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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Especial Halloween: 'A Hora do Pesadelo - 40 Anos Depois'

"O Massacre da Serra Elétrica" (1974) foi o pontapé inicial para o nascimento do subgênero  "Slasher", onde assassinos mascarados assombravam e atacavam jovens que buscavam somente azaração em suas vidas, mas davam de encontro com algo assustador e mortal. Dito isso surgiram as franquias iniciadas a partir de "Halloween - A Noite do Terror" (1978) e "Sexta-Feira 13" (1980) que geraram litros de sangue sendo derramados nas telas além de grande lucro para os estúdios. Porém, "A Hora do Pesadelo" (1984) se diferenciava e muito de suas contrapartes.

Wes Craven já era um diretor que estava chamando atenção através de filmes de horror intitulados "Aniversário Macabro" (1972) e "Quadrilha de Sádicos" (1977). Curiosamente, ele havia dirigido um filme de baixo orçamento que era baseado nas HQ do "Monstro do Pântano" (1982), mas que viria a ser cultuado mesmo com todas as suas limitações. Com esse currículo já era o suficiente para a New Line Cinema dar carta branca para o realizador fazer o que bem entender com o projeto "A Hora do Pesadelo", mas ninguém imaginava que ele conseguiria chegar tão longe.

Na trama, acompanhamos um grupo de adolescentes que passa a ter pesadelos horríveis, onde são atacados por um homem deformado com garras de aço. Os crimes vão ocorrendo seguidamente, até que se descobre que o ser misterioso é na verdade Freddy Krueger (Robert Englund), um homem que molestou crianças na rua Elm e que foi queimado vivo pela vizinhança. Agora Krueger pode retornar para se vingar daqueles que o mataram, através do sono.

Com efeitos práticos na época, Wes Craven cria um filme claustrofóbico quando os jovens protagonistas começam a ter pesadelos com o grande vilão da trama e fazendo com que cair no sono se torne o pior erro de suas vidas. O trunfo do longa está na presença assustadora de Robert Englund caracterizado como Freddy Krueger, cujo seu rosto deformado, figurino peculiar e suas garras sinistras aterrorizaram uma geração inteira. Eu me lembro como essa figura virou febre entre os jovens que curtiam filmes de terror durante a década de oitenta e chegando a ser até mesmo atração de programas do SBT.

O filme também marca a estreia do até então jovem ator Johnny Depp, que aqui interpreta o namorado da personagem Nancy, interpretada pela atriz Heather Langenkamp. Além de ser a sua primeira grande oportunidade no cinema, Depp protagoniza aqui a morte mais horripilante do filme como um todo, onde o seu corpo é sugado para dentro da cama e para logo em seguida o sangue esguicha para o teto do quarto. Qualquer semelhança dessa cena com a do elevador vista no clássico "O Iluminado" (1980) não é mera coincidência.

O filme foi um verdadeiro sucesso de público e crítica e fazendo com que o estúdio logo corresse para fazer outros capítulos para o cinema. É claro que isso acontece principalmente pela maneira que a trama termina, sendo algo não planejado pelo próprio Wes Craven, já que ele não estava interessado em voltar a dirigir a sua própria criatura novamente. Porém, o dinheiro fala mais alto em Hollywood. 


‘A Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy’    

No último curso do Cine Um, intitulado "Monstros do Armário" e ministrado pelo crítico de cinema Conrado Oliveira, era analisado filmes clássicos do horror, onde a diversidade sexual era uma temática velada, porém poderosa. Graças a essa atividade eu pude enxergar alguns filmes com um novo olhar e constatando que a questão da Homossexualidade sempre estava lá nas entrelinhas e passando quase desapercebido pelos sensores da época. Porém, o que mais me surpreendeu foi uma análise de um clássico dos anos oitenta, mas que nunca havia percebido devido a minha inocência.

Para mim não existe melhor época que os anos oitenta, não somente pelo fato de eu ter nascido no início desta década, como também onde nós encontramos os filmes e as músicas que moldaram uma geração. Porém, sempre houve o lado negativo da situação, como fato de os conflitos pelo mundo ainda existirem, assim como também certas doenças que aterrorizavam uma geração inteira como foi no caso da AIDS. Infelizmente, principalmente devido ao preconceito, esta epidemia foi muito associada aos Homossexuais, sendo essa teoria gerada pelo fato de os cientistas ainda não terem uma noção exata do que estava acontecendo, como também através da mídia sensacionalista que pregava o seu ódio.

