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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 1 de junho de 2022

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: 'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain'

NOTA: O filme terá exibição especial amanhã no evento "Quinta Cafeinada" e com a presença do Clube de Cinema. Saiba mais sobre esse evento clicando aqui. 

Sinopse: Amélie é uma jovem do interior que se muda para Paris e logo começa a trabalhar em um café. Num belo dia, ela encontra uma caixinha dentro de seu apartamento e decide procurar o dono. A partir daí, sua perspectiva de vida muda radicalmente. 

Eu me lembro que entre o final dos anos noventa e o começo desse novo século parecia que havia um certo preconceito contra o cinema francês por parte do público. Ao meu ver, esse mesmo público desconhecia a farta história que esse cinema tinha ao longo da história, sendo que o movimento Nouvelle vague foi responsável por influenciar até mesmo o cinema norte americano. Porém, o cenário mudou através de dois títulos franceses que tomaram por assalto nos cinemas mundiais que foi "Pacto dos Lobos" (2001) e principalmente "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001).

Enquanto o primeiro era um filme baseado em fatos verídicos moldado com ingredientes de ação e terror, o filme de Jean-Pierre Jeunet, por sua vez, é puramente surpreendente, tanto no seu visual como também no seu enredo que nos encanta desde o primeiro minuto. Protagonizado por Audrey Tautou, a mesma interpreta Amélie, que no começo da história muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo ­ e é assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.

Com uma narração ao fundo, o filme é cheio de inúmeros detalhes, onde o narrador nos conta um pouco, não somente sobre a origem da protagonista, como também de seus personagens em volta e do próprio bairro parisiense de Montmartre. Aliás, o cenário que se passa o filme rouba a cena na maior parte da trama, sendo que as cores quentes, moldadas com verde e vermelho, nos passa uma sensação de pintura em movimento, principalmente nas cenas em que a protagonista se encontra jogando pedras em cima da ponte como um belo exemplo. Vale destacar que essa fotografia foi inspirada pelas pinturas do artista brasileiro Juarez Machado.

Com uma edição frenética, quase como um vídeo clipe, o filme ganha contornos quase cartunescos, como se nos passasse a sensação de que os personagens centrais estariam em uma realidade quase inverossímil devido a tantas situações que beiram ao surreal. Porém, o mundo real é muito mais surpreendente do que qualquer outra ficção e é exatamente isso que Jean-Pierre Jeunet deseja passar para nós, pois as pequenas situações que Amélie Poulain participa, por exemplo, se tornam uma verdadeira aventura, pois nunca sabemos ao certo onde ela irá parar em seguida. A partir do momento em que ela ajuda um desconhecido a reaver sua caixa cheia de lembranças isso se torna a válvula de escape para a protagonista se interagir e invadir as vidas das pessoas sempre com boas intenções.

Na época do seu lançamento, Audrey Tautou mal sabia que estava embarcando no maior sucesso de sua carreira e interpretando uma das personagens femininas mais queridas desse início de século. Sua Amélie Poulain nos passa inocência e curiosidade com relação ao mundo em sua volta, sendo que as pequenas coisas que surgem na sua frente, desde ao fato de enfiar a mãos dentro de um saco de sementes, ou de contar quantos casais tiveram um orgasmo em determinada hora do dia, fazem do seu dia a dia mais colorido na medida certa. Claro que não poderia faltar a possiblidade de um possível romance que ela anseia no fundo obter e ela consegue através do enigmático personagem Nino, interpretado por Mathieu Kassovitz e que tem a curiosa mania de montar fotos rasgadas de pessoas que tiram fotos em uma determinada cabine de uma estação de trem.

Mas antes mesmo dos personagens se unirem os mesmos acabam contracenando com outras figuras sendo uma mais interessante do que a outra. Na cafeteria em que a protagonista trabalha, por exemplo, há personagens que surgem ali com uma história já bem enraizada, mas que aos poucos vão nos sendo apresentadas. E se por um lado o pai da protagonista possui certa obsessão pelo seu anão de argila, por outro lado, o vizinho de Amélie acaba se tornando o personagem secundário mais interessante de toda a trama e que se tornará peça fundamental para que a protagonista tome uma importante decisão em sua vida.

Acima de tudo, "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é um daqueles filmes que nos passa uma sensação gostosa, como se despertasse em nós o desejo de ir na tabacaria mais próxima, para desfrutar de um bom café e observar o ambiente e as pessoas em volta. Um filme que nos passa uma bela lição sobre desfrutarmos das mais simples situações do nosso dia a dia, pois nem sempre elas estarão lá para nos animar e, portanto, precisamos degusta-las ao máximo haja o que houver.  "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" é sem sombra de dúvida um dos melhores filmes do início do século e que após assisti-lo nos deixa com o espirito fortalecido. 

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