Sinopse: Após a morte inesperada de sua esposa, um comediante de stand-up se vê sozinho tendo que cuidar de sua filha pequena Anette, de apenas dois anos. Se não bastassem as dificuldades em cuidar dela, ele acaba descobrindo que ela tem um dom especial.
Leos Carax não está preocupado atualmente em fazer cinema, mas sim algo que possa tirar o cinéfilo de sua zona de conforto e para sim apreciar algo fora desse cenário. "Holy Motors" (2012), por exemplo, talvez seja um dos seus filmes mais provocadores de sua carreira, ao colocar o protagonista transitando em diversas atividades através de uma sociedade cada vez mais presa e viciada em suas necessidades. Em "Annette" (2021) ele nos convida para um show de luzes e cores, mas que não esconde o preço que o indivíduo para obter o sucesso no show business.
Em "Annette", um comediante (Adam Driver) que ganha a vida fazendo stand-up está passando por sérios apuros. Isso porque, após a morte inesperada de sua esposa, ele se vê sozinho tendo que cuidar de sua filha pequena, de apenas 2 anos. Como se não bastassem as dificuldades com o cuidado de uma criança, ele acaba descobrindo que ela tem um dom especial.
Já na abertura Leos Carax nos deixa claro que não testemunharemos um filme comum, ao ponto de ele exigir para que nós respiremos pela última vez e assim embarquemos em sua obra que se encontra fora do círculo de sucessos que se encontra Hollywood atualmente. O filme é um musical, mas sem nenhuma fórmula de sucesso dentro do gênero, sendo que mais se parece inúmeros números feitos em um palco de um Teatro da Broadway, mas fazendo o cinéfilo jamais se esquecer que está diante de um filme. A primeira hora, por exemplo, nos passa a sensação que, tanto o cineasta como também o seu elenco, está disposto a nos tirarmos do convencional que tanto o cinema norte americano deseja para que continuemos sonâmbulos ao longo do tempo.
Com uma belíssima fotografia e alinhada com uma edição de arte caprichada, o filme é uma crítica acida sobre as grandes celebridades que desejam sempre estarem no topo do sucesso, mas não conseguindo administrar as suas próprias vidas pessoais. O personagem de Driver, por exemplo, é uma pessoa desperta com relação ao show de horrores do qual lhe dá algum crédito, mas logo percebendo que está perdendo o seu estrelato até perante a sua linda esposa. Marion Cotillard resgata, mesmo em poucos momentos, o tempo em que soltou a sua voz no filme "Piaf" (2007) e nos surpreendendo em cenas deslumbrantes de uma ópera que sintetiza de forma trágica o destino de sua própria personagem.
O filme também não deixa de ser uma crítica dura perante ao nascimento das celebridades instantâneas, principalmente aquelas que fazem sucesso precocemente enquanto os pais bebem desta fonte até se esgotarem. Portanto, não é de se estranhar que boa parte do filme a pequena Annette seja representada na forma de uma boneca, pois os seus pais a enxergam como pequena entidade perfeita, mas se esquecendo do seu lado que lhe faz obter vida. Neste último caso ele somente surge no epilogo e sendo interpretada pela pequena, mas de enorme talento Devyn McDowell.
É claro que o filme como um todo é todo dominado pela atuação magistral de Adam Drive, que aqui ele interpreta uma espécie de álter ego do próprio cineasta. O protagonista ri de sua própria tragédia, mas se dando conta que a piada perdeu a sua graça no momento que se deixou ser dominado pelo seu próprio ego e perdendo tudo que mais ansiava no mundo. Sua cena final é tocante, ao perceber que não tinha poder algum para enfrentar as consequências dos seus próprios atos ao longo desse percurso cheio de glamour, mas sem nenhum toque de amor.
"Annette" é uma grande valsa orquestrada por Leos Carax e do qual o mesmo não se preocupa se você perder o passo, pois o filme não nasceu para todos.