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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Cine Especial: Revisitando 'KRULL'

Houve um tempo em que eu me sentava no sofá para assistir um filme qualquer de forma descompromissada em uma tarde distante, porém, cada vez mais dourada em minha mente. Era um tempo em que a maioria de nós não tínhamos um acesso fácil para assistir filmes como se tem hoje em dia, mas sim tínhamos que esperar determinado horário da tarde, mas que as vezes se tornava inesquecível. Eram tempos em que a maioria de nós aguardava para assistir "Sessão da Tarde" da Rede Globo, onde filmes se tornaram pequenos clássicos nestes horários e que revistos hoje nos desperta uma grande nostalgia.

Um desses casos foi sem sombra de dúvida "Krull" (1983), do qual até hoje muitos não sabem ao certo de qual gênero ele pertence, mas é preciso ir mais a fundo para entendermos isso. Era o início dos anos oitenta, época em que o cinema norte americano mudou drasticamente e se entregando aos filmes Blockbuster dos quais atraiam um grande público para o cinema. Muito disso se deve ao primeiro "Star Wars - Uma Nova Esperança" (1977), opera espacial recheada de aventura e que serviu de influência para inúmeros projetos que viriam em seguida.

A partir daí todos os estúdios queriam o seu "Star Wars", ou mais precisamente algo próximo a premissa básica do seu sucesso. No caso de "Krull" ele é um filme muito inspirado nos jogos RPG que faziam muito sucesso na época, mas sendo uma história original levada para o cinema e que transita entre a ficção cientifica e aventura. A trama se passa em outro planeta, mas se parecendo com o nosso, mas de tempos longínquos e que não havia essa fusão de magia com a tecnologia.

Ou seja, o filme não somente bebe da fonte de "Star Wars" como também de outros elementos literários como no caso de "O Senhor dos Anéis, Rei Arthur e, logicamente, da teoria de Joseph Campbell, intitulada “O Herói de Mil Faces”, onde mostrava os estágios que moldam a jornada do herói e do qual serviria de influência para muitas obras que viriam em seguida. Com esses elementos se criou então "Krull", filme que não se deu bem nas bilheterias na época, mas que rapidamente se tornou cultuado e lembrado pelos fãs através dos anos.

Dirigido por Peter Yates, a trama se passa no planeta Krull, da qual foi invadida pelo vilão A Besta (Trevor Martin) e seus soldados. Para enfrenta-lo, há dois reinos rivais que decidem se unirem para combater esse mal. Para celebrar o acordo fica decidido que o príncipe Colwyn (Ken Marshall), filho do rei Turold (Tony Church), se casará com a princesa Lyssa (Lysette Anthony), filha do rei Eirig (Bernard Archard). Porém, a cerimônia de casamento é atacada pelos soldados da Besta que sequestram Lyssa. Colwyn parte em seu resgate, contando com a ajuda de Ynyr (Freddie Jones), o ciclope Rell (Bernard Bresslaw), o mágico covarde Ergo (David Battley), o garoto Titch (Graham McGrath) e o ex-escravo Torquil (Alun Armstrong) que lidera ladrões foragidos.

A trama poderia facilmente ser inserida em qualquer época antiga da nossa terra, mas ao invés disso ela é retratada em um planeta longínquo, onde vemos o protagonista lutar de espada com inimigos que disparam raios laser. Se essa mistura pode parecer estranha é justamente pelo fato do que foi dito acima, sendo que o filme foi um projeto de muitos que foram lançados após o estrondoso sucesso de "Star Wars", mas nem todos obtiveram a chance de serem lembrados nos anos seguintes. Porém, "Krull" possui alguns elementos que o fazem ser lembrado até hoje.

Para começar, os personagens são extremamente humanos, sendo que cada um possui uma personalidade distinta e fazendo com que a gente se identifique rapidamente com eles. O Ciclope, por exemplo, talvez seja um dos personagens mais lembrados pelo grande público, já que ele sofre de uma maldição ao saber o dia em que morrerá e fazendo desejar o poder da ignorância para não saber da verdade. Há também os personagens cômicos, como no caso do feiticeiro Ergo, interpretado de forma brilhante por David Battley e fazendo de sua figura a mais improvável para participar dessa perigosa aventura.

