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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Doutor Sono' - Kubrick vs King

Sinopse: Ainda extremamente marcado pelo trauma que sofreu quando criança no Hotel Overlook, Dan Torrance lutou para encontrar o mínimo de paz. Essa paz é destruída quando ele encontra Abra, uma adolescente corajosa com um dom extra-sensorial, conhecido como Brilho.   

"O Iluminado" (1980) é um daqueles filmes que tinha tudo para dar errado, pois as filmagens foram um verdadeiro inferno e cujo o resultado se tornou positivo graças ao sorriso vindo dos Deuses do cinema. Dentre as coisas mais problemáticas se encontrava justamente no atrito entre o cineasta Stanley Kubrick e o escritor Stephen King, cujas suas visões eram diferentes uma da outra na concepção da obra. Visto hoje, se percebe que neste embate quem saiu ganhando foi Kubrick, mesmo no contragosto de King e que sempre considerou adaptação inferior à sua fonte original de sua autoria.
Não satisfeito com o resultado, mesmo quando o filme se tornou um grande clássico, King procurou a televisão para os mesmos fazerem uma minissérie baseada em seu livro. o resultado foi a minissérie "O Iluminado" (1997), bastante fiel a sua fonte, mas sem nenhum pingo de personalidade autoral e se tornando nada especial. Eis que agora chega ao cinema "Doutor Sono", filme que dá continuidade aos eventos do clássico e cujas as visões autorais dos dois artistas estão impregnadas na obra como um todo.
Dirigido por Mike Flanagan, que havia comandado recentemente a série "A Maldição da Residência Hill" (2018), o filme foca novamente na infância de Danny Torrance, que conseguiu sobreviver a uma tentativa de homicídio por parte do seu pai, um escritor perturbado por espíritos malignos do Hotel Overlook. Ao se tornar adulto (Ewan McGregor) ele é alguém traumatizado e alcoólatra. Sem residência fixa, ele se estabelece em uma pequena cidade, onde consegue um emprego no hospital local. Mas a paz de Danny está com os dias contados a partir de quando cria um vínculo telepático com Abra, uma menina com poderes tão fortes quanto aqueles que bloqueia dentro de si.
Se havia alguma dúvida se o filme focaria mais em sua fonte original, ou não visão autoral de Stanley Kubrick, isso é dissipado no momento em que a trama retorna justamente no cenário dos derradeiros acontecimentos do filme original. É na abertura, por exemplo, que já se percebe que Mike Flanagan faz um grande esforço, não somente na reconstituição do clássico cenário do hotel, como também na caracterização dos atores para que eles ficassem quase idênticos aos interpretes originais. Não é somente uma forma para alegrar os fãs da velha guarda, como também fisgar a curiosidade das novas plateias e fazerem com que elas tenham interesse em conhecer o grande clássico oitentista.
Porém, se há um respeito nítido pelo inesquecível cineasta, por outro lado, há também um interesse dos realizadores em não se esquecerem do verdadeiro pai da fonte literária. Há então no primeiro ato um alinhamento entre as duas visões, tanto de Kubrick como também de King, mesmo quando a gente sabe muito bem que nenhum dos dois se sentou na cadeira de direção, mas nos dando a entender que os realizadores fizeram questão de incrementar as duas visões autorais e que são vistas na tela. É, portanto, um primeiro ato em que se respeita até por demais da fonte literária da autoria de King e cujo o resultado é algo parecido do que foi visto em sua última adaptação recente que foi "It – Capítulo Dois".
Isso acaba exigindo certa paciência para aqueles que forem assistir ao filme, mesmo quando inúmeras situações acontecem na tela a todo momento. Porém, é preciso destacar que Ewan McGregor se sai muito bem como Danny adulto, onde ele se torna uma pessoa cheio de conflitos internos e cuja a sua única forma de exorcizar os seus demônios é aceitar o seu verdadeiro fardo. É nesse meio tempo que então conhecemos Abra (Kyliegh Curran), jovem que possui o mesmo dom de Danny e que ambos irão se unir contra algo muito ruim que estará por vir.
A ala de vilões, por sua vez, é muito bem representada por seres imortais, que sugam o potencial de jovens com o mesmo dom de Danny e para sim continuarem caminhando na terra. Destaque para a líder do grupo Rose the Hat, interpretada pela atriz Rebecca Ferguson e que simplesmente dá um show toda vez que surge na tela. É a partir deles, por exemplo, que o filme ganha ares mais pesados, principalmente em uma sequência em que eles cometem tamanha crueldade contra uma criança e cuja a cena se torna até mesmo explicita.
É a partir desse momento em que os dois lados dessa moeda se chocam e é então que Mike Flanagan tenta criar um visual que lembre, tanto as ideias megalomaníacas de King elaboradas em seu livro, como também a visão autoral de Kubrick. O resultado é uma salada visual bastante curiosa, cujo os efeitos visuais são incrementados justamente para expandir as ideias criativas do escritor e que antigamente, por falta de recursos, não seriam possíveis de serem adaptadas para o cinema. Atenção para a sequência em que a personagem Rose viaja entre o tempo e o espaço e cujo o momento é tão criativo que nem com o recurso 3D causaria o mesmo efeito.
Embora o segundo ato em diante aconteça alguns furos no roteiro, além de momentos um tanto que forçados, é no seu ato final que mora o coração do filme como um todo.  Ao retornarmos para o Hotel Overlook, por exemplo, Mike Flanagan se entrega ao clássico de Stanley Kubrick como um todo e fazendo a gente sentir aquela gostosa sensação de nostalgia ao revisitarmos um cenário que nos brindou com cenas que entraram para a história do cinema. Pode não possuir o mesmo impacto que a obra original havia adquirido, mas também não faz feio.
"Doutor Sono" é uma boa continuação de um grande clássico e que nem a mistura de visões diferentes de dois grandes artistas atrapalham o resultado. 


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