Sinopse: O mundo enfrenta um fenômeno assustador: uma nuvem rosa e mortal tomou conta do planeta, obrigando todos a ficarem em casa. Presa ao lado de Yago, Giovana luta para se adaptar à nova realidade.
Não é de hoje que o cinema prevê diversos momentos que aconteceriam posteriormente em nossa história. No filme "Contágio" (2011), por exemplo, Steven Soderbergh havia criado de forma assombrosa um cenário muito semelhante com o nosso atualmente, em que o mundo é assolado por um vírus mortal e cujo o distanciamento e o isolamento seriam formas que usaríamos para nos defendermos do coronavírus. "A Nuvem Rosa" (2021) é um filme criado antes dos eventos do início da pandemia e nos surpreendendo por usar alguns elementos que antecipam o que seria o nosso dia a dia.
Dirigido por Iuli Gerbase, o filme conta a história de Giovana (Renata de Lélis), que fica presa em um apartamento com Yago (Eduardo Mendonça), um cara que havia recém conhecido em uma festa, após a chegada de um gás tóxico. Enquanto esperam a situação passar, eles precisam viver como um casal. Ao longo dos anos, Yago vive sua própria utopia, enquanto Giovana sente-se cada vez mais aprisionada.
Rodado em Porto Alegre, Luli Gerbase cria um filme claustrofóbico, já que toda a trama se passa unicamente em um único apartamento, enquanto o mundo de fora a gente somente tem pequenos vislumbres através da tv ou das redes sociais. Aos poucos testemunhamos os dois protagonistas tentando se reinventarem e se organizarem para sobreviver perante a nova realidade, mesmo tendo a fé que logo tudo isso irá passar. Por conta disso temos um cenário similar ao nosso, desde a interação das pessoas através das lives como também da distribuição de alimentos através dos drones.
Com uma fotografia rosada da qual representa essa nova realidade, vemos o casal principal se conhecendo aos poucos, se apaixonarem, mas também tendo as típicas desavenças de um casal de hoje em dia. Porém, tudo gera uma certa tensão, pois nunca sabemos o que acontecerá posteriormente, já que ambos vivem uma situação que os impedem de praticarem o que faziam antes da nuvem. O ápice dessa relação está no fato de ambos acabarem tendo um filho e gerando assim maior responsabilidade e também a deterioração do casal aos poucos.
Renata de Lélis está ótima como Giovana, onde a sua personagem transita entre a razão e a loucura perante a possibilidade de nunca mais fazer o que fazia antes. Já Eduardo Mendonça cria para Yago uma personalidade ambígua, da qual deseja a realidade de volta, mas também abraçando a possibilidade de que essa nuvem opressora jamais passe. O filme, portanto, abre um grande leque em que é jogado no nosso colo diversos debates sobre o mesmo assunto e fazendo com que nos coloquemos no lugar dos protagonistas e fazendo a gente se perguntar como a gente agiria em uma situação como essa.
Acima de tudo, o filme fala sobre o que nos faz humanos atualmente, onde nos encontramos cada vez mais presos em redes sociais, lives jogos eletrônicos e diversos aplicativos que facilitam as nossas vidas. Porém, nada substitui a interação dos seres humanos uns com os outros, assim como também sentirmos areia da praia em nossas mãos e coisa que a realidade virtual de um óculo de última geração nunca irá nos dar. O epílogo, aliás, acaba sendo bastante corajoso, já que ele deixa em aberto sobre o destino daqueles personagens, assim como o nosso que não sabemos ao certo quando voltaremos a ter a realidade que tínhamos antes do coronavírus.
"A Nuvem Rosa" é sobre a humanidade sendo obrigada a se reinventar em uma realidade não muito diferente da nossa em tempos de pandemia e nos surpreendendo pela sua previsão assustadora.
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