Sinopse: Aryan, um jovem migrante, é baleado ao tentar ilegalmente cruzar a fronteira da Hungria. Depois do choque provocado pelo acidente, descobre que adquiriu o poder de levitar e agora, preso em um campo refugiados, precisa contar com a ajuda do Dr. Stern, que tem interesses muito específicos na habilidade sobrenatural.
No mundo cinematográfico atual, comandado por adaptações de HQ de super heróis, é cada vez mais raro encontrar um filme desse gênero que vai além do óbvio, mas que usa elementos fantásticos em prol de algo mais reflexivo. Corpo Fechado, por exemplo, foi um verdadeiro estranho no ninho numa época onde nem havia ainda essa febre atual dos heróis do cinema, mas que era a frente do seu tempo e apontava o caminho para a sobrevivência do gênero. Lua de Júpiter vai ainda mais além, ao usar elementos fantásticos para se criar uma trama que sintetize os principais problemas que aflige mundo contemporâneo.
Dirigido por Kornél Mundruczó (Delta), o filme acompanha a história de Aryan (Zsombor Jéger), jovem imigrante que, ao tentar passar ilegalmente na fronteira da Ungria, é atingido por uma saraivada de balas. Porém, Aryan não só sobrevive, como também consegue flutuar e possuindo dons muito além desse. Dr. Stern (Merab Ninidze) vê no jovem uma oportunidade para lucrar com a fé cega das demais pessoas, mas também enxerga no rapaz uma forma de buscar a sua própria redenção.
Antes mesmo dos elementos do gênero fantástico entrarem em cena, Kornél Mundruczó já cria um cenário familiar, principalmente para aqueles que acompanham os noticiários do dia a dia, sobre a difícil vida dos imigrantes que fogem de seus países de origem e arriscam as suas vidas entrando, por vezes, ilegalmente. Uma vez que o cineasta faz com que gente adentre numa realidade familiar, imediatamente aceitamos de bom grado os elementos que surgem a seguir, mesmo quando eles, por vezes, soem inverossímeis. Porém, o cineasta surpreende ao realizar efeitos visuais que tornem esses momentos realistas, tendo um alto teor de verossimilhança, pois eles não são exagerados mas sim correspondem com a proposta principal da trama.
Mas o cineasta vai ainda mais além, ao criar inúmeros planos-sequências mirabolantes e que não devem em nada se comparado a produções norte americanas. Devido a isso, por exemplo, o filme me fez lembrar o maravilhoso Filhos da Esperança de Alfonso Cuarón que, embora não possua momentos tão mirabolantes quanto aquele filme, é de se reconhecer que foram muito bem elaborados: a cena do hotel que ocorre na reta final da trama é realmente surpreendente.
Além da questão sobre a imigração, Kornél Mundruczó faz uma crítica sobre a sociedade atual, onde cada vez mais se encontra alienada, presa as redes sociais e descrentes com relação a religiões e as velhas tradições. Se por um lado isso possa parecer um discurso conservador, do outro, não há como negar que existe sim um problema cada vez mais elevado das pessoas presas em suas mídias eletrônicas, mas se esquecendo de praticar algo que faz delas mais humanas. Em tempos onde se discute sobre um futuro cada vez mais indefinido, esses temas para serem debatidos é sempre bem vindo.
Lua de Júpiter é belo estranho no ninho em meio a tantas super produções americanas de peso, mas que se sobressai ao fazer a gente debater sobre o mundo atual do qual nós vivemos.
Nota: filme será exibido para associados no próximo domingo (08/07/18), as 10h15min na Casa de Cultura Mario Quintana e seguirá em cartaz nas sessões das 15horas.
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