Riocentro
e outras bombas contra a abertura democrática
A
partir de 20 de setembro, chega á tela do CineBancários, na sessão das
19h, o primeiro filme documentário sobre os atos terroristas do
grupo contrário à redemocratização do Brasil no início dos anos
1980, que culminaram com as bombas do Riocentro e o comprometimento
definitivo do regime militar.
Silvio
Da-Rin, autor do clássico Fênix
e
do mais recente Hércules
56,
volta a resgatar histórias do período ditatorial em Missão
115.
Desta vez, ele investiga os atentados terroristas praticados pelo
chamado "Grupo Secreto", incrustado clandestinamente no
aparelho de informação e segurança do governo militar, que se
opunha ao processo de abertura e tentava criar um clima de pânico
para justificar a continuidade do estado de exceção.
O
projeto era acalentado pelo cineasta desde o atentado frustrado do
Riocentro, em 1981, quando uma bomba explodiu acidentalmente no colo
de um sargento do Exército, deixando claro que se tratava de um ato
de terrorismo de Estado. Mas o filme só se viabilizou após a
publicação, em 2012, do livro Memórias
de uma Guerra Suja,
do ex-policial Claudio Guerra, participante direto daquele e de
muitos outros crimes da repressão. A ele se juntam outros 19
entrevistados, entre jornalistas, políticos, historiadores,
advogados e cientistas sociais, para analisar o quadro da época e
discutir seus reflexos nas décadas seguintes.
Outro
fator decisivo para o projeto do filme foi a publicação do
Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade, em dezembro de
2014. Entre os documentos então revelados constava um detalhamento
minucioso do planejamento do atentado do Riocentro e a indicação
nominal de todos os envolvidos, incluindo agentes do I Exército, da
Polícia Civil e do SNI.
A
recente divulgação de documentos da CIA, que indicam o envolvimento
direto do Governo Geisel na eliminação física de opositores do
regime, reforçam a atualidade do assunto. Missão
115
ocupa-se
também do debate sobre as virtudes e limitações da Lei da Anistia.
A impunidade dos responsáveis pela tortura e morte de pessoas –
ativistas ou não – é uma questão irresolvida na memória do
país.
Missão
115
soma
às muitas reflexões sobre o momento de complexidade e muita
perplexidade política que o país atravessa em 2018.
SINOPSE
Partindo
do atentado frustrado ao show do Primeiro de Maio de 1981 no
Riocentro, Missão
115
aborda
o momento político da abertura, os atos terroristas do grupo
contrário à democratização e as consequências de sua impunidade,
que até hoje dificultam a plenitude de um Estado Democrático de
Direito. A narrativa do documentário está apoiada em entrevistas
com personalidades atuantes no período, usando ainda imagens de
época e curtas sequências encenadas do trabalho de um terrorista. O
diretor, que foi preso político nos anos 1960, participa da abertura
e encerramento do filme.
OPINIÕES
"O
principal acerto do diretor carioca é tomar como fio condutor os
depoimentos de Claudio Guerra, que espantam pela clareza" –
Naief Haddad, Folha de S. Paulo
"Missão
115
é
filme urgente e necessário" – Matheus Mans, Esquina da
Cultura
"(Silvio
Da-Rin) deixa patente sua habilidade em dissecar a História pela
boca de quem a conhece tanto ou mais que ele." – Carlos
Alberto Mattos, Carta Maior
"Missão
115 vem
juntar-se a uma leva de documentários estarrecedores que falam das
mazelas, da injustiça, violência, sadismo e absurdo que foi a
ditadura militar no Brasil." – Beth Ferreira, Bitsmag
O
CONTEXTO
Em
1981, o Brasil vivia o governo Figueiredo, o último do ciclo militar
inaugurado com o golpe de 1964. Seu objetivo estratégico declarado
era a “abertura lenta, gradual e segura”, arquitetada pelo então
chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva, que colocaria
o país de volta nos trilhos da democracia. Mas um grupo numeroso de
oficiais servidores do aparelho de informação e segurança,
temeroso de perder seus empregos e regalias, dedicava-se a sabotar a
abertura.
O
chamado "Grupo Secreto" fez explodir 46 bombas em menos de
um ano e meio, em atentados com vítimas fatais e que até hoje
permanecem impunes. Um dia trágico dessa série de atentados foi 28
de agosto de 1980, primeiro aniversário da Lei da Anistia. Naquela
data, diversas bombas explodiram em diferentes capitais brasileiras.
