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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre - ‘Jesus Kid’

Nota: Filme exibido para os associados no último Domingo (19/06/22).  

Sinopse: Eugênio é um escritor de faroestes em dificuldades. Seu personagem mais famoso, Jesus Kid, está sendo um fracasso de vendas. Ele parece ter encontrado sua salvação quando é contratado para escrever o roteiro de um filme. 

A premissa de filme dentro de um filme já rendeu algumas pérolas cinematográficas bastante curiosas, pois os bastidores da realização de determinados títulos convencionais já seria o suficiente para realização de tramas que valeriam uma conferida. Pegamos, por exemplo "Adaptação" (2002) de Spike Jonze, que não somente retrata as estripulias de dois irmãos roteiristas na elaboração de uma adaptação de um livro para o cinema, como também o diretor faz uma rápida homenagem ao seu filme anterior "Quero Ser John Malkovich" (1999). Não podemos deixar de mencionar também "Barton Fink: Delírios de Hollywood" (1991) dos irmãos Coen, que não somente segue essa cartilha, como também faz uma crítica ácida a própria produção cinematográfica norte-americana.

Em tempos em que ideias criativas estão cada vez mais escassas é notório que os realizadores busquem inspiração na nossa realidade atual que cada vez se encontra mais absurda. No nosso Brasil atual, por exemplo, o absurdo de um desgoverno que está deixando o brasileiro cada vez mais desmiolado pode render por anos a fio histórias a serem contadas e fazendo a gente se perguntar aonde a gente errou na linha de nossa história. "Jesus Kid" (2019) surpreende ao nos entregar uma comédia tipicamente brasileira, porém, fugindo do convencional e nos surpreendendo com as suas mensagens subliminares nas entrelinhas.

Dirigido por Aly Muritiba, do recente "Deserto Particular" (2021), o filme é baseado na obra de Lourenço Mutarelli, que conta a história de Eugênio (Sérgio Marone), um escritor de livros de faroeste que está passando por uma crise. O mais novo livro de seu personagem mais famoso, Jesus Kid, está sendo boicotado pela editora a mando do governo atual. Quando ele é contratado para escrever o roteiro de um filme dentro de um filme, ele parece ter encontrado sua salvação, mas ao mesmo tempo o governo lhe obriga a escrever um livro sobre o próprio Presidente atual.

Sinceramente eu não li "Jesus Kid" que havia sido lançado em 2004, mesmo sendo escrito por Lourenço Mutarelli que é um escritor que eu muito admiro desde "Cheiro do Ralo". Porém, eu acredito que de lá para cá adaptação cinematográfica tenha passado por diversas readaptações, pois somente assim dá para explicar a tamanha carga satírica que o filme carrega com relação ao estado que o Brasil atual se encontra. Na abertura, por exemplo, vemos o protagonista se preparando para mais um dia de sua vida, enquanto ocorre noticiários sobre esse desgoverno e alimentando aqueles que o apoiaram.

Não faltam elementos políticos que os realizadores incrementam no decorrer do filme, desde ao infeliz símbolo do pato amarelo elaborado pela FIESP, como também figuras ilustres da corrupção do governo atual, que vai desde ao Caso Keiroz  como o Velho da Havan que dispensa apresentação. Como se ainda não bastasse há ainda uma pequena, porém, certeira piada com relação ao Juiz Sergio Moro e vindo justamente em um dos seus piores momentos dentro do universo político.

Tudo isso sendo incrementado em uma trama que já funcionaria pela sua premissa, mas que a torna ainda mais criativa e até mesmo corajosa, já que o filme não poupa nem o que se encontra sentado da cadeira principal do Palácio do Planalto. Se por um lado tudo não passa de uma grande brincadeira, do outro, o filme é uma denúncia com relação ao fato de muitos escritores, artistas e todos os envolvidos na cultura estarem sendo perseguidos por um governo que não investe no conhecimento, mas sim somente no que lhe diz respeito. Métodos da ditadura que novamente retornam e dos quais precisam ser combatidos.

Tecnicamente, o filme possui um visual quase cartunesco, fazendo uma clara referência ao universo literário e das HQ de Mutarelli, sendo que a edição é frenética, embalada com as cenas em câmera lenta e uma trilha sonora bem criativa. Os personagens, na maioria deles, são apresentados de uma forma quase unidimensional, como se eles não estivessem despertos no mundo real, mas sim somente pelos seus interesses ou aceitando serem gados e não se importando em serem jogados para o matadouro. Neste circo, sobra somente o protagonista Eugênio se encontra lucido com relação ao que está acontecendo, mesmo quando surge do nada o seu personagem Jesus Kid (Sérgio Marone) e pondo em dúvida, mesmo que rapidamente, a sua própria sanidade.

O filme, talvez, somente peca ao nos apresentar uma solução meramente fácil para o final da trama. Porém, no meu entendimento, como o filme é uma parábola sobre os eventos do Brasil atual, a história termina de uma forma abrupta unicamente porque não nos encontramos, ou tão pouco sabemos, como terminará todos esses eventos que estamos presenciando nos noticiados ou redes sócias dias a fio. Quando tudo terminar, talvez Jesus Kid retorne para dar o seu tiro final contra o principal alvo que merece pagar pelos seus pecados.

"Jesus Kid" é uma grande piada pronta, pois o Brasil atual se encontra em uma verdadeira comédia de mal gosto e o filme vem num momento certo para dar certo tempero. 


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