Sinopse: Após o final da trilogia original Neo acorda dentro Matrix com uma nova vida, mas tendo a ligeira sensação que há algo errado na sua realidade em volta.
"Matrix" (1999) foi um desses casos em que os Deuses do cinema sorriram para o projeto e fazendo do filme algo a frente do seu tempo, porém, que falasse também sobre os dilemas existencialistas que até hoje são debatidos. Após duas continuações, além dos derivados como "Animatrix", parecia ser um erro de cálculo retornar esse universo cheio de simbolismos e dos quais nos fascinou por mais de vinte anos. Pois bem, "Matrix Resurrections" (2021) não é nem de perto superior ao clássico, mas respeita o seu legado como um todo.
Se passando 20 anos após os acontecimentos de de "Matrix Revolutions", Neo vive uma vida aparentemente comum sob sua identidade original como Thomas A. Anderson em São Francisco, Califórnia, com um terapeuta que lhe prescreve pílulas azuis para neutralizar as coisas estranhas e não naturais que ele ocasionalmente vislumbra em sua mente. Ele também conhece uma mulher que parece ser Trinity (Carrie Anne-Moss), mas nenhum deles se reconhece. No entanto, quando uma nova versão de Morpheus oferece a ele a pílula vermelha e reabre sua mente para o mundo da Matrix, que se tornou mais seguro e perigoso nos anos desde a infecção de Smith, Neo volta a se juntar a um grupo de rebeldes para lutar contra um novo e perigoso inimigo e livrar todos da Matrix novamente.
Lana Wachowski sabia do vespeiro que estava entrando no momento que decidiu retornar ao universo que havia criado com a sua irmã no passado. Ao retornar ao cenário da "Matrix", a diretora decide criar um verdadeiro filme nostálgico, onde sempre se faz referências ao clássico a todo momento e criando assim um verdadeiro Déjà Vu visual. Curiosamente, o filme também respeita e muito as continuações e pondo por terra as opiniões de alguns que achavam que esses capítulos eram irrelevantes, quando na verdade expandiu a ideia sobre a Matrix e o verdadeiro papel dos personagens Neo e Trinity.
Aliás, se esse novo filme funciona é graças a eles, já que a química entre Keanu Revees e Carrie Anne-Moss continua a mesma depois de mais de vinte anos e fazendo dos dois o coração pulsante do filme como um todo. Infelizmente alguns atores acabaram não retornando, como no caso de Laurence Fishburne que ficou marcado como Morpheus, mas sendo substituído pelo ótimo ator Yahya Abdul-Mateen II e que faz o personagem da sua maneira e de forma bem divertida. O mesmo não se pode dizer Jonathan Groff, cuja a sua atuação é apática como agente Smith e que jamais superará o que Hugo Weaving fez no passado.
Como foi dito acima, o filme é um grande Déjà Vu em alguns momentos e o que faz a gente se perguntar para que realmente veio. Ao meu ver, diferente da geração do final dos anos noventa, essa sociedade atual simplesmente desistiu de lutar contra o sistema e abraçando as inúmeras possibilidades tecnológicas que a mesma oferece, mesmo quando a própria lhe tira cada vez mais a sua independência. Sentimos, portanto, essa harmonia entre os humanos e máquinas dentro trama, mesmo quando os velhos dilemas tratados no clássico ainda são colocados aqui em pauta.
Para os fãs que adoravam os inúmeros simbolismos do clássico esse novo filme é novamente um verdadeiro prato cheio. Se a imagem do escolhido está cada vez mais próxima do Messias, as referências ao clássico literário "Alice no País das Maravilhas" se tornam aqui ainda mais explicitas, sendo que os espelhos finalmente se tornam parte essencial da trama. Falando em Alice, aguarde para o momento em que surge a música “White Rabbit“, de Jefferson Airplane e que presta uma bela homenagem a obra criada por Lewis Carroll.
Infelizmente o ato final deixa a desejar, mas não pela falta de ação em si, pois ela existe, mas sim pela falta de imaginação e coragem em alguns momentos e que ficaram devendo. O epílogo, aliás, é escancarado que ali há sementes que foram plantadas para uma possível continuação, mas não creio que venha acontecer, pois precisaria algo ainda mais criativo para sustentar uma possível nova trilogia. Tudo dependerá da resposta da sociedade atual, que ao meu ver não se importa mais se está presa ao sistema ou não.
"Matrix Resurrections" é um grande Déjà Vu do clássico, do qual poderá até agradar os fãs mais fanáticos, mas não convencendo aqueles que queriam ir mais a fundo na toca do coelho.