Nota:
filme exibido para associados no último sábado (21/07/18), na Casa de Cultura
Mario Quintana.
Sinopse: O advogado Shigemori
é obrigado a pegar um caso de assassinato na defesa de Misumi, que tem um
registro criminal que aconteceu há 30 anos. Mesmo Misumi confessando a autoria
do homicídio, enfrentando a sentença de morte, Shigemori tem dúvidas sobre a
culpa dele no caso.
Já na abertura do
filme nos damos conta que não estamos diante de uma obra convencional, mas sim
de algo que irá muito além de uma mera história de crime e investigação. Já no
início, por exemplo, já sabemos quem é o responsável por um crime que irá
moldar a trama como um todo. O mais surpreendente é que o próprio assassino se
entrega a policia e para ser julgado pela justiça.
O que é preciso ficar
claro, até mesmo devido a imprevisibilidade vista dos minutos iniciais, é ter a
consciência que as ações de cada personagem vistas no longa irão moldar as consequências da trama como um todo. Esses eventos no enredo, aliás, poderiam
ser catastróficos se fossem comandados por um diretor qualquer. Porém, Hirokazu
Kore-Eda, cineasta japonês que surpreendeu com o delicado Pais e Filhos,
demonstra total segurança na direção em meio a uma trama nebulosa e de inúmeras
camadas a serem descascadas.
Percebe-se, aliás,
que o cineasta não bebe de nenhuma fonte do gênero policial já vista no cinema.
Talvez sua real intenção seja retratar como a justiça realmente age em
situações como essa, fazendo a gente tentar compreender as reais ações de cada
um dos personagens e escancarar o lado burocrático de um processo que não
poderia ser tratado de modo convencional.
Desse modo, é uma
narrativa que supera até mesmo o próprio mistério. Mistério, aliás, que faz o
cinéfilo ficar mais intrigado ao tentar desvendar as raízes do crime e tentar
destrinchar o que levou o personagem principal a cometer tal ato. Mas isso se
torna um mero detalhe, pois a mente de Misumi (Koji Yakusho) é questionada e
invadida pelos seus próprios advogados, que procuram obter com todos os meios
uma forma de ganhar o caso.
Na visão da justiça
vista no filme, Misumi deixa de ser um homem e se torna apenas um ser a ser
julgado por um julgamento sem provas, mas com convicções. Quem espera um filme
de julgamento, aliás, pode até se decepcionar, pois ele não lembra em nada
clássicos como, por exemplo, Anatomia de um Crime (1959). O foco principal,
tanto se localiza nas membranas da advocacia, como também nas dores, destinos e
certas atitudes que levam as pessoas a um caminho indefinido.
Já o lado burocrático
do caso, por vezes, se torna caricato, já que os advogados e promotoria se
sentem perdidos e sem saber o que fazer no decorrer do tempo. A meu ver, o foco
principal do cineasta Hirokazu Kore-Eda está mais em potencializar as atuações
dos seus principais interpretes. Koji Yakusho (Babel) dá um verdadeiro show de
interpretação, pois ele consegue transmitir em seu personagem todos os
sentimentos e conflitos internos, mesmo quando sua atuação é eclipsada pelo
ótimo desempenho de Masaharu Fukuyama que interpreta o seu advogado na trama.
Hirokazu Kore-Eda comprova
que o trabalho de direção de um filme não requer somente um bom roteiro e
elenco talentoso, mas também uma visão autoral, perfeccionista e sem ter a
preocupação em revelar as consequências das ações dos seus personagens
principais de uma forma apressada. Atenção para as cenas dos diálogos entre o
protagonista e seu advogado que, desde já, são os melhores momentos do filme. O
Terceiro Assassinato foge da previsibilidade dos filmes policiais e nos brinda
com um filme humano e sobre as reais motivações que levam certas pessoas a
cometerem tais atos.
Onde Assistir: Sala
Eduardo Hirtz. Casa de Cultura Mario Quintana. Rua das Andradas nº 736, centro
de Porto Alegre. Horário: 15h15min.
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