Sinopse: Boêmio.
Provocador. Sedutor. Revolucionário. Além de idealizador do
"Pasquim", Tarso de Castro foi um dos maiores jornalistas do Brasil.
Ao investigar sua vida, vem à tona a história de um país embriagado pela
ditadura e pela censura, onde o sonho de democracia nascia de uma geração
libertária.
Em tempos atuais de “jornalistas
fofos”, sendo esse um apelido “carinhoso” criado pelo jornalista de Porto
Alegre Moises Mendes, está cada vez mais raro se encontrar nessa profissão
alguém que se sobrepõem ao sistema atual jornalístico e que acaba se vendendo
pela informação, por vezes, parcial. Contudo, após o golpe de 2016, há um fortalecimento em meio ao jornalismo
alternativo e sendo algo que não se via desde os tempos pós golpe de 1964. Mas independente disso, dificilmente existirá
um profissional como Tarso de Castro que, não somente buscava um furo de reportagem,
como também inseria o seu pensamento crítico em meio a noticias que
obtinha.
Dirigido por Leo Garcia e
Zeca Brito, o filme é uma retrospectiva bem humorada sobre o Jornalista gaúcho
Tarso de Castro, profissional que ia muito além de sua profissão. Através de
conversas entre familiares, amigos, jornalistas e artistas, se têm aqui um
mosaico de informações sobre a vida e a obra desse profissional e de como ele
teve a capacidade de até mesmo driblar a famigerada censura da época da
ditadura. Dentre as suas maiores realizações estão os jornais Pasquim e Enfim.
Assim como em filmes
recentes como Todos os Paulos do Mundo, o documentário constrói uma narrativa
através de cenas clássicas do cinema nacional, além de programas televisivos em
que o jornalista participou e de arquivos de jornais das principais noticias
elaboradas pelo profissional. Contudo, o filme se sobressai ao possuir um ritmo
dinâmico, cuja edição faz com que se crie um verdadeiro balé de imagens
saltando a todo o momento na tela e os primeiros minutos da obra sintetizam
muito bem essa proposta. Obviamente é uma forma em que os cineastas criaram
para representar como era Tarso de Castro, tanto como pessoa como também
profissional, sendo alguém que nunca se acomodava em um lugar, mas sim sempre
estando ativo a todo o momento.
Além disso, os cineastas
foram também criativos na maneira como elaboraram as cenas com os
entrevistados. Dizia-se que Castro trabalhava até mesmo durante uma conversa de
bar amigável, mas quando estava em ritmo de trabalho pelas ruas, sempre buscava
por um telefone mesmo quando não se havia nenhum aparelho a sua frente. Testemunhamos,
por exemplo, pessoas como Caetano Veloso falando sobre ele pelo celular, ou de
amigos e jornalistas sentados num bar relembrando sobre as estripulias de
Castro e gerando os momentos mais engraçados do documentário.
Aliás, é nesses momentos
descontraídos que se é relembrado até mesmo lendas urbanas sobre o jornalista.
Em uma delas, é levantada a hipótese de que ele poderia ter sido um guerrilheiro
e amigo de Ernesto Che Guevara. Ambos realmente se conheceram, mas foi uma
hipótese criada de uma forma mal interpretada pela atriz americana Candice
Bergen que, aliás, foi uma das inúmeras conquistas do jornalista.
Mulherengo e sedutor, Tarso
de Castro conquistou inúmeras mulheres ao longo de sua vida, mas ao mesmo tempo
levantando até mesmo lendas sobre a possibilidade de ter se envolvido com
outros homens. Caetano Veloso, por exemplo, se divertia muito com essa
possibilidade, pois Castro o beijava na frente de todo mundo e não se
envergonhando com relação a isso. Tendo uma opinião forte sobre assuntos políticos,
Castro defendia a comunidade LGBT na época como ninguém e desafiava até mesmo
políticos como Leonel Brizola com relação ao posicionamento dos partidos sobre
o assunto.
Logicamente o documentário
não foge da questão sobre o golpe de 1964, mas que, curiosamente, até mesmo
nesse momento os cineastas fizeram questão de manter o teor bem humorado que
haviam começado. É interessante, por exemplo, como Castro driblava a censura de
uma forma humorada e bem criativa pelos jornais como Pasquim e não temendo nem
com a possibilidade de uma eventual prisão. Somente no ato final do
documentário, onde se é discutido os últimos anos de vida do jornalista, que o
clima fica um tanto mórbido, mas nada que prejudique a proposta convidativa
para se conhecer essa figura importante dentro da história jornalística
brasileira.
Em tempos em que o
jornalismo investigativo do Brasil está cada vez mais escasso, o documentário A
Vida Extra-ordinária de Tarso de Castro é exemplo de tempos em que um
jornalista de verdade não se vendia fácil ao diabo, mas sim buscava os
verdadeiros fatos de determinados eventos.
Onde assistir: Casa de
cultura Mario Quintana. R. dos Andradas,
736 - Centro Histórico, Porto Alegre. Horário: 19horas. Itau Cinema: Av. Túlio
de Rose, 80 - Passo d'Areia, Porto Alegre. Horário: 13horas.
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