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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: O Grande Circo Místico



Sinopse: A história de cinco gerações de uma mesma família circense, da inauguração do Grande Circo Místico em 1910 aos dias de hoje. Celavi, o mestre de cerimônias que nunca envelhece, mostra as aventuras e os amores dos Knieps, do apogeu à decadência.



“O tempo destrói tudo”. Essa frase é citada no filme francês Irreversível de Gaspar Noé, mas que pode ser muito bem reaproveitada por outros filmes, onde se vê o retrato do auge e a decadência de alguém, ou até mesmo de algum lugar. O Grande Circo Místico segue essas duas linhas de pensamento, onde retrata o auge, queda, mas também uma possível redenção de uma família circense que tenta manter durante um século o seu grande show no meio do picadeiro.
Dirigido por Cacá Diegues (Bye Bye Brasil), e baseado no conto Balé de 1982 de Jorge de Lima, o filme acompanha a história de cinco gerações de uma família circense, da qual o seu circo teve grande inauguração no ano de 1910. Ao longo das décadas acompanhamos o auge e a decadências desses artistas enquanto o mundo vai mudando rapidamente. Em meio aos conflitos familiares, Celavi (Jesuíta Barbosa) é o mestre de cerimônia, além de ser observador de tudo que acontece naquele universo familiar. 
O Grande Circo Místico é aquele típico filme que pode muito bem ser mal avaliado num primeiro momento, já que a sua trama se divide entre a fantasia farsante para um realismo, por vezes, cru e do qual nem sempre essa união trás bons frutos. Contudo, a trama nos encanta já em sua apresentação, onde a fotografia com suas cores berrantes, além de uma edição de arte caprichada, conquistam a nossa atenção de forma imediata. Aliás, é preciso ser cego para não se encantar com a presença sempre fortíssima da atriz Bruna Linzmeyer que, como sempre, nos conquista com a sua beleza, talento e se misturando com as cores quentes daquele cenário.
Porém, aos poucos, as luzes e cores vão dando lugar a uma fotografia pálida, suja e representando os ventos da mudança. Embora vamos conhecendo personagens que nascem e morrem ao longo dos cem anos desse circo, Celavi é o único que não envelhece e ganhando certo estranhamento para aqueles que assistem. Em minha opinião Celavi seria representação da alma daquele universo circense e se casando perfeitamente com aquela velha frase “o show precisa continuar”.
Curiosamente, embora quase nunca seja destacada explicitamente, a história do Brasil é representada através da história que aquela família passa. Nascendo nos primeiros anos da democracia, o circo vai mudando conforme o que o país vai passando, de valorizar pelo que é seu, mas sendo substituída pela ideia de vender as suas posses pela melhor proposta que for lançada. Se isso é sentido na geração comandada pelo ganancioso Jean Paul (Vincent Cassel), isso vai aos limites da tolerância em sua reta final da história.
Mas antes do derradeiro final, a geração comandada por Margarete (Mariana Ximenes, ótima), passa pelos tempos em que as cores e a magia cultural brasileira vai dando lugar às doutrinações, censuras tanto elas vindas de uma política golpista, como também da própria igreja. Margarete seria uma representação de um povo moldado por essas regras, da qual não consegue se desvencilhar: a cena em que ela passa por um momento traumático, para logo depois se revelar quem ela é através da imagem do seu corpo, sintetiza muito bem esse pensamento.
Em sua reta final, vemos um circo acabado, desolado e perdendo os seus bens mais preciosos. Seria, no meu entendimento, um Brasil sendo vendido a preço de banana para os estrangeiros e lhe restando somente um sonho do que poderia um dia ter se tornado. Os minutos finais com certeza muitos irão reprová-lo por não saberem compreender num primeiro momento, mas vejo ali um país nu, que vende o que tem, mas tendo ainda a esperança de resgatar o que já foi um dia. Com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo, incluindo canções belíssimas como “Beatriz” e “Ciranda da Bailarina”, O Grande Circo Místico é a representação de tempos mais dourados para degradação de um país sendo devorado pelo próprio capitalismo. 

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