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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 17 de junho de 2022

Cine Especial: 'Revisitando o Show de Truman'

Sinopse: Truman Burbank é um pacato vendedor de seguros que leva uma vida simples com sua esposa Meryl Burbank. Porém, algumas coisas ao seu redor fazem com que ele passe a estranhar sua cidade, seus supostos amigos e até sua mulher.  

Ao longo da história do cinema muitos filmes de ficção foram lançados com o intuito de prever o futuro do nosso mundo real. "Contágio" (2011), por exemplo, retratava uma possível pandemia de escala global e não sendo muito diferente do que se viria posteriormente em nosso mundo real. O intuito dos realizadores, em alguns casos, seja alertar o público que os erros do passado não podem ser cometidos em nosso futuro, pois as consequências se tornam irreversíveis para dizer o mínimo.

O escritor George Orwell, por sua vez, criou o que para muitos é a sua maior obra prima literária, "1984", onde retratava uma sociedade futurística sendo controlada pelo o estado e sendo observada vinte e quatro horas por dia. Não é à toa, portanto, que o conto serviu de inspiração para as tvs do mundo todo criarem os seus reality shows, cuja a moda de observar pessoas dentro de uma casa se iniciou no início do século vinte e um e perdura até os dias de hoje. Antes disso, o clássico "Show de Thuman" (1998) previu até que ponto as emissoras iriam para adquirir a audiência e persuadir as pessoas em assistirem um conteúdo e se tornando alienados.

Com roteiro de Andrew Niccol, o filme conta a história de Truman Burbank (Jim Carrey), um pacato vendedor de seguros que leva uma vida simples com sua esposa Meryl Burbank (Laura Linney). Porém algumas coisas ao seu redor fazem com que ele passe a estranhar sua cidade, seus supostos amigos e até sua mulher. Após conhecer a misteriosa Lauren (Natascha McElhone), ele fica intrigado com a possibilidade de que sua realidade possa ser uma grande mentira.

É final dos anos noventa, onde cada vez mais existia uma tendencia de se questionar o mundo em que vivíamos, pois o mesmo é controlado por regras impostas por um sistema capitalista cheio de regras e que, mesmo indiretamente, nos controla. No ano de 1999, por exemplo, filmes como "Clube da Luta" e "Matrix" fortaleceram mais essa discussão, sendo que o primeiro era o que melhor soube o que foi a década de noventa e profetizando um futuro em que cada vez mais a sociedade se encontra presa. Alguns desses filmes fizeram até mesmo público questionar se realmente nós vivemos em um mundo real e levantando até mesmo teorias inspiradas no filósofo Grego Platão.

Em meio a tudo isso, talvez, "Show Truman" tenha se tornado com o tempo o filme mais verossímil com relação aos reality shows que vem até hoje impregnando a programação televisiva e atraindo cada vez mais pessoas em querer assistir outras através de diversas câmeras. Não deixa de ser um sistema controlador, não vindo através do estado, mas sim de uma mídia corporativa que gosta de alienar as pessoas, fazendo com que elas não questionem o mundo em volta e agradando, enfim, aqueles que estão um degrau a cima. Pode não ser um "1984" literalmente falando, mas que chega muito perto.

Truman é pessoa comum, solitária, mas que tem o desejo de explorar o mundo e reencontrar a pessoa que ele ama. Porém, algo parece que sempre o impede de seguir em frente, como se houvesse uma força maior sempre lhe impedindo e fazendo com que retorne ao ponto zero. É algo que nos identificamos de imediato, principalmente pelo fato de uma vez ou outra na vida ficarmos questionando isso e começarmos a observar as ações e reações do mundo como um todo.

Neste último caso, há uma cena que sintetiza muito bem esse meu pensamento, onde Truman quebra a sua rotina para ida em seu trabalho e começa a observar e ouvir as pessoas. Em um determinado momento, por exemplo, o protagonista adentra a uma porta giratória, mas ao invés de entrar no prédio, ele sai novamente para o lado de fora e começando assim a estranhar tudo em volta. Não deixa de ser uma referência interessante ao clássico literário "Alice Através do Espelho ", de Lewis Carroll, sendo que o conto serviria de inspiração antes para o filme "Vidas em Jogo" (1997) de David Fincher e posteriormente para o já citado "Matrix.

Claro que, após ter a noção de que o seu mundo possa não ser real, tentar atravessa-lo também não é uma das tarefas mais fáceis e nisso o protagonista sente na pele. Não posso deixar de mencionar o incrível desempenho de Jim Carrey como Truman, pois mesmo vindo dos filmes de comédia na época é interessante como a sua veia cómica colabora para construir um personagem que transita entre a razão e por momentos de pura explosão, já que no seu íntimo ele busca uma forma de sair, mas o seu mundo ainda o prende aja o que houver.

Neste caso, isso é muito bem representado por  Christof (Ed Harris), criador do programa e que não mede esforços para controlar a vida do protagonista. É um personagem curioso, já que ele transita pelo instinto paternal que sente pelo protagonista pelo seu lado autoritário e que chega até mesmo ameaçar vida do mesmo. Antes disso, não deixa de ser simbólico a maneira como ele consegue persuadir as nossas sensações, principalmente na cena em que vemos ele criar o reencontro de Truman com o seu pai, sendo que tudo não passa de uma verdadeira farsa e criando em nós diversas sensações de amor e raiva.

Em seu ato final, Truman parte pra fora da cidade, mas para somente descobrir que o horizonte é, enfim, uma parede e descobrindo a trágica verdade. Descendo do seu barco ele sobe em uma escada, como se o mesmo estivesse subindo aos céus e abrindo uma porta para o mundo real. Neste momento o criador chama a criatura, persuadindo a não abandonar aquela realidade, mas felizmente ele segue em frente.

O final é digno de nota, pelo fato de não somente o protagonista se livrar do sistema que o mantinha preso, como também se vendo livre das cordas criadas pelo seu criador. Seria uma forma dos realizadores em nos dizer que o ser humano precisa ser livre, seja das mãos do estado, da igreja, ou de algo acima de nossas cabeças. Atualmente e, infelizmente, vivemos presos ao sistema cheio de regras da era digital e onde se encontra a porta para fugirmos desse novo "1984"?

"Show de Truman" é um filme a frente do seu tempo, profético e que nos diz para abrirmos todas as portas o quanto possível.  


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