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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 15 de abril de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Ervas Secas'

Sinopse: Num local remoto um professor de meia-idade, que anseia por uma transferência para Istambul, desenvolve um comportamento um tanto que incomum.  

Atualmente se diz que vivemos em uma sociedade mesquinha e de que cada cidadão pensa em si mesmo ao invés do seu próximo. Uma coisa é dizer isso e ser jogada ao vento, outra é analisarmos de perto determinado indivíduo e tentarmos, ao menos, procurar achar a causa desse tipo de posicionamento. "Ervas Secas" (2023) procura nos dar uma brecha sobre esse tipo de pessoa, muito embora as respostas não venham de forma facil, mas procurando que a gente levante certos questionamentos.

Dirigido por Nuri Bilge Ceylan, do filme "3 Macacos" (2009), o filme conta a história de um professor chamado Samet (Deniz Celiloğlu) que espera ser nomeado para Istambul após o dever obrigatório em uma pequena aldeia da Turquia. Depois de muito tempo esperando, ele perde toda a esperança de escapar dessa vida sombria. No entanto, seu colega Kenan (Musab Ekici) o ajuda a recuperar a perspectiva, mas ao mesmo tempo surgindo novos problemas que faz com que o protagonista se torne ainda mais complexo do que a gente imagina.

A história do filme é baseada no diário do escritor e professor Akin Aksu, mantido por ele durante seu serviço obrigatório de 3 anos na Anatólia. Com mais de três horas de duração, o diretor Nuri Bilge Caylan procura fazer com que a vastidão da neve vista na tela se torne um personagem primordial para o desenvolvimento da trama e fazendo com que os demais personagens se sintam isolados e fazendo com que alguns anseiam em sair de lá o mais rápido possível. Samet é um que deseja sair o quanto antes, mas cuja permanência faz com que ele se revele aos poucos e nos transmitindo alguém que faz com que a gente consiga questioná-lo facilmente ao longo da projeção.

Toda trama gira em seu entorno, seja através de suas ações, como também a forma como ele enxerga aquele mundo isolado e do qual ele obtém uma ideia de cada pedaço daquele lugar quando ele tira suas fotos e sendo que é através delas que tenhamos uma noção do que ele realmente enxerga sobre cada ponto e pessoa daquele território. Porém, é partir da sala de aula em que o protagonista revela a sua real faceta e fazendo a gente até mesmo temer pelas suas ações perante as crianças e cuja quais ainda estão ainda desenvolvendo os seus sentimentos perante o mundo em que estão vivendo.

É através delas, por exemplo, que questionamos as suas reais intenções sobre elas, principalmente quando determinada aluna o acusa de agir de forma inadequada. Ao mesmo tempo, o local não se revela também como um ambiente dos mais saudáveis, cuja regras de etiqueta nos soa de forma hipócrita, para não dizer quase autoritária. Esse ponto em questão me fez lembrar do recente filme alemão "A Sala dos Professores" (2023) e cujo questionamento com relação ação de determinados personagens em ambiente escolar pode gerar um efeito cascata surpreendente.

O filme ganha contornos ainda mais complexos quando se cria uma espécie de trindade, composta pelo protagonista, seu amigo Kenan e de uma recém-chegada professora chamada Nuray (Merve Dizdar). Através desse triangulo se nasce um jogo de interesses, onde o protagonista não deseja a professora por um certo momento, mas decide conquistá-la a partir do momento que Kenan se interessa por ela. Se nasce, portanto, um jogo psicológico, onde observamos o protagonista desejar a conquista e através de uma lábia que faz a gente questioná-lo devido a sua mesquinharia, mas o tornando um ser ainda mais interessante ao ser observado de perto mesmo com toda a nossa repulsa.

Com o trio, o cineasta Nuri Bilge Ceylan constrói algumas das melhores cenas do filme, onde uma conversa corriqueira se envereda para assuntos que vai desde a política, lado socialista e a hipocrisia que cada vez mais se alastra na vida humana. O protagonista, portanto, por mais que revele os seus verdadeiros defeitos, ele não se entrega para mudanças e se impondo perante aquele mundo que anseia abandoná-lo o quanto antes. Portanto, a cena final é simbólica, pois ele observa o mundo abaixo como se ele fosse microscópico e fazendo se sentir superior perante aquela realidade, mesmo correndo o risco de ficar cada vez mais isolado do mundo e do qual continuará seguindo em frente, independente das mudanças melhores ou piores que aconteceram ao longo dos anos.

"Ervas Secas" é um épico extremamente belo visualmente e ao mesmo tempo um estudo do comportamento humano que se encontra cada vez mais absorvido em seu mundo particular criado para si próprio. 


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