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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Cine Especial: ‘O Silêncio do Lago’ - As Duas Versões de Um Conto Macabro

Os donos de Hollywood acreditam que são proprietários da própria sétima arte, pois só assim para explicar algumas refilmagens de filmes que são pertencentes há outros países. Pegamos, por exemplo, o sucesso sueco "Deixa Ela Entrar" (2008), filme sobre uma pequena vampira que fez um tremendo barulho no mundo a fora e chamando atenção logo de imediato dos produtores norte-americanos. Não tardou para surgir "Deixe-me Entrar" (2010) que possui um ritmo diferente da obra original, muito embora a trama siga o seu curso igual até mesmo em sua reta final. Há casos que o próprio realizador da obra original se compromete em fazer uma refilmagem em língua inglesa de sua própria autoria, como foi no caso de Michael Haneke ao lançar o seu "Violência Gratuita" (1997) e sua refilmagem americana dez anos depois.

Neste último caso é preciso destacar o fato que o diretor  Haneke obteve carta branca para que a sua refilmagem fosse extremamente igual a sua obra original, sendo que a única diferença foi a troca de atores e a implantação da língua inglesa. Outro caso semelhante foi ainda mais ao extremo, quando o diretor Werner Herzog refilmou o clássico do expressionismo alemão "Nosferatu" em 1979, mas rodando a obra tanto em língua alemã como também em língua inglesa. Ou seja, os atores eram filmados falando alemão e logo em seguida atuavam na mesma cena falando em inglês.

Isso é uma prova da falta de disposição dos norte-americanos ao não assistir filmes que não são feitos em seu território, ao ponto de que a ideia de ler legendas para eles é um verdadeiro pesadelo. Ao menos, isso faz nascer em alguns casos um estudo de como uma história pode ser contada de forma semelhante, mas ao mesmo tempo obtendo diferenças distintas uma da outra de acordo com o tipo de público que irá assisti-la. "O Silêncio do Lago" de 1988 e sua refilmagem de 1993, sendo ambas de George Sluizer, é um verdadeiro retrato da forma de assistir a mesma história em duas produções realizadas pelo mesmo diretor, mas criando para a sua versão americana algo de acordo com o paladar de um público acostumado em estar sempre em sua zona de conforto.

Baseado no livro de "O Ovo de Ouro", do jornalista holandês Tim Krabbé, na trama da  produção de 1988, vemos Rex Hofman (Gene Bervoets) e a namorada Saskia Wagter (Johanna ter Steege) viajando pela França em férias. Saskia desaparece misteriosamente num posto de gasolina e a partir de então ele dedica sua vida a encontrá-la, ainda muito atormentado pelo acontecido. Anos mais tarde, após a polícia já ter encerrado o caso, Rex é abordado por Raymond Lemorne (Bernard-Pierre Donnadieu), o suposto sequestrador, que lhe faz uma intrigante proposta.

George Sluizer cria aqui um verdadeiro jogo psicológico entre os personagens desde o primeiro plano de cena, já que ele consegue nos passar uma sensação mórbida, como se os personagens não estivessem seguros em nenhum momento e mesmo nos instantes de calmaria. É preciso destacar principalmente o fato que a trama é fragmentada, onde o presente, passado e futuro são jogados na tela sem nenhuma cerimônia e fazendo com que tenhamos uma atenção redobrada ao longo da sessão. O resultado é um jogo de mistérios, do qual faz com que nos envolva e fazendo a gente se perguntar o que realmente está acontecendo e quais as motivações que movem os seus respectivos personagens principais.

É preciso salientar a estupenda atuação de Bernard-Pierre Donnadieu como o psicopata principal do longa,  sendo responsável por mover as principais peças desse xadrez. Porém, não esperem um vilão convencional, já que ele foge de qualquer regra conhecida e fazendo com que a sua figura transite em situações de humor para o mais puro terror. Portanto, a sua cena final é desde já uma das mais assustadoras da década de oitenta e impressionando pessoas de quilates como no caso do gênio Stanley Kubrick que havia adorado o filme.

Sucesso de público e crítica pelo mundo a fora, além de ter adquirido inúmeros prêmios, não demorou muito para que o filme fosse pego pelo radar de Hollywood e sendo imediatamente pego pela sua rede. Porém, o próprio diretor George Sluizer embarcou no projeto para realizar a mesma trama, porém, com algumas diferenças. Para começar, se tira uma trama fragmentada e se tem algo mais linear e para melhor compressão para o público norte americano, mesmo quando o mesmo já estava experimentando tramas fragmentadas com Tarantino no início dos anos noventa com o seu "Cães de Aluguel" (1990).

É o início dos anos noventa, época em que o ótimo "O Silêncio dos Inocentes" (1991) havia estourado nas bilheterias e fazendo com que os estúdios corressem para adquirir tramas com altas doses de violência e suspense. "O Silêncio do Lago" trazia tudo isso, mas não de acordo com a visão que os norte-americanos estavam acostumados e, portanto, temos aqui um filme cuja a edição é um pouco mais frenética, onde os personagens se encontram sempre em movimento e fazendo com que o público não pense muito, mas sim sinta uma tensão ao longo do percurso. Curiosamente, o psicopata já dá as caras na abertura e sendo brilhantemente interpretado por Jeff Bridges.

Embora seja o mesmo personagem do filme original, Bridges interpreta da sua maneira, se distanciando da personalidade mais segura e se revelando alguém um pouco mais instável principalmente na reta final da trama. Já Kiefer Sutherland e uma até então desconhecida Sandra Bullock formam um casal com uma química até melhor desenvolvida se for comparada a sua versão original. Além disso, vale destacar a segunda namorada da trama, que na versão original quase ninguém havia prestado atenção nela, mas que aqui ganha uma importância muito maior e sendo interpretada com garra pela atriz Nancy Travis.

Mas o que torna a versão original muito melhor está em seu final corajoso e do qual os norte-americanos talvez repugnassem logo de imediato. Imagino que o estúdio Fox tenha exigido do diretor um final mais otimista e que não perturbasse por demais o público e foi exatamente isso o que ele fez. O resultado é um ato final que se estende, com direito a diversas reviravoltas, tensão e um minuto final pouco inspirado, pois ele me lembrou por demais do clássico "Louca Obsessão" (1990).

As duas versões ganharam recentemente uma edição especial em DVD pela Classicline. Quem for assistir aconselho em ver primeiro a versão norte americana para só assim assistir a versão holandesa, pois o final dessa última com certeza pegará todos desprevenidos. Não que a versão americana seja algo para ser descartável, muito pelo contrário, só acho que ele é um exemplo de como os norte-americanos são presos ao fato de que a vida é tudo simplificada pelo bem e o mal, quando na verdade não é isso exatamente que define as pessoas, mas sim suas ações que falam mais do que meras palavras.

O clássico "O Silêncio do Lago" e sua versão americana são um curioso estudo sobre o lado sombrio da mente humana e que pode sim aflorar na mais insignificante e não chamativa pessoa. 

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