Sinopse: O retrato de várias mulheres com vidas diferentes, mas tendo em comum o fato de estarem aprisionadas e sendo uma representação das mais de 40 mil mulheres brasileiras.
O documentário "Central" (2016) chamou atenção do Brasil todo pelo fato dos realizadores simplesmente adentrarem ao inferno na terra, pois as condições do Presídio Central de Porto Alegre visto na tela eram precárias e dando abertura para o tráfico de drogas. Porém, o que foi visto lá pode até mesmo ser a superfície, pois há também a questão de preconceito, do qual o mesmo se torna cada vez ainda mais explicito quando o assunto são mulheres presas. "Olhe Pra Elas" é um retrato cru das presidiárias gaúchas, mas que sintetiza o quadro desesperador que se alastra por todo o Brasil.
Dirigido por Tatiana Sager, a mesma realizadora do já citado "Central", o documentário nos convida para acompanharmos a vida de Adelaide, Tatiane, Catia, Naiane e Roselaine, sendo que todas tem algo em comum: o fato de serem mães e viverem longe dos filhos, além da condição de estarem aprisionadas. Cada uma dessas histórias de vida, mesmo com suas particularidades, representa uma questão de gênero e a realidade de mais de 40 mil mulheres brasileiras. Através dos relatos das protagonistas, é possível observar as graves consequências das omissões do Estado em relação ao encarceramento feminino, como carência de material de higiene pessoal, deficiências nos atendimentos de assistência social, psicológico e psiquiátrico e a falta de informações sobre os filhos que ficaram do lado de fora.
Diferente de "Central" Tataiana Sager decide visitar diversos presídios do estado, onde cada um possui condições precárias explicitadas e fazendo a gente se perguntar como as detentas sobrevivem em um cenário desolador e nenhum pouco acolhedor. A realizadora opta em deixar as detentas serem elas mesmas na frente da câmera e com isso obtêm a chance de conhecermos as vidas de cada uma de forma nua e crua. Desde mulheres que conviveram com o tráfico desde jovem, como também molestadas pelos próprios pais ou de alguém da família, nós sentimos o peso de suas histórias não somente pelas suas palavras, como também pelas suas cicatrizes físicas e emocionais que são vistas na tela. Cada uma, por exemplo, possui um olhar complexo, do qual representa todo o horror que veio a testemunhar ao longo de sua vida e que nenhuma palavra consegue representá-la.
Além disso, Sager dá espaço aos especialistas sobre as motivações que levaram essas mulheres em escolherem caminhos duvidosos, mas que não possuíam outro caminho. O preconceito contra a mulher, por exemplo, são um dos motivos, pois em alguns casos o marido é o grande responsável, mas pelo fato delas serem mulheres acabam pagando um alto preço. Por conta disso, nos damos conta que o estado democrático, por vezes, não passa de uma grande ilusão para essas mulheres, sendo que os fardos que ela carrega mais parecem que foram elaborados por um estado patriarcado.
O documentário em si é uma espécie de grande denúncia contra o sistema que permite que milhares de mulheres fiquem presas nas mais terríveis condições e colocando elas em um cenário para serem esquecidas ao longo do tempo. Porém, elas existem, falam e sentem a dor a cada minuto, seja pelo fato delas não desejarem aquela vida miserável, como também pelo fato de nem sequer conseguirem obter o direito de verem os seus filhos. O inferno, portanto, não se encontra embaixo, como muitos crentes acreditam, mas sim ao lado de nós e que, infelizmente, não fazemos nada a respeito.
"Olhe Pra Elas" é um documentário que nos dá uma chance de testemunharmos uma realidade nua e crua sobre diversas mulheres e das quais merecem uma segunda chance para obter um recomeço na vida.
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