O cinema, por sua vez, retratou essa realidade por vezes de uma forma até mesmo negativa, como foi no caso de "Parceiros da noite" (1980) de William Friedkin. Por outro lado, houve também filmes que tocavam no assunto de uma forma bem subliminar, onde os personagens se tornariam uma manifestação, não somente sobre o caso da AIDS, como também sobre aceitar ou não em ser diferente. É então que chegamos em " Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy" (1985), continuação do clássico de Wes Craven e que sobreviveu ao teste do tempo, ao possuir uma análise sobre a dificuldade de uma parcela daquela geração em ter medo de sair do armário e como a sociedade preconceituosa enxergava sobre isso.

Na trama, dirigida agora por Jack Sholder, conhecemos a família Walsh, que se mudou para a antiga casa onde ocorreram os principais eventos do filme anterior. Logo Jesse (Mark Patton) passa a ter horríveis pesadelos com o assassino. Lisa (Kim Myers), sua namorada, investiga e descobre o passado da casa. Entretanto, Freddy já está de posse do corpo de Jesse e o obriga a cometer assassinatos contra sua família e amigos.

Diferente do filme anterior, aqui Freddy não procura somente cometer os seus crimes através dos pesadelos dos jovens, como também possuir o corpo de Jesse e para assim assassinar até mesmo no mundo real. É então que vemos a mensagem subliminar da coisa, já que Jesse parece um jovem com sentimentos reprimidos, isolado e dando a entender que sofria bullying no colégio. Na medida em que tenta não ser possuído por Freddy, ao mesmo tempo poderíamos interpretar o fato como ele não aceitar ser gay, pois isso na visão dos realizadores seria algo ruim, com o direito do seu corpo começar a ter diversas manifestações e fazendo uma alusão sobre a própria AIDS.

Além disso, há passagens que esse subtexto acaba se destacando ainda mais, como o fato de Jesse se encontrar com o seu professor de ginástica em uma boate gay e da sua ida imediata para a casa de um amigo depois de tentar uma relação sexual com a namorada na festa da piscina. Mark Patton que interpreta Jesse disse que os produtores sabiam que ele era gay na vida real e usaram essa informação para elaborar a trama de acordo com a visão que eles tinham com relação aos Homossexuais naqueles tempos. Por conta disso, o ator disse que no decorrer do tempo houve pessoas que chegavam nele e diziam que o seu personagem precisava ser hetero para não ser possuído pelo vilão.

Em 2015, Patton compareceu à San Diego Comic-Con para participar de um debate sobre essa controvérsia. Na ocasião, o ator disse que o filme o "agrediu por muito tempo" e que ele tem o longa-metragem como "um exemplo de bullying". Em suas palavras: "Apenas nos últimos cinco anos que a opinião do público sobre o filme mudou e eu voltei a trabalhar como ator.  Continuaram me oferecendo trabalho, contanto que eu continuasse no armário.

Ao assistir a esse filme percebo que ele é sim é um retrato sobre o pensamento de uma sociedade desinformada, homofônica e que fazia com que várias pessoas se mantivessem dentro do armário. Ao mesmo tempo, tanto o diretor, como também o roteirista David Chaskin,alegaram no decorrer dos anos que nunca pensaram em elaborar o longa dessa forma, mas que construíram dessa maneira de acordo com a realidade que eles conviviam em sua volta. Logo após a estreia do filme Mark Patton largou a carreira como ator, alegando que a sua experiência dentro da produção foi algo traumático

Apesar de todas essas polêmicas, é interessante observar que o filme sobrevive ao teste do tempo devido a todo esse subtexto inserido no filme. Ao meu ver, é um retrato sobre alienação preconceituosa que estava encravada naqueles tempos. Curiosamente, esse subtexto, principalmente sobre o que pensavam sobre a AIDS, continuaria em outros longas que viriam se tornar clássicos, como no caso de "A Mosca" (1986).

"A Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy" é um filme complexo ao usar o subtexto para sintetizar os pensamentos de uma sociedade que não sabia lidar com a questão do homossexualismo. 


