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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Cine Especial: 'As Bestas'

Sinopse: Depois de se mudar para uma vila na Galícia, comunidade autônoma no noroeste da Espanha, um casal francês leva uma vida sossegada, ainda que não tenha boa relação com os vizinhos. É então que as animosidades se acentuam. 

O ser humano é um animal evoluído, mas que nos últimos tempos tem regredido para o lado da bestialidade e revelando o pior do seu ser na medida em que não é detido. Independente de qual patamar se encontra o ser humano revela o pior do seu ser na medida em que é contrariado, ou quando as suas ideias são dispensadas e não aceitando nenhuma justificativa. "As Bestas" (2022) é a síntese do lado selvagem do ser humano quando o mesmo se acha no direito de pisar no seu semelhante.

Dirigido por Rodrigo Sorogoyen, o filme conta a história de Antoine (Denis Ménochet) e Olga (Marina Foïs), um casal francês que vive em uma aldeia no interior da Galícia. Lá, eles levam uma vida tranquila, cultivam vegetais e reabilitam casas abandonadas, embora sua convivência com os moradores locais não seja tão amistosa quanto desejam. Sua recusa em concordar com a implementação de um parque eólico acentuará os desentendimentos com os vizinhos, especialmente com os irmãos Xan (Luis Zahera) e Loren (Diego Anido).

A cena de abertura já nos avisa sobre o que iremos presenciar ao longo da projeção, onde vemos determinados personagens domando um cavalo até ele não ter força alguma para poder escapar. Logo em seguida a história é jogada no cenário de um bar, onde determinados personagens ficam jogando conversa fora e começam a fazer comentários preconceituosos com relação aos franceses. Imediatamente percebemos que não é somente um caso de xenofobia ocorrendo naquele momento, como também uma forma de ameaça contra o protagonista Antoine e do qual o mesmo não aceita as mudanças que poderiam acontecer naquelas terras.

Se em "Aquarios" (2016) ali havia uma representação da elite em querer tomar um pequeno terreno para transformar em um imenso arranha céu, aqui vemos os dois lados da mesma classe se digladiando por interesses próprios. Se Antoine e Olga querem somente viver tranquilamente com o que tem, por outro lado, os irmãos Xan Loren começam a usar jogos de intimidação contra o casal, ao ponto que cada movimento se torna momentos de pura tensão. Para piorar eles são vizinhos, onde o perigo mora ao lado e fazendo com que cada saída dos personagens em seu terreno se torne um temor na medida em que vão caminhando.

Rodrigo Sorogoyen procura criar um cenário claustrofóbico mesmo em planos abertos, pois os dois irmãos vão se tornando cada vez mais ameaçadores e se distanciando cada vez mais da lógica e se entregando a bestialidade. Já Antoine possui uma força de vontade que o fará não desistir do lar em que vive, mesmo que para isso lhe custe muito. Desde "Bastardos Inglórios" (2009) o ator Denis Ménochet tem me surpreendido com a sua atuação, cujo a sua expressão ele consegue nos passar os mais diversos sentimentos e usando isso na construção dos seus respectivos personagens que ele vai abraçando.

Porém, Luis Zahera não fica muito atrás, ao entregar o que talvez seja a melhor atuação de sua carreira, ao criar para si um ser bestial movido por sonhos nunca alcançáveis e que acredita que uma fatia de dinheiro pode mudar a sua vida. já Marina Foïs cresce na medida em que a trama avança, ao ponto de se tornar a protagonista da metade para o final da trama e protagonizando diversos momentos tensos e que tememos pela sua vida. Falando nisso, pode-se dizer que o filme possui dois atos e cujo final do primeiro é um dos mais angustiantes do ano.

O filme chega em um momento em que o cinema não se sustenta mais através dos monstros clássicos, pois no mundo real o que nos dá mais medo é o próprio lado sombrio do ser humano. Portanto, uma vez que os homens se entregam a besta selvagem dentro de si tudo que nos resta é não recuar, mas sim tratá-los como cães raivosos que muito em breve serão abatidos e sem que tenhamos que fazer muito esforço, pois eles já perderam as suas almas há muito tempo. O filme termina em aberto, mas nós o levamos conosco, pois a luta continua perante horror vinda do próprio ser humano.

Vencedor de nove prêmios Goya, incluindo melhor filme, "As Bestas" é desde já um dos filmes mais impactantes do ano, ao nos jogar de frente com o comportamento selvagem do homem e nos ensinando a termos que o enfrentar de frente.   

Nota: Filme exibido no último Fantaspoa de Porto Alegre.  

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