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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Cine Especial: Clube de Cinema - 'O Espírito da Colmeia'

 Nota: Filme exibido para os associados no dia 06/10/24   

Para entender a proposta deste filme lançado em 1973 pelas mãos do diretor Victor Erice, é preciso entender que a trama se passa nos anos quarenta, numa cidade do interior espanhol, em pleno poder do ditador Francisco Franco. Porém, o filme está distante de ser político, mesmo tendo símbolos subliminares no decorrer do percurso, mas o que fala mais alto é o impacto que o clássico filme “Frankenstein” (1931) de James Whale causa na menina Ana (Ana Torrent).

A partir disso, ela começa a imaginar a chegada daquele monstro do cinema à fazenda onde mora com os pais e a irmã mais velha, Isabel. Esta última, com intenções peculiares, assusta Ana com brincadeiras questionáveis, reforçando a garota ingênua, o sentimento de medo e confusão mental sobre o que é real e ficção naquele mundo. Como seus pais estavam pouco presentes no seu dia a dia, só restava a Ana seguir as determinações da irmã e a coisa se complica quando ela ajuda um soldado desertor do exército. Seria ele a personificação do tal monstro “Frankenstein”? O filme ainda vai muito mais além para aqueles que apreciam uma análise mais a fundo do lado psicológico das crianças e o clássico “O Espírito da Colmeia” neste quesito não decepciona.

Essencialmente, a sensibilidade do filme dá luz àquilo que não pode ser visto ou tocado. É a presença do espírito sem corpo, como diz Isabel. Na medida em que o tempo passa, será o contato com e descoberta do corpo que iluminará a consciência da criança levando-a ao seu florescer. Victor Erice disse que o título veio de um livro sobre as comunidades das abelhas e da qual o fascinava.

É interessante a presença invisível do tal espírito a quem as abelhas parecem obedecer cegamente enquanto fazer seus deveres. No filme, o não visto, porém sentido, pensado, ouvido, lembrado, temido, está presente na vida das personagens que habitam um casarão frequentemente tomado pela luz da hora mágica sobre os vitrais das janelas com formatos de colmeia. O filme é permeado por um natural amarelo do sol iluminando a casa-colmeias e suas abelhas operárias sem muita consciência do espírito que as ronda. A cor da vida e do quente sol entrando na casa, nutrindo ainda a vida e as renovações.

Mas talvez o maior trunfo do cineasta esteja realmente na passagem da chegada do filme “Frankenstein” na cidade, além do vazio que é a vida dos pais de Ana e, claro, ao focar a própria Ana com um carinho que poucas vezes diretores conseguem com crianças. O diretor, por sua vez, consegue, entre outras coisas, filmar Ana Torrent realmente assistindo o filme “Frankenstein” pela primeira vez na vida, junto com todas aquelas crianças, e a imagem de seu rosto expressando medo e curiosidade simbolizam o que seria o filme de Erice daquele momento em diante.

A menina sorri apenas uma vez no filme inteiro, e está quase sempre com um semblante sério ou triste, mas mesmo assim é encantadora, um imã para os nossos olhos, talvez até por nunca interpretar, ela apenas e tão-somente é aquela Ana. O final do filme, emulando a famosa cena do filme de James Whale é tão lírica, sutil e tocante que pode chegar a causar inveja em muitos cineastas. Não me admiraria, por exemplo, se este filme serviu de inspiração para que Guilherme Del Toro para a realização do seu "O Labirinto do Fauno" (2006).

"O Espírito da Colmeia' é uma análise delicada sobre o olhar inocente perante a realidade complexa da vida adulta e ao mesmo tempo uma bela declaração de amor ao cinema.   

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