Sinopse: Depois de já ter invadido substâncias líquidas, gasosas e sólidas, uma estranha voz toma posse do corpo de uma mulher e experimenta pela primeira vez o gosto de algo verdadeiramente humano.
No média metragem "Sete de Maio" (2020), o diretor Affonso Uchoa, do filme "A Vizinhança do Tigre (2016), dá voz a um jovem negro da periferia. Por vários minutos vemos somente o protagonista contando o seu passado sofrido e do qual o preconceito racial lhe bateu na cara ao longo dos anos. Em "Vaga Carne" (2020) a voz novamente é o destaque, onde ela se expressa de uma forma que possa ser ouvida, mesmo quando há detratores que tentam silenciá-la.
Dirigido por Grace Passô e Ricardo Alves Junior, do filme "Elon Não Acredita na Morte" (2017), o filme conta a história de uma voz, que depois de já ter invadido substâncias líquidas, gasosas e sólidas, a voz toma posse do corpo de uma mulher e experimenta pela primeira vez o gosto de algo verdadeiramente humano. Juntos, a voz e o corpo procuram por pertencimento e por uma identidade própria enquanto questionam seus papéis dentro da sociedade.
Os primeiros cinco minutos nos deixam na dúvida sobre o que está acontecendo, já que somente ouvimos uma voz e da qual pertence a estupenda atriz Grace Passô. Com um tom imponente, a voz fala de sua trajetória, de suas experiências dentro de uma sociedade da qual muitas vozes são censuradas, amordaçadas e silenciadas. A voz seria, portanto, uma entidade querendo desbravar esse Brasil sempre encurralado pelo preconceito e do qual as mortes provocadas pelo ódio são jogadas para debaixo do pano.
Durante os quarenta e cinco minutos de projeção Grace Passô dá tudo de si em cima de um palco, onde as suas palavras não são ouvidas em um primeiro momento, mas que logo surgem pessoas no auditório e lhe correspondendo. Essas mesmas pessoas seriam representação daqueles que vivem nas periferias, das quais sofrem o preconceito do dia a dia e tendo essa situação piorado em tempos de um Brasil cada vez mais retrógrado. Aos poucos, essas pessoas reagem as palavras da voz em cima do palco e onde cada uma reage de uma forma imprevisível, porém, mais do que justificável.
Na reta final, constatamos que o corpo onde a voz se encontra está na realidade ferido, ou na pior das hipóteses morto. O corpo seria uma representação das inúmeras vozes que foram silenciadas nos últimos anos, sejam elas por um golpe político, ou tiros a mando de personagens que ainda hoje se escondem no escuro. Ao subir os créditos ouvimos vozes familiares, algumas vivas, outras mortas, mas cuja a força de todas elas jamais serão caladas.
"Vaga Carne" é sobre as vozes que não se calarão neste Brasil atual cheio de preconceito e do qual esse último atraso precisa ser derrotado.
Onde Assistir: Alugue no Vimeo clicando aqui.
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