As mais sangrentas foram aquela que tirou a vida de D. Lyda Monteiro
da Silva, secretária do presidente da seção carioca da OAB; e a
que mutilou o assessor parlamentar José Ribamar Freitas, na Câmara
dos Vereadores do Rio de Janeiro. Vale citar ainda o atentado ao
jornal Tribuna da Imprensa, em 1981, e as diversas bombas colocadas
em bancas de jornais.
Missão
115
era
o nome atribuído pelo DOI-CODI a uma suposta operação de
“vigilância” durante o show musical pelo Primeiro de Maio de
1981, no centro de convenções Riocentro. Na verdade, tratava-se de
mais um ato terrorista do grupo contrário à redemocratização do
Brasil. A bomba destinada a explodir no palco, onde astros da MPB se
apresentavam para cerca de 18 mil pessoas, acabou sendo
acidentalmente detonada no colo de um sargento do Exército, ainda no
estacionamento. A intenção de seus perpetradores era atribuir a
tragédia a grupos de esquerda e assim justificar o acirramento do
regime.
Missão
115
é
também o título do documentário que expõe os vícios de origem do
processo de abertura, controlado pelos militares, que impuseram
condicionamentos ao processo de redemocratização do país.
A
hesitação de Figueiredo em apurar e punir aquele ciclo de atentados
terroristas, cometidos pelos que eram supostamente encarregados de
combater a “subversão e o terrorismo”, colocou seu governo em
uma crise que levou Golbery a entregar seu cargo, deixando acéfalo o
projeto de abertura democrática.
Missão
115
reconstitui
o atentado e seus bastidores, mas também investiga as pactuações
promovidas entre 1978 e 1985, e coloca em discussão a Lei da Anistia
e o papel desempenhado pela Comissão Nacional da Verdade, com as
sucessivas tentativas de apuração há mais de duas décadas.
Diversas
reportagens abordaram o atentado, mas esse é o primeiro filme
documentário sobre o Riocentro e o terrorismo de direita da época.
Pela primeira vez, um dos membros da equipe de terroristas, o ex
policial Claudio Guerra, conta em detalhes como a operação foi
planejada e executada. Os trabalhos recentes da Comissão Nacional da
Verdade também jogam uma luz nova sobre o episódio. Já as recentes
revelações sobre o engajamento do próprio governo Geisel na
eliminação física de opositores do regime reabrem as discussões
sobre o assunto e o tornam ainda mais atual.
Vinte
personalidades entrevistadas (historiadores, jornalistas e
testemunhas) contribuem para rememorar e interpretar os fatos
abordados. Materiais de época, com tratamento videográfico que
sublinha os aspectos mais relevantes, transportam o espectador para
aquele período crucial de nossa história recente.
O
diretor Silvio Da-Rin, que foi preso político nos anos 1960 e 70,
participa das sequências de abertura e encerramento do documentário,
visitando dois locais emblemáticos para a narrativa: o quartel da
antiga Polícia do Exército na Vila Militar e o Riocentro. Outro
dispositivo a pontuar o filme é a série de microssequências que,
com detalhada direção de arte, reconstituem afazeres de um
terrorista na preparação de bombas, endereçamento de carta-bomba,
queima de documentos e outras atividades que contribuem para o
adensamento da atmosfera dramática do documentário.
ALGUMAS
PERGUNTAS COLOCADAS PELO FILME
Qual
o papel da Lei da Anistia no Brasil atual?
Onde
estão os documentos dos órgãos de segurança do regime militar?
A
Comissão da Verdade representou um avanço na busca pela Justiça?
O
que teria acontecido se a bomba que matou o sargento Rosário tivesse
explodido no palco do show do Riocentro?
Até
que ponto aqueles atentados eram mesmo encetados por um grupo de
exceção ou seriam uma prática dissimulada do próprio governo?
NOTAS
DO DIRETOR
O
projeto
"Quando
vi pela primeira vez as imagens do que restou do Puma depois da
explosão da bomba no colo do sargento Rosário, no dia seguinte ao
atentado do Riocentro, imediatamente me dei conta de que eram muitas
as implicações daquele atentado e havia ali um tema a ser
desenvolvido para um documentário. Durante mais de três décadas
fui reunindo em uma pasta o que era publicado na imprensa sobre o
atentado no Riocentro: sua imediata repercussão, as sucessivas
tentativas de apuração ao longo dos anos e as conexões com outros
eventos da história política brasileira das últimas décadas."
O
título
"O
próprio DOI-CODI denominou "Missão 115" aquela suposta
“ação de vigilância” de um espetáculo. Desde logo Missão
115
me
pareceu um bom título: curto e intrigante, sem ser auto-explicativo.
Como de resto, os títulos de todos os documentários que realizei.
