NOTA: o filme foi exibido nesse último domingo (11/11/18) às 16h no Cine Iberê Sinopse: Um artista
sem nome é transportado através de um espelho para outra dimensão, onde ele
viaja através de diversos cenários bizarros. História contada em quatro
episódios.
Nas décadas de 20 e
30, ao menos no meu ponto de vista, havia uma procura para se fazer uma analise
sobre os significados dos sonhos e do subconsciente ainda obscuro para os
analistas daquele tempo. A área cultural, tanto do cinema como também literatura, serviram
como plataforma para desvendar, mesmo que em parte, o submundo escondido em
nossas mentes e o que elas podem significar para as demais pessoas que forem
testemunhar. Luis Bunuel, por exemplo, fez um ensaio surpreendente em Cão
Andaluz (1929) que, ao lado de Salvador Dali, elaborou um dos primeiros filmes a
sintetizar o universo dos sonhos numa tela de cinema.
Não demorou muito
para que outros cineastas daquele tempo viessem abraçar a proposta de elaborar
longas metragens cujas suas imagens surrealistas falam mais por si só do que
uma trama convencional vista em outros filmes. Mas antes de tudo isso, por
exemplo, George Melies havia surpreendido com os seus primeiros “curtas
metragens” e tendo se tornado um dos primeiros cineastas a elaborar tramas que
explorassem diversas histórias do gênero fantástico através de recursos cinematográficos que se tinham em mãos naquele tempo.
No meu entendimento, Jean Cocteau usou essas mesmas ferramentas cinematográficas
já praticadas por outros cineastas como George Melies, mas criando em O Sangue
de um Poeta (1930) uma experiência sensorial poucas vezes vistas no cinema naquela época.
Dividida em quatro
segmentos, a trama gira em torno de um artista, do qual é levado a outras realidades
através da criação de suas artes, desde as pinturas como também na
criação de suas estátuas. Curiosamente, o filme possui passagens em que não há
palavras, mas que, ao mesmo tempo, existe gradualmente a participação delas e vindas,
tanto do próprio protagonista, como também do narrador (o próprio cineasta) que
conta história. A partir do momento que o artista embarca nessa viagem surrealista
cada um tem a sua interpretação sobre o que testemunha na tela.
Embora tenha feito me
lembrar tanto de outras obras cinematográficas, como o já citado Cão Andaluz,
como também de obras literárias como Alice Através do Espelho, Jean Cocteau criou
um surpreende filme a frente do seu tempo. Basicamente o que assistimos são memórias,
ou pensamentos, do próprio cineasta e que ele as coloca na tela do cinema sem
medo algum de ser mal interpretado por aqueles que vieram a testemunhar elas.
Curiosamente, há várias situações sexuais durante o decorrer trama, mesmo quando
elas surgem apenas nas entrelinhas, mas que tornam a obra corajosa para a sua época.
Com inúmeros recursos
cinematográficos feitos a mão naquele tempo, o filme é um verdadeiro show de
efeitos visuais, dos quais impressiona até mesmo nos dias de hoje, onde vivemos
rodeados por recursos de ponta vistos nas telas do cinema, mas faltando cada
vez mais o calor da mão humana. Jean Cocteau talvez não tenha vindo a ser
alguém tão conhecido como Luis Bunuel, mas com certeza merece ser redescoberto
por essa nova geração que busca um cinema mais desafiador e que venha desafia
as nossas perspectivas. O Sangue de um Poeta é uma pequena pérola cinematográfica
a ser descoberta pelas novas plateias.
Fundação Iberê Camargo: Av. Padre
Cacique, 2000 - Cristal, Porto Alegre. Sessões de cinema sempre aos Domingos às
16h.
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