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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Cine Especial: Clube de Cinema - 'Até Que a Música Pare'

Nota: Filme exibido para os associados no dia 15/10/24.

Sinopse: Depois que o último filho sai de casa, Chiara, matriarca de uma família descendente de italianos, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pelos botecos da Serra Gaúcha.

Cristiane Oliveira tem chamado atenção nos seus filmes, ao construir uma análise sobre relacionamentos familiares em que os mesmos se encontram no interior, mas que não fogem dos mesmos questionamentos que as pessoas possuem na cidade grande. Tanto "Mulher do Pai" (2015) como "A Primeira Morte de Joana" (2018) são uma análise da transição da juventude para a vida adulta e que certas decisões podem influenciar os próximos anos de suas vidas. Porém, em "Até Que a Música Pare" (2023) a realizadora vai pôr um outro caminho, ao retratar um casal em idade avançada, mas assim como a juventude, eles ainda possuem questionamentos que os fazem ainda refletir sobre a vida.

Com co-produção brasileira e italiana, o filme conta a história de Chiara (Cibele Tedesco) e de sua família de descendência italiana. Depois que um dos seus filhos morre em um acidente, ela decide acompanhar o marido em uma de suas viagens a trabalho para não ficar só em casa, sendo que Alfredo (Hugo Lorensatti) fornece produtos de bar em bar pela estrada da Serra Gaúcha. Porém, Chiara conhece um outro lado do seu marido, em meio a mudanças que ela começa a experimentar com relação a vida e tendo com a presença de uma pequena tartaruga uma chance de amenizar as suas dores internas.

O filme é um retrato verossímil de famílias que ainda vivem no interior do RS e que ainda mantém as suas velhas tradições intactas. Ao mesmo tempo, há sempre um contraste quando vemos o velho casal contracenar com essa geração atual e que mesma se vê cada vez mais presa nas tecnologias e se desprendendo do mundo real. Porém, através dessa nova geração, a protagonista encontra uma nova forma de refletir sobre a vida, principalmente após a partida de um dos seus filhos e procurando assim a chance de ir para um outro caminho.

É interessante observar como o tom do filme transita em momentos dramáticos, de humor e até mesmo com algumas pinceladas de suspense, principalmente quando a trama envolve questões sobre a vida após a morte. Ao mesmo tempo, vale observar com maior atenção esse casal central da trama indo de encontro com as questões políticas, religiosas e conservadoras, sendo que a discussão entre eles com a sua filha em um determinado momento da trama não é muito diferente do que se ouviu ao longo desses últimos dez no nosso mundo real e fazendo com que nos identifiquemos com os personagens de forma imediata. Porém, acima de tudo, o filme fala sobre a redenção que os personagens procuram obter, mesmo quando eles não sabem ao certo por onde começar.

Cibele Tedesco está ótima em cena, ao interpretar a matriarca da família que não esconde o seu conservadorismo com relação as novas ideias vindas de outros costumes, mas que acaba tendo a curiosidade de experimenta-las. Já Hugo Lorensatti consegue construir para si um personagem ambíguo, já que o mesmo esconde certos segredos perante a sua esposa, mas na medida que aos poucos Chiara adentra aos seus trabalhos de entrega há certas revelações sobre a sua real faceta. É nestes momentos, por exemplo, que há uma certa tensão crescente, já que nunca sabemos ao certo como esses personagens irão agir perante certas verdades que vem à tona, mas que são necessárias para serem ouvidas.

No final das contas, é um filme que fala sobre o ser humano perante os dilemas e os mistérios da vida que nem a ciência de hoje sabe explicar de uma forma exata. Tudo o que nos resta, portanto, é colocarmos em prática uma forma de nos sentirmos bem e sermos o melhor, mesmo quando durante o trajeto enfrentemos diversos desafios. Não cabe sabermos ao certo se há algo após essa vida, mas sim como seremos lembrados depois dela.

"Até Que a Música Pare" é uma curiosa análise sobre as dúvidas, crenças e sobre o que é ser uma pessoa de bem em dias atuais em que o verdadeiro desafio é saber realmente viver. 

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