Sinopse: Monk é um escritor negro brilhante, mas seus livros não são populares já que ele se recusa a retratar negros de forma estereotipada em seu trabalho.
"Ficção Americana" é um daqueles casos de filmes que chegam de forma discreta, mas logo vai chamando atenção da crítica especializada por onde passa. Atualmente sendo exibido no Amazon Prime Vídeo, o filme está concorrendo a cinco Oscar deste ano, incluindo de melhor filme. Esse reconhecimento gradual é deveras previsível, já que o filme possui quase todos os ingredientes para obter certo êxito necessário.
O filme é baseado em uma sátira, pincelada com momentos de romance e drama, do qual foi publicado pelo escritor Percival Everett em 2001 e que busca escancarar o racismo e o lado hipócrita do mercado editorial norte americano e ao mesmo tempo à própria indústria cinematográfica de Hollywood. Na trama, acompanhamos Monk Ellison (Jeffrey Wright), um professor universitário e escritor negro cujos livros são reconhecidos no meio, mas não populares pelo grande público. Tentando vender a sua nova ideia, ele resolve escrever um livro cheio daqueles estereótipos que o mercado acha que descrevem a experiência afro-americana – pais ausentes, morte, pobreza, tráfico de drogas – e o envia para seu editor. Para a sua surpresa, o livro obtém sinal verde para ser publicado.
Jeffrey Wright, conhecido desde a sua consagração pela série “Westworld”, constrói um ótimo trabalho em sua atuação e da qual lhe rendeu a sua primeira indicação ao Oscar. Com um roteiro criativo, os realizadores não se intimidaram em tocar o dedo na ferida, ao se revelar corajoso o suficiente para levantar certos questionamentos que muitos de hoje fogem por medo. A estreia na direção do roteirista da série limitada da HBO, “Watchmen”, “Cord Jefferson”, faz que com que queiramos observar mais de perto os seus próximos projetos, pois este já se torna brilhante para dizer o mínimo. Com a mão segura na direção, ele obtém com certo êxito ao saber cruzar momentos dramáticos com pitadas do mais puro humor inteligente e do qual poucas vezes estamos assistindo ultimamente e o que torna o resultado admirável diga-se de passagem.
Curiosamente, o filme nos leva ao questionamento sobre atos e consequências em que arte passa através de um sistema que tem somente ambição pelas vendas. A cruzada do protagonista em busca pelo reconhecimento através de um livro feito de uma maneira como ele não queria é especialmente divertida e recheada de passagens inteligentes e que faz nos prender na cadeira. Ao defender a sua visão, o protagonista se vê preso dentro de uma jaula, pois é deveras difícil quebrar o lado hipócrita de uma sociedade que se diz do bem, mas que possui mãos sujas de um passado vergonhoso e que jamais será esquecido.
O filme já seria perfeito com todos esses pontos ditos acima, porém, ele não se limita somente pela sua proposta, mas se expandindo através do seu grande elenco. É através deles que observamos perspectivas distintas uma da outra com relação a situação em que o personagem vive, mas que os leva ao ponto de início e fazendo com que o debate siga prosseguindo. Quando achamos que está tudo resolvido, eis que o protagonista e os demais personagens se veem na chance de obterem o que querem, mas cujo dilemas permanecem, pois seja a questão racial, ou familiar, são assuntos que não são fáceis de se concluir, mesmo quando Hollywood insiste em nos dizer que sempre haverá um final feliz.
"Ficção Americana" pode até não levar o Oscar de melhor filme deste ano, mas é aquele pequeno filme questionador que vem no momento certo em um momento em que o mundo se torna cada vez mais hipócrita e que tenta acobertar os erros do passado.
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