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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sábado, 24 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Meu Pai' e 'Minari'

Sinopse: Anthony tem 81 anos de idade. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, tenta impor a ele. 

O subgênero suspense psicológico transita entre o horror e o drama, já que neste último caso o horror se encontra através de uma mente que, por vezes, se encontra fragmentada. Filmes como, por exemplo, o clássico "A Repulsa do Sexo" (1965), ou recentes como "Cisne Negro" (2009), são exemplos de filmes que sintetizam o fato de que o nosso pior horror vem de nossas próprias mentes que tentam enganar a nós todo momento. "Meu Pai" (2021) é um drama caprichado, mas que se envereda em alguns momentos para o suspense, pois quase nunca temos uma exata certeza do que realmente está acontecendo na tela.

Dirigido por Florian Zeller, o filme conta a história de um homem idoso que se recusa toda a ajuda de sua filha à medida que envelhece. Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Ao tentar entender suas mudanças, ele começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade.

Baseado em uma peça teatral, o filme se limita somente no cenário em que os protagonistas se encontram, ou seja, em um determinado apartamento em Londres. Porém, na medida em que o filme avança, nunca sabemos ao certo se é o mesmo apartamento, já que aos poucos percebemos que estamos enxergando os eventos através da perspectiva de Anthony e fazendo a gente ficar na dúvida sobre o que realmente está acontecendo. O protagonista sofre de mal de alzheimer e cuja sua doença se torna um verdadeiro pesadelo para o próprio a cada dia.

Florian Zeller capricha em uma edição quase frenética, já que a sua câmera vai passeando em vários cômodos do cenário na medida em que o protagonista vai andando no local e se deparando com situações que, por vezes, o abalam. Personagens entram e saem na medida em que o protagonista vai caminhando pelo local, mas fazendo com que nós jamais tenhamos certeza sobre as reais identidades deles, pois em alguns casos eles representam lembranças que ele tenta manter em sua mente em declínio. São situações em que sentimos tristeza e aflição ao mesmo tempo, pois é uma situação verossímil e que muitos de nós viveram ou viverão ao longo dos anos.

Anthony Hopkins, novamente, nos entrega um dos grandes trabalhos de sua carreira, pois seu Anthony é uma pessoa pretensiosa pelo que ele foi no passado, mas não conseguindo esconder o problema que carrega ao longo do percurso. No decorrer da trama, o seu personagem luta para tentar montar as peças de um quebra cabeça, mas cuja as peças quase sempre nunca se encaixam, já que a sua mente nunca permite isso. Um trabalho intenso e merecedor de todo o reconhecimento.

Porém, Olivia Colman, vencedora do Oscar de melhor atriz pelo filme "A Favorita" (2019), não fica muita atrás na questão de atuação, já que ela interpreta uma personagem que carrega um pesado fardo de cuidar de um pai que, aos poucos, vai se perdendo entre explosões e enfraquecimento mental. Em determinados momentos, por exemplo, nunca sabemos ao certo sobre suas reais escolhas sobre o destino que ela irá traçar para ele, já que somente testemunhamos os acontecimentos pela perspectiva dele. Por conta disso, quando achamos que iremos julgá-la mal pelos seus atos, eis que o filme revela uma pessoa que tenta fazer o melhor pelo seu ente querido, mesmo quando alguns próximos a ela lhe dizem para agir ao contrário.

Quando se chega no ato final, observamos as reais peças desse tabuleiro, ao ponto que testemunhamos um Anthony não somente encarando o fato de estar doente, como também de saber que negou para si uma triste realidade que o próprio achava insustentável. É preciso ter coração de pedra para não se derramar nenhuma lágrima, já que Anthony é uma representação de muitos pais que chegam em uma idade cujo os cuidados não são muito diferentes de cuidarmos de um bebê recém-nascido, mas que sintetiza o círculo da vida como um todo. Indicado a seis prêmios para o Oscar deste ano, "Meu Pai" é sobre laços familiares que lutam contra um mal invisível, mas que se torna um fardo ao percebemos que isso é algo inevitável.

Onde Assistir: Locação e venda pelo Youtube e Now. 


 ‘Minari’  

Sinopse: David é um menino coreano-americano de sete anos de idade, que se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob, muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. 

Se atualmente os EUA ainda vende a sua propaganda que se diz ser a terra das oportunidades, por outro lado, os últimos acontecimentos do mundo revelaram que o problema é mais embaixo e revelando um país que mais criminaliza os estrangeiros do que acolher eles como um todo. O cinema, por sua vez, tem revelado nas telas nos últimos anos cada vez mais uma terra norte americana conservadora, da qual ainda abre os braços para o estrangeiro, mas não prometendo futuros frutos. "Minari" (2020) fala de uma família tradicional coreana, que vai aos EUA em busca do sonho americano, mas para alcançá-lo é preciso passar por certos pesadelos.

Dirigido por Lee Isaac Chung, a trama se passa nos anos 80. David (Alan S. Kim), um menino coreano-americano de sete anos de idade, que se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob (Steven Yeun), muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. Entediado com a nova rotina, David só começa a se adaptar com a chegada de sua avó. Enquanto isso, Jacob, decidido a criar uma fazenda em solo inexplorado, arrisca suas finanças, seu casamento e a estabilidade da família.

Do primeiro ao segundo ato da trama há uma construção com relação ao cenário em que irá se passar toda a trama, onde os personagens buscam se encaixar naquela nova realidade, mesmo no contragosto de alguns deles. Uma vez estabelecido se começa então a luta pela busca do sonho norte americano, mas para isso é preciso de certo empenho e sacrifícios. Ao mesmo tempo parece que há uma preocupação na família de se interagir com os demais norte-americanos do local e aí que surge uma curiosa mistura entre as duas culturas, mas que há muito em comum entre ambas do que se imagina.

Há, por exemplo, a influência da igreja entre os dois lados sendo que o lado norte americano é mais representativo pelo curioso personagem Paul, interpretado pelo ator Will Pattom. Por ele, se observa uma sociedade norte americana alimentada pela fé, mesma que por vezes cega, mas que ao menos a mantem ainda vida. Ao vermos ele carregando uma cruz em determinado momento da trama, constatamos ali uma sociedade movida pelo que acredita, mesmo pagando um alto preço ao longo da vida.

Mas, ao meu ver, o coração do filme se concentra no desenvolvimento familiar, principalmente na relação entre o neto e sua avó, interpretada pela ótima atriz veterana Yuh Jung Youn e vista regularmente nas obras do cineasta Hong Sang-Soo. Ali se há uma relação que não se encaixa muito bem no princípio, mas que logo ganha contornos interessantes e revelando cada vez mais as suas personalidades complexas e a maneira como ambos enxergam as situações em que eles vivem em uma terra estranha. A relação entre os dois é tão boa que acabamos até mesmo se esquecendo do conflito entre o marido e a esposa, muito embora eles não deixam de serem importantes ao longo da trama.

O ato final se encaminha em situações em que fortes emoções enlaçam os protagonistas e os apertam de tal forma que não há mais escapatória. Ao mesmo tempo, o roteirista se preocupa em logo em seguida em solucionar tudo e deixando a estranha sensação de que algo ficou faltando para se ter chegado a esse ponto seguro. Talvez seja uma forma de nos passar uma harmonia entre ambos os povos, mas que acaba meio se tornando artificial no último minuto.

De qualquer forma, "Minari" é um ótimo filme sobre a questão dos imigrantes em território norte americano, onde se vê, não exatamente uma terra das oportunidades, mas talvez um novo e árduo começo de um novo ciclo.

NOTA: Em cartaz nos cinemas.  

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