Sinopse: Paulina (Dolores
Fonzi) preferiu deixar os estudos em advocacia para fazer trabalhos sociais e
ser professora numa região pobre da Argentina. Na segunda semana de trabalho,
Paulina é estuprada por um grupo e em vez de abandonar o lugar, segue com sua
vida sem imaginar que os agressores são bem próximos dela.
Em países como o nosso em
que a lei, por vezes, não é posta de uma forma correta, mas sim substituída de
uma forma, cujos métodos são intolerantes, rápidos e clandestinos. Se me
perguntarem sobre o que eu acho com relação ao aborto eu diria que sou contra, mas
a favor de uma lei legal, para que assim acabem com essas clínicas clandestinas
que somente prejudica ou até mata inúmeras jovens. É fácil apontar o dedo e
acusar, mas quero ver saber dialogar de uma forma construtiva do por que
apontar e julgar sem pensar.
Isso são temas cada vez mais
recorrentes acontecendo em nosso país, principalmente onde passamos por um
momento de crise política e onde ocorrem inúmeros retrocessos contra povo.
Infelizmente a cultura do estupro, por exemplo, é uma realidade crua nossa, da
qual o machismo, infelizmente, somente se fortalece entre homens que acreditam
que podem cometer tal ato. Se o nosso cinema nacional atual não lançou um filme
até recentemente que toque nesses assuntos espinhosos, eis que o cinema Argentino
lança Paulina, um filme mais atual do que nunca.
Paulina (Dolores Fonzi)
possui um futuro promissor na área da advocacia, mas ao invés de segui-la,
prefere dar aulas para alunos de uma região pobre da Argentina e indo contra os
desejos do seu pai (Oscar Martinez) que é um Juiz poderoso. Contudo, numa
determinada noite na estrada, Paulina é pega e estuprada por um grupo de jovens
da região. A protagonista, porém, não recua e continua seus trabalhos na escola,
mas com a possibilidade de estar dando aulas para os seus próprios algozes.
Dirigido por Santiago Mitre (Leonera), o cineasta já nos brinda com um belo “plano sequência’, onde acompanhamos
o dialogo entre pai e filha e os desdobramentos que irão acontecer dessa conversa.
Já no cenário dos acontecimentos, o cineasta é hábil em apresentar dois núcleos
da trama, dos quais ambos irão se colidir numa fatídica noite. Para a apresentação
de ambas, o cineasta tem a proeza de retornar em duas cenas, das quais
enxergamos por outra perspectiva e descobrindo os verdadeiros fatos das ações
de determinados personagens.
Mas por mais que Mitre nos
apresente a sua forma construtiva de filmar, é no roteiro e na estupenda
atuação do elenco é que mora a alma do filme, ao começar pela protagonista
Paulina: interpretada por uma intensidade assombrosa pela atriz Dolores Fonzi,
Paulina é uma rocha com relação no que acredita, principalmente com relação às
leis dos direitos humanos, mesmo tendo participado de uma experiência horrível e
que poderia mudar a sua forma de pensar. Com um olhar que mais parece um oceano
infinito, Dolores Fonzi passa todo o conflito interno que a sua personagem
percorre, mas ao mesmo tempo demonstrando convicção e o desejo de seguir em frente,
mesmo com a possibilidade inevitável de mudanças em seus planos de vida
futuramente.
Por sua vez o seu “pai juiz”,
sendo interpretado com intensidade pelo ator Oscar Martinez, é uma espécie de
outro lado da mesma moeda. Embora pai e filha pertençam no mesmo mundo com
relação às leis criadas por uma democracia, ambos praticam de formas
diferentes. Se por um lado Paulina prefere acreditar no acredita, como no caso
de leis que defenda os direitos humanos e que se coloque elas em pratica de uma forma
coerente, por sua vez, o seu pai usa o seu poder como juiz para praticar a
justiça com as próprias mãos em defesa da filha, o que levam ambos então em conflito.
Ambos em cena dialogando é a
força matriz do filme, já que ali há um confronto entre ação e razão, do qual
faz com que a gente compreenda ambos os lados e fazendo a gente pensar até que
ponto as leis atuais, pondo elas em prática, podem ser exercidas de uma forma
correta num mundo cada vez mais opressor. Paulina é uma força da natureza e que
acredita no que sempre aprendeu ao longo dos anos, mas, se colocando em numa
situação, da qual ela poderia facilmente virar a mesa, mas que prefere então
agir de forma tolerante, compreensiva e agir da forma que não quebre os seus princípios.
Um teste de força de vontade, da qual opiniões diversas se colidem e fazendo com
que pessoas próximas a ela não consigam compreender o seu posicionamento, pois para
eles seria mais fácil cortar o mal pela raiz, ao invés de sentar, entender e
respeitar a posição dela.
Com um final poderoso e que
deixa em aberto as inúmeras possibilidade sobre o futuro da protagonista, Paulina
talvez venha a ser o filme mais universal do momento, do qual ele toca na
ferida de inúmeras questões, mas que infelizmente muitos fogem para não
compreender e sim abraçar uma ação rápida e intolerante.
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