Nota: filme exibido para os associados
no último sábado (04/08/18) na Cinemateca Paulo Amorim
Sinopse: O casal Besson
divorciou-se. Para proteger o filho do pai que acusa de violência doméstica,
Miriam pede a custódia total. Mas a juíza concede ao pai direito de visita.
Refém entre os pais, Julien vai fazer tudo para evitar que o pior aconteça.
Em tempos em que o cinema
vive uma crise de criatividade, é sempre bom perceber que há exceções,
principalmente quando surge um filme que é criado para desafiar a nossa expectativa
sobre o que está realmente acontecendo na tela. Se no nosso mundo real, onde testemunhamos
situações cada vez mais absurdas, porém verdadeiras, os realizadores da sétima arte,
por vezes, se veem obrigados em transportar essa realidade crua para as telas e
fazermos com que a gente se identifique facilmente com elas. Custódia é um dramático
suspense psicológico, do qual nos assusta pela possibilidade de algo parecido estar
acontecendo muito mais próximo do que nós imaginamos.
Dirigido pelo estreante
Xavier Legrand, acompanhamos a história de um casal prestes a se divorciassem. Miriam
(Léa Drucker, de Melhor professor da minha vida) acusa o marido Antoine (Denis
Menochet de Bastardos Inglórios) de ser um homem violento e que sempre ameaça
ela e seus filhos. Após um primeiro julgamento, é decidido que ele tem o
direito em visitar os seus filhos, mas o filho mais novo Julien (Thomas
Gioria) é o primeiro a se dar conta que isso, talvez, seja um grande equivoco.
O grande atrativo
desse filme é sermos jogados em meio a uma situação do qual conhecemos somente
a superfície, quando na verdade os problemas são de muitas camadas e das quais
se encontram muito mais abaixo do que a gente imagina. O cineasta Xavier Legrand já surpreende ao criar um clima claustrofóbico, principalmente em seus planos
fechados, realizando situações imprevisíveis e surpreendentes diálogos num único
cenário. Isso já se cria nos primeiros minutos de filme muita tensão, pois não
sabemos as reais atitudes de ambas as partes, mas já fazendo a gente ter consciência
de uma instabilidade notória e sufocante.
Após esses minutos
nós temos a chance de conhecermos melhor esses personagens, mas assim como
acontece no prólogo, não há quase nenhum momento em que a gente descubra o que
realmente aconteceu no passado dessa família, mas fazendo com que tenhamos uma
ideia de acordo com ação e consequência de cada um deles. Consequência, aliás,
que vem mais das atitudes de Antoine e das quais começam a transbordar no
momento em que tenta a todo custo dialogar com o seu filho Julien.
Denis Menochet nos
brinda com uma das atuações mais assustadoras desse ano. Mesmo com poucos diálogos,
o ator transmite uma instabilidade emocional de seu personagem de uma forma
assombrosa e fazendo com que tememos por cada novo passo que ele dará, seja
quando está com o seu filho, ou quando tenta a todo custo tentar dialogar com a
sua mulher. Já o seu filho é brilhantemente interpretado pelo ator mirim Thomas
Gioria, cuja suas expressões de angustia sintetizam um clima mórbido que tende
somente a piorar.
Falando nisso, o ato
final nos reserva momentos surpreendentes, onde Xavier Legrand faz com que a
sua câmera se torne os nossos olhos e fazendo que nos tornemos observadores
impotentes perante a uma situação prestes a explodir. Se na cena da festa de
aniversário da filha mais velha já sinaliza o que pode acontecer, a cena do apartamento,
onde nela ocorre o epilogo, é uma verdadeira aula de suspense e que remete até
mesmo o clássico de horror O Iluminado. Ao final, nos damos conta que aquela
realidade não é moldada pelo bem e o mal, mas sim por pessoas emocionalmente desequilibradas,
cuja suas ações definem o tipo de pessoas que elas serão pelo resto de suas
vidas.
Custódia é um filme
assustadoramente real, pois nos faz testemunhar uma trama que pode estar
acontecendo no outro lado da rua, ou até mesmo a poucos metros de sua própria porta.
Em cartaz: Cinemateca Paulo Amorim. R.
dos Andradas, 736 - Centro Histórico, Porto Alegre.Horário: 15h15min.
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