Sinopse: Um homem de quase 90 anos com problemas econômicos aceita trabalhar no transporte de drogas para um cartel mexicano em Illinois. Com o dinheiro fácil que consegue, ele tenta ajudar seus parentes, mas um agente da Narcóticos o acompanha.
Clint Eastwood pertence a velha guarda de um cinema conservador e do qual atualmente busca um lugar ao sol. Porém, não estou falando do extremismo geopolítico disfarçado de conservadorismo que assola não só o Brasil como outros países do mundo atual, mas sim de um conservadorismo que busca, ao menos, manter regras coerentes, dar voz para ambos os lados e não ao contrário que ocorre nestes tempos nebulosos. No seu mais novo filme "A Mula", Easwood procura dialogar com essa nova geração e cujo os seus velhos princípios se chocam com uma realidade nenhum pouco acolhedora.
No filme, Eastwood interpreta Earl, um paisagista e decorador de flores, do qual ganha muito prestigio, mas que acaba meio que ignorando a sua família ao longo dos anos. Porém, devido aos avanços tecnológicos, Earl entra em falência e acaba aceitando se tornar uma espécie de mula ao transportar drogas para um cartel mexicano em Illinois. Porém, a força tarefa, liderada pelo agente Colin (Bradley Cooper) começa a ficar em seu encalço.
Diferente da ala jovem do cinema americano atual, Clint Eastwood não se preocupa com a sua imagem em cena, pois ele retrata um Earl fragilizado, mas ao mesmo tempo disposto ao tentar buscar algum sustento para ele e a sua família. Em sua jornada pelo universo das drogas, Earl encara pessoas perigosas, como se elas saíssem de um típico filme de ação e cheio de estereótipos. O mesmo vale para a ala da justiça, da qual vemos o personagem de Cooper como alguém destemido e insubornável.
Por conta disso, Earl acaba se tornando o personagem mais humano em cena, como se sua figura fosse uma forma de desiquilibrar essa linha tênue que divide os possíveis bons e maus da trama, sendo que, talvez, no mundo real nem exista essa classificação. Enquanto os demais personagens são moldados por estereótipos, Earl é moldado pelas suas ações que definem a sua pessoa, ou seja, genuinamente humana. Isso faz com que ele se torne um dos melhores personagens da filmografia de Eastwood, já que Earl não pertence em nenhum dos dois lados, mas sim somente da realidade que ele próprio havia construído.
É por essa realidade, aliás, que Earl busca a sua redenção, mesmo sabendo que já pode ser muito tarde para poder obtê-la. Entre os seus personagens familiares, se destaca a sua ex-mulher, interpretada pela veterana Dianne Wiest e da qual não se envergonha de ainda amar alguém que sempre foi um ausente em sua vida. Não deixa de ser comovente, por exemplo, as cenas em que os grandes interpretes contracenam juntos e se tornando os melhores momentos do filme como um todo.
Porém, é preciso destacar a relação entre o mocinho e bandido, mesmo quando esses estereótipos são unicamente usados para separar essas duas pessoas que, mesmo de gerações diferentes, possuem vidas similares. Em uma cena digna de nota, a caça dá conselhos ao seu caçador, para que esse último não venha a se tornar que nem ele futuramente. Quando ambos se colidem no ápice do filme, não há vitórias e nem derrotas, mas somente pessoas comuns tendo que aceitar as consequências de suas próprias escolhas.
"A Mula" é um filme digno da filmografia de Clint Eastwood e do qual somente comprova que o seu lado conservador não se mistura com esses tempos de extremismo geopolítico.
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