Sinopse: O jovem advogado inglês Jonathan Harker aceita um trabalho em uma vila sombria nas brumas da Transilvânia, na Romênia. Ele é capturado e aprisionado pelo vampiro Drácula, que viaja para Londres inspirado por uma fotografia da noiva de Harker, Mina Murray.
Bram Stoker havia lançado o seu livro "Drácula" em 26 de maio de 1897 e se tornando uma das obras literárias de maior sucesso de todos os tempos. O cinema, por sua vez, ganhou os seus primeiros passos oficiais dois anos antes em 28 de dezembro de 1895, quando os Irmãos Lumière fizeram uma apresentação pública dos produtos de seu invento ao qual chamaram de Cinematógrafo. O evento causou comoção nos trinta e poucos presentes, a notícia se alastrou e, em pouco tempo, este fazer artístico conquistaria o mundo e faria nascer uma indústria multibilionária.
A sétima arte e esse personagem literário se alinharam nos primeiros anos do século vinte, quando os estúdios já estabelecidos decidiram explorar o universo dos vampiros e cuja a adaptação de Drácula seria algo inevitável. "Nesferatu" (1922) de Murnau é considerado por alguns como a melhor adaptação já feita do personagem, mesmo que a própria na época não tenha sido autorizada pela viúva do escritor. Já no início dos anos trinta Hollywood fez a sua primeira adaptação sonora do conto em 1931 e estrelado por Bela Lugosi. O filme inaugurou uma longeva franquia de monstros do estúdio Universal, do qual se desgastou com a chegada dos anos cinquenta, porém, o estúdio inglês Hammer revitalizou Drácula e os demais monstros no final da mesma década.
Ouve diversas adaptações, mas quem lê o livro percebe que muitos desses filmes poucos são fieis a sua fonte original. Porém, coube a Francis Ford Coppola tirar um antigo projeto da gaveta, ao levar para o cinema a adaptação mais próxima da obra de Stoker, mas ao mesmo tempo entrelaçando com elementos do Drácula histórico, ou seja, Vlad, o Empalador. Assim nasceu "Drácula de Bram Stoker" (1992), filme que, não somente respeita a sua fonte, como também revigorou ao máximo o sangue desse grande personagem.
A trama começa no século XV, onde um líder e guerreiro dos Cárpatos renega a Igreja quando está se recusa a enterrar em solo sagrado a mulher que amava, pois ela se matou acreditando que ele estava morto. Assim, perambula através dos séculos como um morto-vivo e, ao contratar um advogado, descobre que a noiva deste a reencarnação da sua amada. Deste modo, o deixa preso com suas "noivas" e vai para a Londres da Inglaterra vitoriana, no intuito de encontrar a mulher que sempre amou através dos séculos.
Com um prólogo e epílogo especialmente criados para adaptação, o filme é sem sombra de dúvida o mais fiel em termos de comparação. Em determinados momentos, por exemplo, há personagens que estão narrando a história ou escrevendo sobre a mesma através de cartaz, sendo exatamente da maneira como escritor Stoker havia criado a sua obra literária. Além disso, Coppola aproveitou ao máximo todos os recursos antigos de se fazer cinema e criando assim um verdadeiro espetáculo visual que revisto hoje em dia não envelheceu em hipótese alguma.
Não usando os primeiros recursos digitais da época, o realizador optou em realizar o filme em grandes cenários feitos a mão, mas ao mesmo tempo usando pequenos truques de câmera que fizesse parecer algo maior do que estávamos assistindo. Bom exemplo é a cena do cocheiro de Drácula que puxa Jonathan para dentro da carruagem com a mão e sem sair do acento do veículo. A cena surpreende pelo fato de não haver cortes, mas realizada com velhos recursos e tornando ela ainda mais verossímil.
Com uma fotografia que remete os tempos do technicolor, além de uma edição de arte de encher os olhos, o filme possui um dos mais belos figurinos de todos os tempos, onde estilista japonesa Eiko Ishioka criou cores vibrantes para as roupas dos personagens, especialmente para Drácula quando tem a sua primeira grande cena como o vampiro da noite. Não é à toa que a mesma viria ganhar um Oscar pela categoria e de uma forma mais do que justa. Porém, os pontos positivos da parte técnica não param por aí.
Existe muitas cenas sobrepostas a outra, como por exemplo um diário aberto e ao fundo um trem passando com o pôr do sol iluminando o cenário. Existe diversos detalhes em cena, ao ponto que sempre quando eu revejo o filme há um ou outro detalhe que me havia passado desapercebido. Belo exemplo disso é a cena de uma sombra à espreita indo atrás de Jonathan, sendo anterior a cena em que o mesmo possui uma passagem pra lá de erótica com as noivas de Drácula.
Já a trilha sonora é outro show à parte, já que Coppola fez questão de contratar um compositor de música clássica para o projeto. O compositor polonês Wojciech Kilar foi o escolhido para realizar uma trilha que remetesse os tempos da era de ouro do cinema, fazendo com que ela nos soasse familiar, mas nos passando elementos até então inéditos para época. O resultado é uma trilha assustadora, épica e que soa a palavra Drácula nas entrelinhas.
É claro que tudo isso não funcionaria se não houvesse um grande elenco e Coppola escolheu ele a dedo. Porém, nem tudo são flores, sendo Keanu Reeves como Jonathan foi uma das piores escolhas e fazendo me perguntar até hoje o que levou o cineasta a escolher ele. Porém, Winona Ryder se sai muito bem como Mina, sendo que a sua personagem transita entre a inocência e o desejo que a sua personagem começa obter uma vez que conhece Drácula. Já a personagem Lucy foi interpretada com intensidade pela atriz Sadie Frost, cuja a mesma passa uma intensidade gritante e fazendo eu lamentar por não vela em outros filmes.
Mas o filme pertence mesmo ao interprete Gary Odlman que aqui cria um Drácula que fugiu da imagem convencional e muito mais próxima da versão literária. Mesmo tendo enfrentado uma maquiagem pesada em boa parte do projeto, Oldman se sobressaiu de todas as formas, ao criar um Drácula assustador, mas que não esconde a imensa dor que carrega ao longo dos séculos e tendo total consciência de ser alguém condenado a sugar o sangue das suas vítimas até o final dos tempos. Embora tenha tido atritos com o cineasta durante as filmagens, Oldman é um daqueles talentos em que decide criar o seu personagem da sua maneira, para que não fosse meramente esquecido ao longo da história e que servisse de exemplo para outros que tivessem coragem de interpretar o personagem logo em seguida.
Como eu disso acima, tanto a arte cinematográfica como o personagem quase nasceram juntos na mesma época. Pensando nisso, Coppola criou o que é talvez não somente uma das melhores versões do personagem, como também a forma de prestar uma homenagem de como se fazia cinema de antigamente. E se alguém dúvida disso reparem na cena onde Drácula está caminhando em Londres, sendo que o cineasta a filmou usando uma câmera comum dos tempos do cinematografo e o resultado é mais do que surpreendente.
"Drácula de Bram Stoker'" não é somente uma das melhores adaptações sobre o famoso vampiro, como também uma belíssima homenagem ao cinema em si como um todo.
Onde Assistir: DVD, Blu-Ray, Youtube, Amazon, Google Play Filmes e HBO MAX.
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2 comentários:
Minha visão do filme: o Medo ancestral do homem não sobrevive ao cinema, à luz elétrica e à psicanálise. O momento mais mágico do filme é o Conde entrando em um cinema.
Perfeita a sua visão
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