'A Hora do Pesadelo 3 - Os Guerreiros dos Sonhos'

É engraçado que ao olharmos para trás constatamos que o segundo filme se tornou bem mais lembrado mesmo com todo o seu subtexto polêmico que foi inserido na trama. Por conta disso, é interessante observar que o terceiro filme lançado em 1987 acabou sendo o menos lembrado, porém, muito melhor em termos de história e pirotecnia. Esse resultado se deve muito pelo fato de os realizadores terem ouvidos às críticas, dando maior espaço para o vilão e explorando cada vez mais as possibilidades do universo dos sonhos.

Na trama, agora dirigida por Chuck Russell, o mesmo de "O Máskara" (1994), vemos aqui Nancy Thompson (Heather Langenkamp) de volta entre os sobreviventes dos ataques de Freddy Krueger (Robert Englund) e agora sendo uma psicóloga especializada em sonhos. Ela trata de alguns adolescentes em um sanatório, que são atacados por Krueger em seus pesadelos. Para combatê-lo, Nancy ensina as crianças a usarem suas habilidades especiais no universo dos sonhos e pesadelos e para que assim possam enfrentar Krueger em seu próprio território.

O filme possui uma trama muito mais amarrada e sabendo muito bem para onde ir. Ao explorar as mais diversas possibilidades com relação aos sonhos, o filme se torna um verdadeiro show de efeitos visuais da época, sendo na maioria práticos e muito bem criativos. Destaco a cena em que vemos Krueger na forma de esqueleto, sendo elaborado em stop motion e que não me admira que tenha servido de inspiração para Sam Raimi no seu "Uma Noite Alucinante 3" (1992).

Além disso, o filme possui alguns rostos que posteriormente seriam bastante conhecidos ao longo dos anos. Esse foi o segundo filme da atriz Patricia Arquette na carreira e que posteriormente se tornaria mais conhecida em filmes como "Amor à Queima Roupa" (1995) e ganhando um Oscar por "Boyhood - Da Infância À Juventude" (2014). Já Laurence Fishburne como um enfermeiro do hospital já era conhecido por alguns papéis como coadjuvante em grandes filmes como no caso de "Apocalypse Now" (1979).

Diferente do segundo filme, aqui Krueger ganha maior participação de cena, principalmente em um ato final em que atuação e efeitos visuais da época sabiam andar de mãos dadas. Robert Englund bem que tentou, mas jamais conseguiu se desvencilhar do papel que marcaria a sua carreira para sempre e, portanto, se entrega de corpo e alma neste monstro que assombrou uma geração inteira e que entraria para a história do cinema. Além disso, diferente do segundo filme, aqui o final termina de forma bem redondinha, mas deixando aquele pequeno gancho para uma eventual sequência e que viria acontecer logo em seguida. 


'A Hora do Pesadelo 4 - O Mestre dos Sonhos'  

Se o terceiro filme deu um passo à frente com relação a construção do universo de sonhos e pesadelos, neste quarto capítulo ele não avança em termos de originalidade, mas mantém o que havia dado certo neste quesito. Porém, por alguma razão que eu desconheça, Patricia Arquette não retornou ao papel de e Kristen, sendo que aqui a personagem é agora interpretada pela atriz Tuesday Knight. Ao meu ver, talvez ela não tenha tido interesse de voltar ao projeto já que a personagem não dura muito na trama e dando maior espaço a personagem Alice, interpretada pela atriz Lisa Wilcox.

Curiosamente, o filme começa a dar maior espaço ao humor sombrio, principalmente vindo de Freddy Krueger, onde o ator Robert Englund cada vez mais se diverte em cena. Isso seria prenúncio do que a franquia se tornaria nos capítulos cinco e seis, sendo apontados como os piores ao dar maior espaço para o humor, mas gerando situações bizarras e dando a entender que a franquia chegou ao seu esgotamento. O vilão somente retornaria em "O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger" (1994), cuja proposta de um filme dentro de um filme se tornou até mesmo interessante, mas não atraindo a grande massa de volta para as salas.

Eu gosto de pensar que "A Hora do Pesadelo 4 - O Mestre dos Sonhos" seria o ponto final para o personagem como um todo, mas nunca há algo definitivo quando Hollywood somente pensa em arrecadar dinheiro.  


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