Sobre o Filme:
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1978, o filme de Ermanno Olmi foi realizado inteiramente falado no dialeto da província de Bergamo. Curiosamente, todos os personagens vistos na tela não são atores, mas sim compostos por reais camponeses. Um feito mais do que surpreendente, principalmente se a pessoa assistir a esse filme sem essa informação e começando ter a sensação de estar assistindo a um projeto quase documental.
Nesta curiosa reconstituição sobre as vidas dos camponeses da Lombardia, o cineasta Ermanno Olmi proporciona uma síntese perante a angústia dos seus retratos passados da Itália contemporânea. Várias histórias vão surgindo do trabalho dos camponeses e da vida comunitária que vão de: ao relacionamento e bodas de um casal; um pai cortando a árvore do proprietário rural para fazer uns sapatos para o filho e ir à escola; um homem de idade avançada adubando tomates com estrume de galinha para eles amadurecerem mais cedo.
A iluminação é serena, sendo na maioria das vezes realizada com fontes naturais do ambiente. Sua trilha sonora é discreta, como se fosse o desejo do realizador em aproximar o público ao mais próximo do realismo e evitando assim qualquer interferência da parte técnica. Os planos breves de cena são o modo autoral do realizador, não permitindo que nos envolva plenamente, pois a nossa visão precisará se acostumar ao que virá a seguir.
Há momentos que desejamos recuar, pois o lado cru, por vezes, invade a tela, como no caso do abate de um grande porco e do qual se torna angustiante de ser visto e ouvido. Porém, em sequência digna de nota, uma mulher ora enquanto caminha, enche uma garrafa de vinho num regato para, enfim, vê-la nas portas de uma igreja. É aqui que, talvez os mais céticos, acusem o realizador de embelezar por demais os momentos da fé vistos na tela.
Mas tal afirmação poderia perder o seu ponto de vista, pois Ermanno Olmi opta em fazer uma transição entre o verossímil e os mistérios da fé no dia a dia de camponeses que possui poucos recursos, mas que se sentem fortes através da fé em Cristo. Embora em proporções discretas, ouso dizer que é o filme mais singelo sobre a questão da religião na vida dos homens e mulheres de antigamente.
O filme faz um paralelo com outra obra anterior sua que foi "I Fidanzati", (1963), mas cujo os personagens se veem envolvidos na realidade do mundo industrial, alienado e que vivia das mudanças no começo dos anos sessenta. Em ambos os casos se destaca o "humanismo" perante as adversidades impostas nos dois longas e o que fazem se direcionarem em finais, por vezes, bastante pessimistas. Comovedor em vários momentos, "A Árvore dos Tamancos" pode ser facilmente apontado como um verdadeiro herdeiro do cinema neorrealismo italiano.
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