Sinopse: Um grupo de pessoas
que vive no interior aluga um ônibus para ir à São Paulo assistir à uma peça no
teatro Ruth Escobar. Ao fim do espetáculo, elas descobrem que o motorista não
está e o ônibus está trancado. As pessoas não têm saída a não ser esperarem por
ele. Mas é tarde da noite e eles ficam apavorados com os perigos que podem
surgir como moradores de rua e um bocado de gente estranha.
Dependendo do seu conteúdo, um filme pode possuir inúmeras interpretações,
das quais cada um que assiste pode tirar as suas próprias conclusões. É o caso
agora de Uma Noite de Sampa, novo filme do cineasta Ugo Giorgetti (Cara ou
Coroa) que, mesmo em pouco mais de uma hora de duração, a produção possui inúmeras
camadas de interpretação. Se formos mais longe, o filme pode ser interpretado como
uma metáfora da nossa sociedade brasileira atual, do qual se encontra cada vez
mais presa devido ao medo da violência suburbana e dos estereótipos criados
pelo dia a dia.
Mas talvez Uma Noite Sampa sinalize por algo que vai muito além do que
isso. A proposta do cineasta que, há quem diga, sempre enxergou São Paulo com
um olhar de dúvida, injeta aqui uma inspiração vinda do clássico O Anjo Exterminador
do mestre Luis Buñuel. Naquele clássico, Buñuel retrata inúmeros personagens da
alta burguesia, sendo impedidos de sair da sala principal de um casarão por
algo que eles próprios não conseguem explicar.
É mais ou menos isso então que acontece em Uma Noite em Sampa: após assistirem
a um espetáculo teatral, grupo que veio do interior, sendo alguns ex-moradores
de São Paulo, ficam á espera do motorista do ônibus, do qual inexplicavelmente
desaparece do local e fazendo com que o grupo fique a mercê do lado de fora do ônibus
em plena noite escura. A longa jornada de espera na frente do veiculo logo vai descascando
os medos que cada um ali guarda para si, não somente da violência que ocorre na
grande metrópole, como também por possuírem receios perante aos drogados, sem
tetos e figuras solitárias e estranhas que surgem no decorrer da noite.
Embora o filme tenha sido feito há pouco tempo, ele possui na realidade
um clima meio retro, mas que sintetiza todo o clima de incerteza e medo do qual
o Brasil vive atualmente. É ai que chego ao ponto do início do texto, já que a
obra possui muito mais conteúdo do que apenas o que a gente vê na tela. Assim
como foi visto em seus filmes anteriores, Ugo Giorgetti sabe como ninguém retratar
de uma forma simples, porém crua, a divisão de classes que se encontra a nossa
sociedade.
Infelizmente as pessoas se acostumaram mal a ficar presas ao estereótipo,
do qual se cria então o medo, mas sem razão aparente. Nos momentos finais do
filme, por exemplo, uma personagem cega dá um exemplo digno de nota e fazendo
com aqueles que têm o dom da visão não consigam enxergar além do que os seus
olhos podem ver. Essas pessoas então ficam presas como estátuas em seu próprio presente,
como se elas estivessem no passado, mas o mundo continua andando.
Com um grande time de atores do teatro paulistano, como Fernanda
Garrafa, Cris Couto, Maria Stella Tobar, Roney Facchini, Thaia Perez (que está
no elenco de Aquarius) e Suzana Alves (sim, a Tiazinha), Uma Noite em Sampa
vem nos dizer que estamos nos travando por medos, preconceitos e que, se
continuarmos nesse retrocesso, seremos apenas seres humanos empalhadores para
os olhos do resto do mundo.
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