Sinopse: No fim do século XIX, a Revolução
Federalista marcou o sul do Brasil. Na época, o caudilho revolucionário
Gumercindo Saraiva foi assassinado pelos legalistas. O filho dele, Francisco
Saraiva, parte com cinco cavaleiros para resgatar a cabeça do pai, cortada pelo
Major Ramiro de Oliveira.
O grande
problema da última adaptação feita para o cinema do conto O Tempo e o Vento é
que ela se tornou muito plástica, romanceada e endeusando por demais os seus
respectivos personagens principais. A Revolução Federalista (ou Farroupilha)
foi uma das grandes guerras que a região Sul enfrentou nos anos 1893 a 1985 e
transformar uma das inúmeras histórias daquele período em algo teatral e acessível
para todos não significa também bom retorno. A Cabeça de Gumercindo Saraiva transita entre a realidade e
a ficção, mas a verossimilhança incrementada na reconstituição dos fatos
predomina no filme como um todo.
Dirigido e roteirizado pelo cineasta Tabajara
Ruas (Os Senhores da Guerra), o filme conta a história do capitão Francisco Saraiva (Leonardo Machado),
filho de Gumercindo, comanda um piquete de cinco cavaleiros, determinado a
recuperar a cabeça do pai para evitar que ele se torne uma alma penada. Eles
saem no rastro do major paulista Ramiro de Oliveira (Marilo Rosa), o emissário que
ruma a capital escoltado por dois ajudantes. De um lado, a honra o misticismo,
do outro, o exibicionismo e a vingança.
Realizado em belos cenários naturais
como, por exemplo, São Miguel das Missões, São Francisco de Paula, Canela, Gravataí e Cambará do Sul, o filme possui, aparentemente, uma trama
simples, mas que ganha contornos positivos pelo seu realismo cru, principalmente nas
cenas violentas de morte e das quais não polpa os olhos do cinéfilo que assiste. Aliás, o
filme possui todos os ingredientes de um faroeste de antigamente, mas nada
romantizado, mesmo quando o roteiro se envereda para alguns momentos a isso. Se
no primeiro ato da trama os diálogos aparentam terem sido extraídos de uma peça
de teatro que reconstitui os fatos, a violência da guerra, por sua vez, logo faz mudar a visão e o raciocínio dos respectivos personagens principais e
tornando os diálogos cada vez mais realísticos para os nossos ouvidos.
Vale destacar que o filme não há heróis ou
vilões, mas sim pessoas comuns sendo jogadas numa guerra brutal, onde cada um
carrega a sua ideia com relação aos fatos, mas que ambos os lados acabam por si
só perdendo. Criando-se até mesmo uma metáfora com relação aos tempos contemporâneos,
o papel tanto da igreja como da política são retratados de uma forma não muito
diferente do que se vê hoje em dia e sendo participantes, mesmo que indiretamente,
das principais atrocidades vistas na tela: a cena em que se reconstituem os mil
prisioneiros degolados (se tornando conhecido como a Guerra da Degola) com a
presença da própria igreja é um soco no estômago para aqueles que se dizem politicamente
corretos.
Embora o roteiro e reconstituição de época
possa se destacar de uma forma elevada num primeiro momento, por outro lado, os
desempenhos do elenco principal não ficam muito atrás e nos brindando com boas interpretações.
Se Leonardo Machado (falecido no último dia 28 de setembro) consegue transmitir
para nós um Francisco Saraiva que transita entre o ódio e a razão, por outro
lado, Marilo Rosa consegue passar serenidade pelo seu personagem Ramiro de Oliveira,
que tenta manter a razão em meio aos horrores do caos que o aflija. Na reta final da trama,
ambos se dão conta que possuem mais em comum do que se imagina e encarando o
fato de terem se tornado meros piões que são jogados num jogo de xadrez elaborado por políticos
inescrupulosos.
A Cabeça de Gumercindo Saraiva é sobre as
guerras dos homens do passado, mas que serve muito bem de metáfora para o cenário
de ódio que molda os nossos tempos contemporâneos.
Onde assistir: Cinebancários: Rua General
Câmara, nº 424, centro de Porto Alegre. Horário: 15h.
Nenhum comentário:
Postar um comentário