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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Infiltrado na Klan



Sinopse: Em 1978, Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo por meio de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.
Na “era Bush” foi fácil para Spike Lee fazer ótimos filmes, já que foram tempos em que o preconceito aflorava através do típico “cidadão do bem”, principalmente devido os eventos do “11 de Setembro de 2001”. É então que o cineasta lançou títulos como A Última Noite (2003) e O Plano Perfeito (2005), sendo obras em que o preconceito era revelado, não de uma forma explícita, mas sim sempre surgindo onde menos se esperava. Eis que, então, veio a “era Obama” onde o sonho da união de todos os americanos, independente de raça ou crença, pudesse ser, enfim, concretizado.
O que não significava um mar de rosas para alguém que gosta de expressar a sua opinião forte, mas que sempre dependeu das engrenagens da sétima arte. Num tempo em que um homem negro trabalhava no cargo político mais importante do mundo, Spike Lee meio que relaxou e fazendo a gente se perguntar como teve a coragem de cair de cabeça em projetos dispensáveis como, por exemplo, a refilmagem americana de Old Boy. Contudo, infelizmente, voltamos para os tempos retrógrados, onde na “era Trump’ os discursos de ódio voltam aflorar no povo americano, mas fazendo também com que Spike Lee lançasse Infiltrado na Klan e se tornando, talvez, a sua melhor obra depois de muitos anos.
Baseado em fatos verídicos, a trama se passa no ano de 1978, onde vemos Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguir se infiltrar na Ku Klux Klan da época. Esse grande feito só foi obtido através de telefonemas e cartas, mas quando precisava estar fisicamente presente enviava um policial branco chamado Flip (Adan Drive dos recentes capítulos de Star Wars) no seu lugar. Depois de algum tempo de investigação, Ron se tornou um dos líderes da seita, ao ponto de ir longe e impedir os membros em praticar certas atrocidades.
Aqui, Spike Lee não se intimida em começar já alfinetando a mão que o alimenta, ou seja, o próprio cinema. Nos primeiros minutos, por exemplo, testemunhamos uma cena clássica do filme E o Vento Levou (1939), onde mostra as consequências da Guerra Civil Americana. Embora seja um dos filmes mais importantes de todos os tempos, Spike Lee cobra neste momento da sétima arte, além de seus realizadores, os anos em que a própria retratou de forma errônea nas telas, tanto o povo negro, como também os índios que sempre foram vistos como selvagens e não donos de suas próprias terras.
Ao mesmo tempo, o cineasta aproveita para fazer uma belíssima reconstituição de época com relação aos últimos anos da década de 70, onde a sua fotografia e edição de arte remetem aos bons tempos dos filmes policiais barra pesada de antigamente.  Aliás, é óbvio que se veja na tela uma conexão direta com o subgênero blackexpoitation, filmes protagonizados por atores negros e que marcou aquele período. Ron Stallworth, por exemplo, não deve em nada ao clássico personagem policial Shaft e fazendo com que a gente desejasse revê-lo numa futura nova missão investigativa.
Contudo, o seu companheiro Flip não fica muito atrás com relação em obter a nossa atenção e muito se deve ao ótimo desempenho de Adam Drive em cena. Sendo judeu, Flip conhece de perto o horror vindo do preconceito, mas não se intimidando nesta missão suicida e pelo seu olhar já imaginamos muitas histórias que ele poderia vir a nos contar. Não me surpreenderia, portanto, se Adam Drive venha estar entre os possíveis indicados ao Oscar de melhor ator coadjuvante no ano que vem.
Transitando de forma sublime entre o humor sombrio e momentos de pura tensão, o ato final nos reserva uma verdadeira montanha russa, cujas consequências podem se tornar irreversíveis para os seus respectivos personagens. É aí que Spike Lee aproveita para discursar através dos seus personagens contra o racismo, onde testemunhamos um velho veterano falar sobre os tempos de perseguição e se intercalando com cenas onde ocorre um ritual do Ku Klux Klan. É aí que surge em cena o filme Nascimento de Uma Nação (1915) de D. W. Griffith, sendo que, embora seja o primeiro grande clássico do cinema norte americano, o filme veio a se tornar errôneo para os olhares de muitos ao longo do tempo.
Curiosamente, Spike Lee nos prega uma surpresa extra nos minutos finais em seu epílogo. Quando parecia que o filme terminaria de uma forma convencional, eis que ele joga os seus respectivos personagens, além de nós que assiste, para testemunharmos os horrores causados pelo racismo de ontem e hoje. Aliás, a forma que ele obtém esse feito fez me lembrar do filme em animação francesa Waltz with Bashir (2009), onde em seu derradeiro final descobrimos os motivos que levaram o protagonista a não conseguir se lembrar mais dos horrores que veio a testemunhar numa guerra sem sentido.
Em tempos cada vez mais retrógrados, tanto nos EUA como vistos aqui no Brasil, Spike Lee lança Infiltrado na Klan para nos dizer que os monstros do passado ressuscitaram através de discursos inflamados e politicamente incorretos. Depois de muito tempo, Spike Lee fez a coisa certa e em boa hora. 

  

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2 comentários:

Unknown disse...

É um filme bom e muito interessante, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Adam Driver neste filme. O elenco deste filme é ótimo, eu amo tudo onde Adam Driver aparece, o ultimo que eu vi foi em um filme bom de comedia chamado Lucky Logan Roubo em Família, adorei esse filme! De todos os filmes que estrearam, este foi o meu preferido, eu recomendo, é uma historia boa que nos mantêm presos no sofá. É espetacular. Pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende, tenho certeza que vai gostar, é uma boa história. Definitivamente recomendado.

Marcelo Castro Moraes disse...

Que bom que gostou Alondra. Continue acompanhando o cinema cem anos de luz