Títulos devem ser instigantes. Devem manter relação com o tema da
obra, mas não precisam revelar seu conteúdo. O melhor é que sejam
sugestivos e estimulem a decifração."
O
personagem
"O
fator decisivo para viabilizar os trabalhos de pesquisa e preparação
do documentário foi a publicação, em 2012, do livro Memórias
de uma Guerra Suja,
contendo a entrevista a uma dupla de jornalistas do ex-policial do
DOPS capixaba Claudio Guerra. Convertido à religião evangélica e
pastor, no livro Guerra assumia ter integrado uma das cinco equipes
de agentes que haviam participado do atentado no Riocentro. Conta
detalhes da operação e revela quem a planejou e comandou. Em
2014 o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra seis
sobreviventes do atentado. O civil Claudio Guerra e cinco militares a
serviço do SNI e do I Exército. Materiais jornalísticos sobre o
atentado mostravam claramente o compromisso de todos eles com o
sigilo absoluto sobre o crime. Com exceção de Claudio Guerra, que
já começava a fazer revelações. Ele tornou-se então o principal
entrevistado de Missão
115."
As
provas
"
Nossa pesquisa foi enriquecida com a divulgação do Relatório Final
da Comissão Nacional da Verdade, em dezembro de 2014. Entre os
documentos analisados, destacam-se os papéis achados na casa do
coronel Julio Molinas Dias, que havia sido comandante do DOI-CODI na
época em que explodiram as bombas no pátio do Riocentro. Parte
crucial daquela documentação é o minucioso registro, hora a hora,
feito por Molinas dos fatos ocorridos na noite do dia 30 de abril, na
madrugada de 1º de Maio e nos dias subsequentes. São citados nomes
e codinomes dos envolvidos, agentes do I Exército, da Polícia Civil
e do SNI. Os documentos evidenciam o envolvimento de toda a cadeia de
comando da operação, incluindo o general Gentil Marcondes,
comandante do I Exército, e o general Newton Cruz, chefe da Agência
Central do Serviço Nacional de Informações – SNI, com sede no
mesmo andar do gabinete do presidente da República, no Palácio do
Planalto."
A
estrutura
"Depois
de tentar dois tratamentos diferentes para o roteiro, elaborei
juntamente com o corroteirista Bernardo Florin um tratamento que
intercalava entrevistas, materiais jornalísticos e uma série de
encenações do trabalho de um terrorista anônimo, fabricando
bombas, planejando atentados, desenhando panfletos e queimando
documentos sigilosos. Esse dispositivo visava envolver o espectador
na atmosfera do mundo clandestino do terrorismo de Estado. Nunca
vemos o rosto do personagem, somente suas ações.
Uma
das principais características do terceiro e último tratamento de
roteiro foi a divisão da narrativa em três blocos. No primeiro
apresentamos um sujeito coletivo, o “grupo secreto”, reunião de
policiais civis e agentes militares que conspiraram contra a abertura
democrática e partiram para o terrorismo. O segundo, “O desastre”,
mostra a explosão prematura da bomba que matou um sargento do
Exército, abortando o plano terrorista preparado para o espetáculo
que reunia quase 20 mil pessoas no pavilhão do Riocentro. Esse bloco
mostra a construção da versão farsesca apresentada pelo I Exército
e seu unânime repúdio pela imprensa e por instituições da
sociedade brasileira. Por fim, o terceiro ato – “A
impunidade”, aborda o significado atual da Lei da Anistia, o
hipotético desaparecimento dos documentos dos órgãos de informação
da ditadura e os trabalhos das comissões nacional e estaduais da
Verdade."
As
imagens do show
"Um
dos achados de nossa pesquisa foi a gravação integral, pela Rede
Bandeirantes, do espetáculo musical promovido no Riocentro pelo
Centro Brasil Democrático, o Cebrade, presidido por Oscar Niemeyer.
Chico Buarque e Fernando Peixoto haviam sido os diretores
artísticos do evento, que reuniu cantores do quilate de Clara Nunes,
Gal Costa, João Nogueira, Cauby Peixoto, Simone, Gonzaguinha e seu
pai Luiz Gonzaga, o homenageado da noite. Adquirimos os direitos para
uso de imagens desses quatro últimos, o que dá ao espectador uma
noção da atmosfera vibrante do show e da dimensão da tragédia que
teria ocorrido caso as bombas tivessem explodido dentro do pavilhão,
que tinha suas portas de emergência trancadas e as equipes de
segurança e atendimento médico de emergência desmobilizadas por
ordem do coronel Newton Cerqueira, comandante da PM do Rio de
Janeiro."
