. Se por um lado, o cinéfilo acha um
tanto estranho um filme ser protagonizado praticamente por uma única atriz
interpretando vários personagens, por outro, o que se prezar ir até o fim dessa
cruzada irá se sentir mais do que compensado. Cate Blanchett definitivamente
some de cena e dando lugar aos seus enigmáticos personagens e com seus mundos
distintos e particulares.
Além do filme se inspirar
em vários artistas dos quais merecem destaque na tela, Manifesto acaba mirando
em outros alvos dos quais merecem uma total atenção para termos um momento de reflexão.
Eis que o filme mira então no capitalismo (sendo um sistema ultrapassado que em
longo prazo acarretou vários problemas na sociedade dito no filme), a postura e manipulação
da mídia, e até dos próprios críticos, que usam sua linguagem subliminar para
dizer como compreendem a arte mais do que os outros poderiam entender. Mas
embora tenha nascido à ideia a partir de 2015, há uma surpreendente coincidência
de o filme chegar justamente no Brasil de agora, sendo num momento em que conservadores,
como no caso do movimento MBL, querer nos dizer a todo custo o que é arte, quando na
verdade criam somente uma cortina de fumaça para ocultar os verdadeiros males
que afligem o nosso país atualmente.
Manifesto definitivamente não é um filme do qual será compreendido por todos, mas é graças a sua originalidade, além da contribuição e o esforço surpreendente vindo de Cate Blanchett, é o que torna o filme uma experiência incomum e que foge por completo do convencional.
Manifesto definitivamente não é um filme do qual será compreendido por todos, mas é graças a sua originalidade, além da contribuição e o esforço surpreendente vindo de Cate Blanchett, é o que torna o filme uma experiência incomum e que foge por completo do convencional.
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