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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Cine Especial: Clube de Cinema - 'Soul Kitchen' 

 Nota: Filme exibido para os associados no dia 26/10/24

Sinopse: O dono de restaurante Zinos parece nunca ter sossego. A garota que ele ama se muda para a China e Zinos decide deixar seu precioso restaurante nas mãos de seu irmão, Ilias, que rapidamente perde o controle do local.

Em alguns casos, certos filmes quando estreiam em Porto Alegre acabam ficando tão pouco tempo em cartaz que mais pareciam que eles nem haviam estreados. Porém, há casos de certos títulos receberem o seu reconhecimento no seu devido tempo e se transformarem em um verdadeiro filme cult. "Soul Kitchen" (2010) é um desses casos que eu nem sabia que era um filme cultuado, mas que tive o privilégio de conhecê-lo pela primeira vez pelo Clube de Cinema do qual eu sou associado.

Dirigido por Fatih Akin, realizador de títulos como "Bar Luva Dourada" (2019), o filme conta a história de Zinos Kazantsakis (Adam Bousdoukos), proprietário do restaurante Soul Kitchen. Porém, a situação não anda muito bem, pois em um primeiro momento a clientela não está gostando da comida do novo chef. Para complicar, Nadine (Pheline Roggan), sua namorada, resolveu se mudar para Xangai e uma terrível dor nas costas o atormenta. Zinos precisa da ajuda do irmão (Moritz Bleibtreu) para revitalizar o restaurante e para assim pagar as dívidas e evitar novos problemas.

É gostoso quando você vai assistir ao filme sem muita informação e fazendo com que a sessão se torne ainda mais reveladora. Embora já tenha feito filmes pesados ao longo de sua carreira, Fatih Akin opta aqui por um tom mais bem humorado, onde as adversidades que o protagonista enfrenta acontecem a todo momento, mas também ocorrendo boas ideias para que o restaurante comece a voltar aos trilhos. Tudo moldado com edição agiu de cenas, da qual se casa com uma trilha sonora contagiante e que, segundo o que me disseram, se tornou rotineira ao ouvi-la nas baladas nos anos que se seguiram em Porto Alegre.

O filme é um retrato bem interessante sobre como a cultura da imigração influenciou a cultura alemã nos primeiros anos do século vinte e um. Porém, o que mais chama atenção é a culinária vista na tela, da qual é feita de forma poética pelo chef de cozinha e interpretado de uma forma intensa pelo ator Birol Ünel. Para o personagem, a culinária é algo a ser comparado à arte e da qual exerce o papel de persuadir o indivíduo a sentir outros prazeres que a vida lhe oferece. Se isso pode parecer um tanto exagerado, aguarde a cena em que eles exageram do afrodisíaco e gerando uma verdadeira orgia no ápice do filme.

Porém, o real protagonista da trama é mesmo o personagem Zinos e interpretado de uma forma divertida, porém intensa, pelo ator Adam Bousdoukos. Nota-se, por exemplo, que ele leva o seu trabalho a sério, mas não esconde uma certa inocência com relação aos fatos da vida, principalmente quando se entrega a sua namorada de um modo que não consegue enxergar os novos horizontes a partir do momento quando ela se muda para Xangai. Como um todo, o filme é moldado por personagens com poucas expectativas, mas que uma vez unidos fazem a diferença no restaurante e que ao longo da trama se torna o cenário das principais situações que beiram ao inusitado.

É particularmente interessante como o filme vem e volta com as soluções para os problemas, mas que acabam dando de encontro com novos erros cometidos pelos personagens e principalmente aqueles protagonizados pelo irmão do protagonista que é interpretado pelo ator Moritz Bleibtreu e do qual eu havia conhecido no cultuado "Corra Lola, Corra" (1998). Quando achamos que o mesmo irá se acertar na vida, principalmente quando começa a se apaixonar pela personagem vivida intensamente pela atriz Anna Bederke, é então que ele joga tudo a perder e coloca os personagens em um beco sem saída. O filme tem tudo para se encaminhar para momentos até mesmo trágicos, principalmente com o protagonista cada vez mais sofrendo com as dores nas costas.

É então que Fatih Akin parece querer tirar o pé do acelerador e jogar soluções para os personagens que beiram o surreal, para não dizer quase cartunesco, mas que amenizam a tensão que estávamos sentido até aquele momento. A cena do botão, por exemplo, poderá até mesmo soar ridículo, mas que acaba se tornando um pequeno detalhe que faz a diferença para o restante da história como um todo. No geral, é um filme sobre pessoas comuns que batalham para sobreviver em uma realidade onde há sempre mudanças constantes e cujo sistema capitalista segue fazendo as suas vítimas.

Com tantas coisas sérias para se enfrentar, talvez o filme nos diga que, por mais complexo que a vida seja, tudo se resolve no seu tempo e basta seguir em frente para, enfim, abraçá-lo. Talvez a Alemanha de hoje não seja a mesma que foi vista no filme, mas nunca demais olharmos para trás para ver o que havia de melhor e que pode um dia retornar. "Soul Kitchen" é um filme que se tornou cult instantâneo e os ingredientes é o que não faltam para ter adquirido esse merecido feito.       

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