Sinopse: A história
de cinco gerações de uma mesma família circense, da inauguração do Grande Circo
Místico em 1910 aos dias de hoje. Celavi, o mestre de cerimônias que nunca
envelhece, mostra as aventuras e os amores dos Knieps, do apogeu à decadência.
“O tempo destrói tudo”.
Essa frase é citada no filme francês Irreversível de Gaspar Noé, mas que pode
ser muito bem reaproveitada por outros filmes, onde se vê o retrato do auge e a
decadência de alguém, ou até mesmo de algum lugar. O Grande Circo Místico segue
essas duas linhas de pensamento, onde retrata o auge, queda, mas também uma possível
redenção de uma família circense que tenta manter durante um século o seu grande
show no meio do picadeiro.
Dirigido por Cacá
Diegues (Bye Bye Brasil), e baseado no conto Balé de 1982 de Jorge de Lima, o
filme acompanha a história de cinco gerações de uma família circense, da qual o
seu circo teve grande inauguração no ano de 1910. Ao longo das décadas acompanhamos
o auge e a decadências desses artistas enquanto o mundo vai mudando
rapidamente. Em meio aos conflitos familiares, Celavi (Jesuíta Barbosa) é o
mestre de cerimônia, além de ser observador de tudo que acontece naquele
universo familiar.
O Grande Circo Místico
é aquele típico filme que pode muito bem ser mal avaliado num primeiro momento,
já que a sua trama se divide entre a fantasia farsante para um realismo, por
vezes, cru e do qual nem sempre essa união trás bons frutos. Contudo, a trama
nos encanta já em sua apresentação, onde a fotografia com suas cores berrantes,
além de uma edição de arte caprichada, conquistam a nossa atenção de forma
imediata. Aliás, é preciso ser cego para não se encantar com a presença sempre fortíssima
da atriz Bruna Linzmeyer que, como sempre, nos conquista com a sua beleza,
talento e se misturando com as cores quentes daquele cenário.
Porém, aos poucos, as
luzes e cores vão dando lugar a uma fotografia pálida, suja e representando os
ventos da mudança. Embora vamos conhecendo personagens que nascem e morrem ao
longo dos cem anos desse circo, Celavi é o único que não envelhece e ganhando certo
estranhamento para aqueles que assistem. Em minha opinião Celavi seria representação da
alma daquele universo circense e se casando perfeitamente com aquela velha
frase “o show precisa continuar”.
Curiosamente, embora quase
nunca seja destacada explicitamente, a história do Brasil é representada
através da história que aquela família passa. Nascendo nos primeiros anos da democracia,
o circo vai mudando conforme o que o país vai passando, de valorizar pelo que é
seu, mas sendo substituída pela ideia de vender as suas posses pela melhor
proposta que for lançada. Se isso é sentido na geração comandada pelo
ganancioso Jean Paul (Vincent Cassel), isso vai aos limites da tolerância em
sua reta final da história.
Mas antes do
derradeiro final, a geração comandada por Margarete (Mariana Ximenes, ótima),
passa pelos tempos em que as cores e a magia cultural brasileira vai dando
lugar às doutrinações, censuras tanto elas vindas de uma política golpista, como
também da própria igreja. Margarete seria uma representação de um povo moldado
por essas regras, da qual não consegue se desvencilhar: a cena em que ela passa
por um momento traumático, para logo depois se revelar quem ela é através da
imagem do seu corpo, sintetiza muito bem esse pensamento.
Em sua reta final, vemos
um circo acabado, desolado e perdendo os seus bens mais preciosos. Seria, no
meu entendimento, um Brasil sendo vendido a preço de banana para os estrangeiros
e lhe restando somente um sonho do que poderia um dia ter se tornado. Os
minutos finais com certeza muitos irão reprová-lo por não saberem compreender
num primeiro momento, mas vejo ali um país nu, que vende o que tem, mas tendo
ainda a esperança de resgatar o que já foi um dia. Com trilha sonora de
Chico Buarque e Edu Lobo, incluindo canções belíssimas como “Beatriz” e
“Ciranda da Bailarina”, O Grande Circo Místico é a representação de tempos mais
dourados para degradação de um país sendo devorado pelo próprio capitalismo.
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