A
atualidade
"
Sempre acreditei que documentários sobre temas históricos cumprem
melhor seus objetivos quando não se limitam a reconstituir eventos
passados, mas procuram lançar luz sobre o momento presente e o
futuro da sociedade. Nos últimos meses me parece ter aumentado a
atualidade do terceiro bloco de Missão
115.
A Procuradoria Geral da República caminha no sentido de uma
releitura da Lei da Anistia e começa a admitir a apuração de
crimes contra a Humanidade. Documentos da CIA recentemente trazidos a
público mostram que os generais Geisel e Figueiredo eram cientes das
torturas e do assassinato de inimigos do regime militar, mesmo
aqueles que militavam em organizações que não defendiam a luta
armada. Torna-se cada dia mais inverossímil a tese de que
prontuários e outros documentos dos órgãos de segurança e
informação da ditadura foram descartados – isso não se coaduna
com os princípios e o modus
operandi
daquele
tipo de organismo, que tem a informação como sua principal
matéria-prima e razão de ser. Cópias daqueles documentos
continuarão saindo da sombra e trarão importantes revelações
sobre os anos de chumbo. Por outro lado, as recomendações da
Comissão Nacional da Verdade continuarão a ser examinadas por
pesquisadores e forças políticas da sociedade brasileira."
SOBRE
O DIRETOR
Silvio
Da-Rin dirigiu cerca de 20 filmes e vídeos, vários deles premiados
em festivais brasileiros e internacionais, como os longas-metragens
Paralelo
10
e
Hércules
56,
os médias Igreja
da Libertação, Nossa América,
os curtas Príncipe
do Fogo, Fênix,
e os programas Brasil
anos 60
e
Brasil
anos 80,
exibidos pela antiga TV Educativa. Gravou o som de mais de 150
filmes. Ministrou cursos e oficinas nas áreas de som para ficção e
documentário. Em 2004, publicou o livro Espelho
Partido: Tradição e Transformação do Documentário,
versão revista de sua dissertação de mestrado em Comunicação e
Teoria da Cultura, na UFRJ. Entre outubro de 2007 e maio de 2010 foi
Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura. Em seguida, e
até março de 2012, exerceu o cargo de Gerente Executivo de
Articulação Internacional e Licenciamento da EBC/TV Brasil.
Finalizou há pouco um novo longa-metragem, Mamirauá,
documentário sobre a população de uma reserva de desenvolvimento
sustentável na calha do Rio Solimões, no Amazonas.
FICHA
TÉCNICA
Brasil,
2018, 87 minutos
Diretor:
Silvio Da-Rin
Produtora
executiva: Martha Ferraris e Thais Mello
Roteirista:
Bernardo Florin e Silvio Da-Rin
Diretor
de fotografia: Antonio Luiz Mendes
Som
direto: Altyr Pereira
Direção
de arte: Emily Pirmez
Montagem:
Célia Freitas
Música:
Fernando Moura
Edição
de som: Marcito Vianna
Design
gráfico: Marcellus Schnell
Entrevistados:
Angélica Muller, Antônio do Passo Cabral, Belisa Ribeiro, Carlos
Fico, Chico Otavio, Claudio Antônio Guerra, Daniel Aarão Reis,
Eduardo Seabra Fagundes, Francisco Teixeira, Hélio Fernandes, Ivan
Cavalcanti Proença, João Camillo Penna, Leonel Rocha, Lucas
Figueiredo, Luiz Werneck Vianna, Magno Braz Moreira, Mauro Pimentel,
Olga Carvalho, Rosa Cardoso, Wadih Damous.
Classificação
Indicativa: 12 anos
GRADE DE HORÁRIOS:
Não abrimos nas segundas-feiras
Dia 20 de setembro:
15h: Camocim
17h: Ferrugem
19h: Missão 115
Dia 21 de setembro:
15h: Camocim
17h: Ferrugem
19h: Missão 115
Dia 22 de setembro:
15h: Camocim
17h: Ferrugem
19h: Missão 115
Dia 23 de setembro:
15h: Camocim
17h: Ferrugem
19h: Missão 115
Dia 25 de setembro:
15h: Camocim
17h: Ferrugem
19h: Missão 115
Dia 26 de setembro:
15h: Camocim
17h: Ferrugem
19h: Missão 115
Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 12,00 na bilheteria do cinema ou no
site ingresso.com . Idosos, estudantes, bancários sindicalizados, jornalistas
sindicalizados, portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 6,00.
Aceitamos Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.
C i n e B a n c á r i o s
Rua General Câmara, 424, Centro
Porto Alegre - RS - CEP 90010-230
Fone: (51) 34331204
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