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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre - ‘Ensina-me a Viver’

Nota: Filme exibido para associados e não associados na Sala Redenção, Campus Central da UFRGS no último sábado (05/11/2022).

Sinopse:  Baseado num roteiro que foi lançado como romance por Collin Higgins, o filme conta a história de Harold e Maude, que formam um estranho casal. Ele é jovem e obcecado pela morte. Ela é uma septuagenária apaixonada pela vida. Harold faz Maude rir com os relatos de seus suicídios fracassados e ela ensina ao jovem algumas lições de vida. 

Hal Ashby foi uma peça interessante e do qual fez parte da "Nova Hollywood", período contestador do cinema americano e fazendo aflorar maior liberdade para os seus cineastas autorais. O realizador possuía uma maneira um tanto que peculiar em transitar entre o gênero comédia com pinceladas de humor, por vezes, mórbido e bem reflexivo. "Muito Além do Jardim" (1979), por exemplo, é uma sátira de uma sociedade movida por regras do sistema capitalista enquanto o seu protagonista enxerga aquela realidade por outra perspectiva.

Antes disso, porém, ele havia lançado "Ensina-me a Viver" (1971), filme que a crítica especializada da época detestou, o público mal teve tempo de assisti-lo no cinema e ficando apenas uma semana em cartaz. Porém, logo o filme foi ganhando exibições nas cinematecas, ganhando status de cult e hoje figura em diversas listas dos melhores filmes de todos os tempos. Mas porque tanta polêmica no início?

Embora o filme tenha estreado em uma época em que o cinema americano estava totalmente livre do Código Hays, já que o mesmo havia sido extinto em 1968, a indústria ainda enfrentada uma boa parcela da sociedade bastante conservadora, da qual a mesma não via com bons olhos a relação de um jovem rapaz com uma mulher de quase oitenta anos. No meu entendimento, o filme é uma sátira com relação aristocracia norte americana, onde os mesmos acreditavam que tinham tudo, mas obtendo uma vida vazia para se dizer o mínimo. Por conta disso, não é de se estranhar ao vermos o jovem protagonista Harold, brilhantemente interpretado pelo ator Bud Cort, agir como um personagem que mais parece extraído da "A Família Addams", já que ele simula diversas formas de suicídio e provocando assim atritos dentro do seu universo familiar.

Ao encontrar Maude, interpretada pela atriz Ruth Gordon e cuja a mesma ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por "O Bebê de Rosemary" (1969), ele consegue obter através dela um outro lado da vida da qual ele não havia experimentado ainda. Maude aprecia visitar funerais, pegar carros de outros sem maior cerimônia e aproveitando os acontecimentos que ocorrem em volta. O ápice do filme é quando ambos protagonistas driblam um policial com a sua moto e cuja a conclusão se torna bastante imprevisível.

Com relação a figura do policial, por exemplo, se percebe que ele é pertencente a lei e a ordem da era Nixon, a serviço dos EUA livre, mas do qual o mesmo se encontrava preso em conflitos sem nenhum sentido.  O país na época ainda estava vivendo dentro da Guerra do Vietnã, da qual acabou se estendendo mais do que devia para o norte americano e somente provocando um número maior de mortes dos quais diversos familiares sentiram. A figura do tio militar do protagonista, por exemplo, é uma verdadeira caricatura da propaganda da era Nixon, da qual não tem como leva-la a sério e rendendo os momentos mais hilários da obra como um todo.

O interessante também é o momento que Harold anuncia para a sua mãe que irá se casar com Maude e fazendo desencadear uma reação de, ao menos, de três controladores deste sistema da época: padre, o tio do exército e o psiquiatra. Cada um desses três personagens representa uma autoridade maior, representadas pela figura presente nos quadros que se encontram atrás deles. Um é Deus, representado pelo Papa, o Estado, representado pela foto do presidente Richard Nixon, e pela ciência, no caso o psicanalista Sigmund Freud. Nenhuma das instâncias consegue entender qual o problema dele, refletindo bem o estado da juventude contestadora da época e sua relação com os pilares da civilização moderna.

Aliás, essa geração contestadora segue em frente mesmo quando ocorre algo que faz com que Harold se desespere, mas não perdendo o que havia sido ensinado para ele. Maude agia na sua forma de acordo com que havia enfrentado no passado, sendo que uma cena em que foca uma determinada numeração em seu braço sintetiza bastante esse meu pensamento. Em sua reta final, optou por enxergar o lado positivo da vida e abrindo as portas para que Harold pudesse esquecer um pouco da morte pois ainda terá bastante tempo para desfrutar e contestar a sua própria realidade.

Com uma ótima trilha sonora composta pelo artista Cat Stevens,  "Ensina-me a Viver" é um grande sobrevivente ao teste do tempo, ao contestar a realidade da época e quebrando tabus antiquados criados pelo sistema.   

 

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