Quem sou eu

Minha foto
Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

Pesquisar este blog

terça-feira, 7 de junho de 2022

Cine Especial: Sessão Plataforma - 'Crime Culposo'

Nota: Filme exibido na Cinemateca Capitólio no último sábado (04/06/22).  

Sinopse: Crime Culposo é um relato ficcional do incêndio de 19 de agosto de 1978. Nessa tragédia, quatro homens incendiaram o Cinema Rex, na cidade de Abadan, matando mais de 400 pessoas que assistiam a uma projeção de “The Deer”, de Masoud Kimiai. 

A Revolução Iraniana, ocorrida em 1979, transformou o Irã, até então uma monarquia autocrática pró-Ocidente comandada pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi, em uma república islâmica teocrática sob o comando do aiatolá Ruhollah Khomeini. Essas mudanças de regime, logicamente, afetaram diretamente a liberdade de expressão e cultural, mas que, curiosamente, o cinema em si sobreviveu mesmo com toda a sombra da censura e a divisão de uma sociedade de alguns que defendem e outros contra ao que o Irã foi um dia. "Crime Culposo" (2020) talvez venha ser uma síntese sobre o que o cinema passou e ainda passa em um território em que ainda hoje se encontra instável, mas que sobrevive graças a paixão dos realizadores pela sétima arte e pelo que eles fazem como um todo.

Dirigido por  Shahram Mokri, o filme gira em torno na noite de 19 de agosto de 1978, onde quatro homens incendiaram o Cinema Rex, na cidade de Abadan, matando mais de 400 pessoas que assistiam a uma projeção de “The Deer”, de Masoud Kimiai. Marco da revolta popular que meses depois derrubaria o governo monárquico, o episódio traumático é revisitado em um jogo ficcional labiríntico que imagina a repetição do crime na sala escura.

Shahram Mokri procura não explicar as motivações dos incendiários que surgem na trama, pois no meu entendimento tudo gira em torno de questões políticas e das quais tudo termina com uma sociedade cada vez mais dividida e sendo algo que acontece cada vez mais mundialmente hoje em dia. Ao invés disso, ele nos convida para fazer um passeio sensorial tudo girando através da própria sétima arte, seja com relação a sala de cinema onde ocorre a projeção de um filme, ou quando a mesma arte é usada em uma determinada sessão ao ar livre em uma nascente. Curiosamente, estamos diante de um filme dentro de um filme e cuja a temática em ambos os casos é sobre a resistência dessa arte perante um país que sempre se encontra em instabilidade continua.

Essa instabilidade, aliás, é bem representada pelo modo que Shahram Mokri filma determinadas cenas, principalmente em planos sequências onde ele segue um terminado personagem e cujo o mesmo adentra em situações que fogem de qualquer lógica ou controle. Curiosamente, esses momentos me lembraram muito o filme "O filho de Saul" (2015), de  László Nemes, sendo que esse último usava esse artificio para nos levar ao inferno em que povo Judeu passou durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto aqui ficamos na expectativa sobre a possibilidade de algo ruim que possa acontecer. Até lá, se é que acontecerá algo, Shahram Mokri brilha em uma direção segura, hipnótica e onde cada um tira as suas próprias conclusões sobre o que ele quer dizer dentro da obra.

Existe também determinadas referências a outros clássicos do cinema iraniano, principalmente para aqueles que acompanharam a filmografia de diretores autorais como Abbas Kiarostami. Obras do diretor como "Gosto de Cereja" (1997), "Dez" (2002) e "Cada um com seu Cinema" (2007) me vieram rapidamente em meus pensamentos nas passagens da história em que ocorre uma sessão de cinema ao ar livre em uma nascente enquanto um pequeno grupo de soldados tenta encontrar uma possível bomba nos arredores. Curiosamente, acredito que Shahram Mokri também tenha buscado inspiração na obra do diretor coreano Hong Sang-soo.

Digo isso em uma cena particular onde ocorre a sessão ao ar livre, onde os personagens começam a dialogar ao tentar se lembrar dos nomes de atores ou personagens de um terminado filme. Imediatamente a sequência se repete, mas através de outra perspectiva, mas que faz com que quase a gente pense que ela se repetiu se não prestarmos atenção aos pequenos detalhes que fazem a diferença uma da outra. Ineditamente isso me lembrou o filme "Certo Agora, Errado Antes" (2015) do diretor coreano, mas tendo aqui um resultado até mais curioso e que nos pega desprevenidos.

No ato final, parece que tudo se encaminha com um possível atentado iminente. Porém, Shahram Mokri talvez procura nos dizer que, independentemente do que aconteça, o cinema estará lá para falar de um Irã sempre lutando contra um transe que procura sempre os silencia-los, mas que nunca obterá esse feito por completo. "Crime Culposo" é sobre a arte cinematográfica que procura acordar um Irã sempre em conflito continuo. 


Joga no Google e me acha aqui:  
Me sigam no Facebook twitter, Linkedlin e Instagram.  

Nenhum comentário: