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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Diz a Ela Que Me Viu Chorar' - Os excluídos por Doria

Sinopse: Moradores de um hotel no centro de São Paulo vivem amores tumultuados por sua condição vulnerável e pelo uso abusivo de crack. O edifício é parte de um programa municipal de redução de danos prestes a ser extinto.  

"Era o Hotel Cambridge" (2017) falava de imigrantes e sem tetos que conviviam em harmonia em um prédio abandonado em São Paulo. Porém, a qualquer momento, eles seriam expulsos a mando do governo. Transitando entre realidade e ficção, o filme foi um retrato cru sobre o posicionamento fascista do estado perante pessoas que desejam continuar vivendo e tendo o seu humilde teto.
Em tempos cada vez mais fascistas, onde existe um conservadorismo completamente hipócrita, cada vez mais se tem notícias de pessoas pobres que sofrem pelos cortes sociais e que eram o único meio de se manterem na linha. Pessoas viciadas em drogas, bebida e que vivem na rua, ao menos, conseguem ajuda de samaritanos que, mesmo com o pouco que tem, ainda tentam ajudar em tempos críticos. "Diz a Ela Que Me Viu Chorar" trata mais ou menos disso, onde testemunhamos uma espécie de torre de Babel de inúmeras figuras vindas de uma realidade sofrida, mas que o governo autoritário insiste em ignora-las.
Dirigido por Maíra Buhler, do filme "A Vida Privada dos Hipopótamos" (2015), o filme desvenda o dia a dia dos excluídos, por mais que suas trajetórias possam ter sido distintas uma da outra, o destino de todos eles acabam sendo semelhantes ao ser refém do próprio vício. Confinados em um prédio localizado em São Paulo, um grupo de viciados em crack luta para reconstruir a própria vida enquanto passa pela difícil fase da desintoxicação. Enquanto alguns encaram a situação com bom humor e otimismo, outros já viram dias melhores.
Maíra Buhler procura quase nunca se interagir com os principais personagens que surgem na tela, mas sim para que eles ajam naturalmente e assim testemunharmos o dia a dia deles da forma mais verossímil possível. Com isso, testemunhamos situações até mesmo imprevisíveis, das quais não estavam no script, mas que aconteceram porque isso é o mundo real deles. Ao vermos, por exemplo, alguém quase sendo morto durante uma briga no corredor do prédio, constatamos que aquelas pessoas vivem dentro de uma panela de pressão, pois todos os dias enfrentam os seus próprios demônios internos e para assim conseguirem a sua redenção.
Apesar da diretora não interagir, alguns personagens acabam se abrindo na frente da câmera, para assim contarem um pouco de suas histórias, mesmo que alguns ali omitem algumas fases de suas encruzilhadas pela vida. Temos, por exemplo, um morador que filosofa olhando para câmera, onde tenta extrair poesia de sua própria vida sofrida e assim conseguir algum significado naquela realidade, por vezes, distorcida. Em contrapartida, há momentos de até mesmo de humor, quando vemos um rapaz se declarar descontroladamente por alguém através do telefone, mas logo em seguida constatarmos que aquilo era algo muito além do havíamos testemunhado no princípio.
Os relacionamentos vistos na tela, por sua vez, são uma forma daqueles personagens abraçarem a única forma de mantê-los vivos, mesmo com toda ajuda que eles recebem daqueles samaritanos que se ofereceram para ajuda-los. Porém, em sua reta final, constatamos que os próprios habitantes daquele lugar se encontram em um beco sem saída e os créditos finais nos faz ficar com um aperto na garganta. Ao cortar os recursos de ajuda para essas pessoas no centro de São Paulo, constatamos que João Doria é mais um de muitos dessa direita que não entende nada sobre como ajudar o povo, mas sim tendo somente a intenção de joga-los todos no esquecimento.
"Diz a Ela Que Me Viu Chorar" é um retrato cru de um povo excluído pelo governo, mas que sempre ouvimos a todo momento ao pedirem por socorro. 
  

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