Sinopse: Em uma tribo Yanomami isolada na Amazônia, o xamã Davi Kopenawa Yanomami tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade.
Nos últimos tempos o cinema documentário brasileiro tem transitado entre a ficção e a verdade, sendo que ambas as partes unidas se cria um filme denúncia sobre o que realmente ocorre nas nossas terras brasileiras. "Branco Sai, Preto Fica" (2015), por exemplo, é uma ficção que transita com um teor quase documental e fala sobre o preconceito racial que ainda hoje continua encravado no Brasil. "A Última Floresta" (2021) vai ainda mais além, onde a ficção se torna apenas uma camada fina e dando lugar a verdade sobre o que esse desgoverno atual faz contra o povo indígena.
Dirigido por Luiz Bolognesi, o mesmo de “Uma História de Amor e Fúria “(2013), o documentário fala sobre o fato de garimpeiros que voltaram a penetrar de modo massivo e agressivo nas florestas do Brasil desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, em 2019. Essa movimentação alterou drasticamente o ambiente de vida dos Yanomami na região da fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Os invasores envenenam a água com mercúrio e trazem consigo vírus mortais, tais como o da Covid-19, para comunidades indígenas até então isoladas e protegidas.
Luiz Bolognesi procura jamais interferir nas ações do povo Yanomami em cena. Ao invés disso, a sua câmera se torna o nosso olhar que somente observa as ações desses personagens, desde ao fato deles saírem para caçarem, como também no seu dia a dia em sua aldeia. Se tem, portanto, uma visão particular desse povo, do qual se sustenta com que a natureza dá, além de manter as suas velhas tradições vindas de suas crenças de vários séculos atrás.
O documentário cria um clima de ficção no momento em que os personagens centrais transitam entre a verossimilhança com situações que beiram ao universo do sonhar, como se lá houvesse um lugar em que esse povo pudesse escapar para buscar ensinamentos e assim enfrentar o dia a dia do seu habitat natural. Porém, a realidade se sobressai com a presença do índio Davi Kopenawa Yanomami que é escritor, xamã e líder político yanomami. Atualmente, é presidente da Hutukara Associação Yanomami, uma entidade indígena de ajuda mútua e etnodesenvolvimento.
Sua figura se torna a voz da razão daquele povo que se sente seduzido pelas riquezas vindas do homem branco. O seu personagem em si dentro do documentário fala de alguém que conheceu de perto essa realidade da civilização, mas optou por retornar para as suas raízes, pois a civilização já se encontra a muito tempo doente. Aliás, ele é um que viu de perto o massacre que o seu povo sofreu no passado e que acredita que novas quedas ele sofrerá se caso algo não seja feito.
Talvez o ápice do filme se encontra realmente nas cenas em que o diretor usa a sua câmera para testemunhar a cultura Yanomami em sua essência. Na reta final, por exemplo, vemos esses homens e mulheres se entregarem aos seus cachimbos, chás, ervas medicinais e adentrando em uma realidade que o olhar comum vindo da civilização não consegue enxergar. Para se ver é preciso sentir e o documentário nos entrega isso mesmo que em poucos minutos.
Com créditos finais que nos dão um tapa na cara sobre a terrível realidade em que vive atualmente o povo Yanomami, "A Última Floresta" é um filme denúncia contra esse desgoverno atual, que trata os verdadeiros donos dessa terra com arrogância e violência e que cabe nós termos a consciência desse genocídio que ocorre bem diante dos nossos olhos.
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