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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 12 de abril de 2024

Cine Especial: 'A Liga Extraordinária - Um Bom Filme Ruim'

Houve um tempo que colecionava muito a revista SET e sempre me guiava com relação ao que eu iria assistir através de suas críticas. Me lembro, por exemplo, de uma matéria especial sobre o escritor e desenhista Alan Moore e das dificuldades de Hollywood em levar as suas histórias para o cinema. Na mesma revista havia um especial e crítica sobre "A Liga Extraordinária" (2004), baseado em uma das melhores HQ do escritor, mas do qual detestou, a crítica detestou e fez Sean Connery se aposentar de sua longa carreira como ator.

Por conta disso, eu somente assisti ao filme quando ele foi exibido pela primeira vez na Tela Quente da Globo, mas por alguma razão eu estava distraído com alguma outra coisa e acabei não adentrando na obra como deveria. Anos depois eu comprei em volume único "A Liga Extraordinária" escrito por Alan Moore e desenhado por Kevin O Nell, e da qual é uma verdadeira homenagem aos clássicos literários, que vai desde "Guerra dos Mundos", “Drácula”, “Homem Invisível” e “O Médico e o Monstro”. Pode-se dizer que Alan Moore criou um universo expandido dos clássicos da literatura, onde os seus principais heróis se juntavam para combater um mal maior que se escondia nas sombras e que poderia ameaçar o mundo e gerar a primeira Grande Guerra.

É claro que tudo é moldado de acordo com a visão, por vezes, peculiar na forma como Moore retrata esses conhecidos personagens. Allan Quatermain, por exemplo, surge pela primeira vez como um velho a beira da morte e viciado em ópio. É uma bela aventura, porém, sombria, inteligente e bastante criativa. Com certeza daria um belo filme se fosse levado fielmente para o cinema. Mas nem tudo foram flores durante a realização.

Quando o filme foi filmado e lançado para o cinema eram tempos iniciais em que as adaptações das HQ começariam o seu reinado. X-Men estava em seu segundo capítulo, "Homem Aranha" (2002) havia se tornado um verdadeiro grande sucesso e o céu não era o limite quando hollywood descobre um novo ninho com ovos de ouro. É claro que desta ambição surge a pressa e isso pelo visto hollywood nunca aprendeu da maneira certa.

O escolhido para a direção ficou a cargo de Stephen Norrington, que havia feito "Blade" (1998) e fazendo com que os executivos voltassem a ter mais fé no sucesso das HQ para o cinema. Suas intenções eram fazer uma adaptação bastante fiel a sua fonte original, com classificação 16 anos e adaptando todos os acertos e defeitos dos personagens que foram vistos na obra de Alan Moore. O problema, ironicamente, foi justamente o próprio Sean Connery.

O eterno 007 era também produtor do filme e não via com bons olhos um Allan Quatermain enfraquecido devido a velhice e viciado. Connery já estava sentindo a idade na época, mesmo assim estava disposto em interpretar um personagem que com certeza serviu de inspiração para que Steven Spielberg criasse o seu Indiana Jones. Por conta disso, tanto intérprete como cineasta tiveram atritos o tempo todo durante as filmagens e o que prevaleceu foi a ideia de Quatermain ser um herói envelhecido, porém, disposto para uma nova aventura para enfrentar os seus demônios interiores que o atormentavam devido um passado doloroso.

Os demais da equipe que interpretariam os outros personagens principais eram alguns conhecidos da época, mas que jamais se tornaram verdadeiros astros. Peta Wilson faria Mina Harker de Drácula, porém, diferente da HQ, aqui ela é uma vampira e que se transforma até mesmo em diversos morcegos. Devido aos direitos autorais, o Homem Invisível da HQ obteve um outro nome e origem diferente e sendo interpretado por Tony Curran. Jason Flemyng faria Henry Jekyll, sendo que a versão do monstro aqui é bem fiel se comparada a HQ e muito superior ao que foi visto posteriormente no filme "Van Helsing - O Caçador de Monstros" (2004).

Naseeruddin Shah faria um Capitão Nemo visualmente fiel a sua fonte original, mas ganhando na adaptação novos dotes e até mesmo lutando artes marciais. Curiosamente, dois personagens que não estão na HQ foram levados para o cinema, como no caso de Dorian Gray, extraído do clássico literário "O Retrato de Dorian Gray" e que aqui foi vivido por Stuart Townsend. Mas talvez a maior mudança tenha sido inserção de um personagem literário norte americano, detetive Tom Sawyer e que aqui foi interpretado por Shane West.

Elenco pronto, mas com roteiro sendo refeito ao menos umas vinte vezes devido a exigências de Sean Connery. As desavenças entre ele e o diretor foram tão grandes que Stephen Norrington quase abandonou o projeto e só não faria isso porque senão seria processado pelo estúdio. Houve também diversas brigas entre figurantes, orçamento sendo cortado pelo estúdio e fazendo com que o realizador lutasse contra o relógio pela conclusão das filmagens. O resultado foi uma bilheteria de US$ 179 milhões de Dólares contra um orçamento de US$ 80 milhões e se tornando um fracasso de crítica e público para época.

Porém, o filme acabou sendo redescoberto quando foi lançado em DVD, se tornando um verdadeiro sucesso de vendas e fazendo com que o estúdio recuperasse um pouco mais do investimento, mas não sendo o suficiente para garantir uma continuação. O filme também teve boa audiência quando foi exibido nas tvs fechadas e abertas e fazendo com que despertasse minha curiosidade em assisti-lo pela segunda vez para eu poder melhor avaliá-lo. Concluo que e ele é um ótimo filme ruim.

Ele tem os seus defeitos, claro, mas ao mesmo tempo é uma trama com começo, meio e fim, cuja aventura possui aquele ar mais inocente, mesmo tendo sido extraída de uma fonte tão complexa. Confesso que gostei de Sean Connery como Allan Quatermain, mesmo que a sua versão tenha sido a responsável pelo primeiro grande conflito entre o diretor. É aquela típica história do velho herói aposentado que se vê obrigado em participar de uma nova aventura e neste caso aqui cai como uma luva. Portanto, a decisão de colocar o personagem Tom Sawyer dentro da trama acaba tendo sua lógica, já que Quatermain vê nele a chance de exorcizar o seu passado e ensinar algo que sabe para o próximo futuro aventureiro.

O charme do filme se encontra no fato da trama se passar no final do século 19, onde as tecnologias que posteriormente dominariam o mundo estavam a recém começando e dando um ar retro a produção como um todo. O longa foi criado em tempos que o CGI não era usado assim com tamanha abundância como se vê hoje em dia, sendo que aqui há efeitos mais práticos, principalmente na elaboração do visual do Dr. Jekyll. Claro que há alguns momentos que o filme descarrilha, principalmente no combate final em que muita coisa acontece, como se o roteiro ficasse de lado e gerando assim alguns furos narrativos bem nítidos.

O resultado ficou aquém do esperado para a época, mas é interessante observar que aventura possui mais peso, não se envergonhando de nós dizer que ela somente existe para nos entreter e obtendo assim a sua própria identidade. Para alguns é lembrado como o filme que enterrou a carreira de Sean Connery, mas passado a tempestade acho que a obra merece hoje obter uma nova revisão, sendo que já estava acontecendo logo após o seu lançamento. Em tempos de franquias intermináveis e cujo CGI cada vez mais envenena o resultado nunca é demais apreciar uma aventura descontraída.

Mais de vinte anos se passaram, mas "A Liga Extraordinária" sobreviveu ao teste do tempo, mesmo com todos os seus defeitos. 

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