Sinopse: Chela (Ana Brun) e Chiquita (Marrgarita Irún),
herdeiras de uma família abastada no Paraguai, vivem confortavelmente há 30
anos. Porém, ao chegar na terceira idade, percebem que o dinheiro não é mais
suficiente e começam a vender seus bens. Quando suas dívidas chegam ao ponto da
Chiquita ser presa por cobranças fraudulentas, Chela começa a providenciar um
serviço local de táxi para um grupo de senhoras ricas. Enquanto Chela se
acostuma com a nova realidade, ela conhece a jovem Angy (Ana Ivanova) e juntas
embarcam em uma transformação pessoal.
Enquanto no cinema dos EUA ainda se acredita que os
filmes protagonizados por mulheres ainda se necessita de um rosto jovem, os
demais cinemas de outros países, por sua vez, comprovam que o papel da mulher
da terceira idade pode render sim bons frutos cinematográficos. Filmes como, por
exemplo, o brasileiro Aquarius, o
chileno Glória, além do francês Ellen, comprovam que os dilemas vividos por uma
mulher de terceira idade perante ao complexo mundo contemporâneo pode render
debates acalorados e dos quais não devem a nenhum filme protagonizado por jovens
atrizes que possuem, por vezes, só um rosto bonito. As Herdeiras se destaca na questão
da mulher de terceira idade em saber domar as adversidades complexas do mundo
de hoje e obter sua independência nas escolhas que almeja.
Dirigido pelo estreante Marcelo
Martinesse, o filme tem como protagonista Chela (Ana Brun)
que assiste, com sua companheira de longa data Chiquita (Margarita Irún), a
dilapidação da sua herança, uma vez que a venda dos bens é a única fonte de
renda de ambas. Após a prisão de Chiquita por problemas fiscais, Chela,
acostumada a ser servida e cuidada, precisa passar por um processo de
reinvenção e redescoberta de si mesma, ante à ausência de sua companheira e aos
problemas financeiros que enfrentam. Quebrando a postura passiva delineada no
início do filme, passa a prestar serviço de motoristas para vizinhas e amigas,
atividade que a coloca em movimento e em contato com outras mulheres, dentre
elas Angy (Ana Ivanova), por quem desenvolve uma relação marcada por
curiosidade, deslumbre e desejo.
Embora aparente ser uma trama simples, o filme ganha a sua complexidade graças as reações de sua protagonista
principal, onde ela encara as mudanças que surgem a partir da prisão de sua
parceira, o surgimento de uma decadência financeira e o nascimento pelo desejo
em experimentar coisas novas. O filme trata, assim, de pequenos dramas pessoais,
dos quais as pessoas facilmente se identificam na tela, pois ela é contada de
uma forma realista e, principalmente, de uma forma intimista e agradável ao ser
assistida.
Com uma presença forte
do começo ao fim, a atriz Ana
Brun (premiada no Festival de Berlim por esta atuação) cumpre com louvor a
difícil missão de construir esta personagem introspectiva através de grandes
silêncios e olhares expressivos, porém, profundos e cheios de sentimentos.
Assim como eu destaquei no início do texto, o filme quebra o preconceito contra
o protagonismo da terceira idade, além de tratar da questão
homossexual com naturalidade e respeito. Retratadas, quase sempre e quando muito (afinal,
o cinema americano costuma apagar mulheres protagonistas depois dos 40 anos de
idade), como figuras frágeis e sem
perspectiva, as mulheres destes filmes são mais do que mães, esposas e avós:
são indivíduos com desejos, erros, sexualidade plena e complexidade emocional.
Com um final
em aberto, porém, cheio de significado, As
Herdeiras é o retrato da mulher da
terceira idade de tempos atuais, onde cada vez mais deseja abraçar os seus
desejos que antes nunca haviam sido alcançados.
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