Segue a programação do Clube de Cinema no próximo final de semana
SESSÃO CLUBE DE CINEMA
Local: Cine Bancários, Casa dos Bancários
Data: 19/11/2022, sábado, às 10:15 da manhã
"A Mãe"
Brasil, 2022, 80 min, 14 anos
Direção: Cristiano Burlan
Elenco: Marcelia Cartaxo, Mawusi Tulani, Helena Ignêz
Sobre o Filme:
Na reta final do filme "Tropa de Elite 2" (2010) o protagonista Capitão Nascimento (Wagner Moura) fala em alto bom som que a Policia Militar do Rio precisa acabar. Mais de dez anos após o lançamento muitas pessoas do mundo real desejam que realmente acabe, pois ela ao invés pôr em prática a paz nas periferias elas somente aumentam ainda mais a violência e morte de ambos os lados desse conflito infinito. "A Mãe" (2022) fala sobre mulheres que perderam os seus filhos sem ao menos saber o porquê e que ao mesmo tempo tentam sobreviver para continuar a lutar.
Dirigido por Cristiano Burlan, vencedor do prêmio de melhor Diretor no último festival de Gramado por esse filme, a história é sobre Maria (Marcelia Cartaxo), uma mãe solo que vive na periferia de São Paulo. Ao voltar para casa à noite ela não encontra seu filho adolescente. Depois de uma busca ininterrupta pela vizinhança, ela começa a ameaçar a tranquilidade dos traficantes locais que decidem contar que Valdo foi assassinado pela Polícia. Incrédula ela começa uma busca vertiginosa pela verdade.
Tendo crescido nas periferias de São Paulo, o cineasta Cristiano Burlan sabe o que é perder entes queridos devido a truculência vinda dos dois lados da moeda deste conflito. Tendo perdido o irmão e posteriormente a mãe, o mesmo realizou duas obras das quais ele pudesse exorcizar as suas dores interiores que foram "Mataram Meu Irmão" (2013) e "Elegia de Um Crime" (2019). Ao retomar o tema sobre a perda, ele não fala somente sobre o que ele passou, como também sobre diversas mães que não tiveram nem sequer a chance de enterrar os seus próprios filhos.
Tudo isso é representado na imagem de Maria, que se vê diante de uma situação da qual ela tenta buscar uma solução, independente de qual situação irá encontrar o seu filho, ou seja, vivo ou morto. Antes disso vemos a mesma lutar pelo seu dia a dia, desde em vender produtos Paraguaios, como também em burlar a fiscalização para não ser presa devido a isso. A protagonista, assim como as demais pessoas da periferia, não esperam por soluções vindas do governo, já que os mesmos não esperam por milagres vindo dos governantes que lançam promessas, mas das quais somente ficam na mesa.
O filme também é uma verdadeira crítica ácida sobre o sistema falido das instituições, que veem o desaparecimento do filho da protagonista somente como mais um número e não como um ser humano. Ao mesmo tempo, ela busca informações dentro da periferia onde ela mora, mas tudo que recebe é informações de pessoas com medo, ou daqueles que não desejam em hipótese alguma a entrada da polícia no local. Se tem então uma luta para ela continuar com a lucidez que ainda lhe resta.
Protagonista do clássico "A Hora da Estrela" (1985) e do recente "Pacarrete" (2020), Marcelia Cartaxo obtém aqui mais uma extraordinária atuação, da qual lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no último festival de Gramado e méritos é o que não faltam. A interprete consegue construir para a sua personagem uma pessoa que transita entre a fragilidade e uma força interior para se manter em pé mesmo quando o mundo lhe dá todos os exemplos para que ela venha a desistir. Uma personagem que nos identificamos, pois é no seu olhar que enxergamos o seu lado sofrível, porém, verdadeiro.
Ao mesmo tempo, Cristiano Burlan surpreende ao criar uma ficção, mas que transite com o mundo real através de participações especiais. Em um determinado ponto, por exemplo, vemos a protagonista conversar com a Débora Maria da Silva, fundadora do Mães de Maio, movimento formado pelas famílias das vítimas dos ‘Crimes de Maio’, onda de conflitos violentos que, em 2006, fez mais de 600 vítimas, entre assassinados e desaparecidos. Débora entra no filme como uma personagem que conversa com Maria, mas nada do que ela diz é inventado. “Uma coisa é representar essa dor, outra é estar de frente com essa mãe, com a dor dela. É ela me chamando para a luta, isso me emocionou bastante”, relembrou Marcélia durante uma entrevista pelo site AdoroCinema.
Curiosamente, o cineasta também cria momentos em que há uma transição e sem cortes de cena entre o presente e o passado. Belo exemplo disso é quando vemos a protagonista estender a sua roupa, porém, a câmera, segue para o outro lado do local e vemos a mesma sendo ajudada pelo filho em um determinado ponto do passado. Uma cena que sintetiza o fato que o passado estará sempre ali de corpo presente e fazendo com que jamais se esqueça de tempos mais alegres, mas dos quais jamais voltam.
O ápice disso se encontra no momento em que o filme vem e volta no tempo para revelar o que realmente havia acontecido com o seu filho e a revelação nos deixa impotentes perante a dura revelação. Ao final, não nos resta mais nada a dizer, a não ser de não baixarmos a cabeça perante um sistema falido, que somente coleciona corpos de uma forma tão desumana e que somente serve para aumentar a separação de classes entre as pessoas devido ao medo e que muitos nem ao menos sabem o que realmente acontece nesta realidade sofrível. "A Mãe" fala sobre muitas mães do Brasil que não tiveram nem ao menos a decência de enterrar os seus próprios filhos e fazendo com que elas lutassem por justiça e pelas demais que buscam pelo mesmo.
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