Sinopse: O pai de
Maria deixa sua casa e a menina e sua mãe voltam a seu cotidiano de cuidar da
casa e da plantação, esperando que ele regresse. Porém, o destino das duas se
cruza com um criador de cabras que vive na região.
Eduardo Nunes
surpreendeu a crítica com o seu Sudoeste (2011), filme que nos trouxe uma
interpretação espetacular da atriz Simone Spoladore e fazendo do diretor um
dos melhores do cinema autoral brasileiro recente. Obviamente, não é um
cineasta que nos joga em tramas com soluções fáceis, mas que seja, no mínimo,
uma pequena experiência sensorial. Seu mais novo trabalho, Unicórnio, é baseado
em dois contos de Hilda Hilst e nos oferece uma das mais belas imagens do nosso
cinema recente.
O filme se inicia de
uma forma inesquecível, onde não tem como deixar de se apaixonar pela
fotografia de Mauro Pinheiro Jr, com cores quentes e se casando com harmonia
com o som de Roberto de Oliveira. Claramente o cineasta nos brinda com uma experiência
audiovisual poucas vezes vista em nosso cinema e fazendo até mesmo a gente se
perguntar de que maneira as imagens foram elaboradas. Se por um lado o som nos
joga no cenário lírico dos personagens, as cores nos brindam com um visual
único, como se elas saíssem de alguma obra prima de determinado artista.
Isso faz com que nos
perguntemos onde se passa exatamente aquela história que beira a fantasia. Na
realidade o universo que se passa a história não nos dá uma pista exata se ela
se passa no presente, passado ou até mesmo futuro. Se por um lado, as roupas
remetem tempos do início do século 20, do outro, há pequenos detalhes de
objetos que dão a entender que os eventos se passam em tempos não muito longínquos.
O cineasta, aliás,
possui o total controle da história, como se comprova nas sequências em que não
há nenhuma palavra vinda dos poucos protagonistas em cena. A primeira meia hora
de filme é sem sombra de dúvida os melhores momentos da trama. Assim como no recente
filme de horror Um Lugar Silencioso, Unicórnio comprova também que os tempos do
cinema mudo eram sem dúvida os mais dourados.
Claro que isso tudo,
talvez, exija um pouco de paciência do cinéfilo que espera grandes desempenhos
do elenco, no que, em parte, é então obtido. A falta de diálogos, por vezes, dificulta
o que os interpretes querem passar para os seus respectivos personagens, mesmo
sendo alguns deles grandes talentos. Patrícia Pillar, por exemplo, chega ser
até mesmo ofuscada pelo jovem talento Bárbara Luz que aqui interpreta a filha
de sua personagem.
Porém, isso é contornado
numa trama que é dividida em duas linhas narrativas. De um lado temos Maria
(Luz), uma jovem garota que mora no campo com a mãe e vê como esta lida com a
chegada na terra ao lado de um novo vizinho (Lee Taylor). De outro,
acompanhamos a mesma menina trancada em um quarto com ladrilhos brancos ao lado
de pai (Machado), num cenário que claramente remete a uma instituição de
tratamento.
Isso se cria mais
perguntas do que respostas com relação ao que realmente está acontecendo,
principalmente quando a trama pula de um cenário para o outro. No meu entendimento,
o filme pega carona até mesmo com gênero de suspense psicológico, onde nem tudo
que nós enxergamos possa ser realmente verossímil. A experiência visual, portanto,
dá lugar a cores pálidas, como se a fantasia fosse descortinada e revelasse a trágica
verdade dos fatos da história.
Unicórnio é uma obra
que oferece muito ao cinéfilo, pois ela cresce no decorrer do tempo e nos faz a
gente se perguntar o que realmente estava acontecendo naquele mundo.
Onde assistir:
Cinebancários. Rua General Câmara, nº 424, centro de Porto Alegre. Horário: 15h
e 19h.
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