Já Colwyn é a típica figura dos filmes de aventura de antigamente, já que o seu visual remete muito daqueles personagens interpretados pelo ator Errol Flynn, sendo esse último bastante conhecido pelo clássico "As Aventuras de Robin Hood" (1938). Colwyn é o típico herói em busca pela sua amada e para isso precisará não somente de aliados, como também da arma o Glaive, objeto lendário em forma de estrela do mar. É uma pena, portanto, que Ken Marshall não tenha se tornado um astro na época e sendo relegado a somente para séries para a televisão.

Curiosamente, o filme possui algumas figuras que posteriormente se tornariam conhecidas pelo grande público, como no caso de Liam Neeson (Kegan) e Robbie Coltrane, sendo que este se tornaria bastante conhecido por ter participado da franquia "Harry Potter" como Rhun. Já Alun Armstrong, que deu vida como líder dos ladrões, construiu uma carreira curiosa, atuando em diversos filmes conhecidos e produções para a tv. Contudo, eu acho que o melhor ator em cena seja realmente Freddie Jones, ao dar vida ao sábio Ynyr e do qual protagoniza a passagem mais lembrada da trama, sendo ela “aranha de vidro”.

Nesta passagem, o velho  Ynyr precisa buscar a informação sobre onde a Fortaleza Sombria irá se localizar, pois ela se teletransporta toda vez que o sol amanhece. A única pessoa que pode dar essa informação é a Viúva da Teia (Francesca Annis), mas ao mesmo tempo ele precisa enfrentar uma grande Aranha que se alimenta daqueles que chegam próximo ao local. É neste momento que o filme nos conquista.

Ynyr e a Viúva da Teia tiveram uma relação no passado, mas uma vez separados devido ao afastamento do primeiro, a Viúva se condenou uma vez que matou o filho que estava esperando. Ambos em cena é o ápice do filme como um todo, já que uma vez que se encontram eles obtêm a chance de, não somente obterem as suas redenções, como também ajudar o jovem casal apaixonado que um dia eles foram. Um momento trágico, poético e muito bem filmado.

Vale destacar que esse cenário foi todo elaborado por Steve Archer, do qual foi por um longo tempo assistente de  Ray Harryhausen, o mestre stop motion e responsável por inúmeros clássicos como "Fúria de Titãs" (1981). É bem da verdade que alguns efeitos visuais envelheceram mal se forem vistos nos dias de hoje, mas são efeitos práticos, bastante imaginativos, sendo que a cavalgada dos Cavalos de Fogo em direção a Fortaleza Sombria é outro ponto alto do filme como um todo. E o que dizer do visual da Fortaleza em si, da qual mais parece um pesadelo em movimento, com um grande peso surrealista sendo cortesia do fotografo de Peter Suschitzky que estava no comando.

Ainda da parte técnica, vale destacar a sua trilha épica musical, orquestrada por James Horner, que na época foi o responsável pela trilha do melhor capítulo da franquia "Star Trek", "A Ira de Khan" (1982). Suas notas ressoam poesia e ao mesmo tempo o teor aventuresco instalado dentro da trama como um todo e se casando com perfeição principalmente na passagem "Aranha de Vidro". Ou seja, um filme que se sustentou com efeitos práticos e que se revistos hoje possam ter envelhecido, ao menos, eles nos transmitem como se fazia cinema com a mão na massa e sem nenhum uso de CGI que é colocado tanto em prática hoje em dia e por vezes sem nenhuma relevância.

Em sua passagem para o cinema, o filme ganharia a sua versão literária, além de uma HQ. O fracasso nas bilheterias impediu que o filme ganhasse uma possível continuação, mas revisto hoje se percebe que ele possui um começo, meio e fim bem amarrados e não dependendo de algo expandido. O filme é pertencente a sua época, da qual aventura, ficção e fantasia era algo visto constantemente nos anos oitenta e que possuía certa esperança nas entrelinhas. Bons tempos em que a imaginação de certos realizadores era o bastante para se criar certas perolas.

"Krull" é um belo filme cult dos tempos da Sessão da Tarde e que revisto hoje nos desperta saudades de tempos mais inocentes.


NOTA: O filme foi lançado recentemente em DVD pelo Obras Primas do Cinema. Saiba mais clicando aqui. 

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