Sinopse: Buenos Aires,
Argentina. Ely (Mora Arenillas) é uma jovem de 17 anos que vive com sua mãe,
Susana (Mara Bestelli), em um pequeno apartamento em um conjunto habitacional
localizado no bairro de La Boca. Ela mantém uma relação distante com sua mãe e
leva uma rotina pesada, se dividindo entre as atividades domésticas e o
trabalho diário num pet shop. Tudo muda quando ela descobre que está grávida de
Raúl, bem mais velho, casado e seu chefe. Consumida pela angústia, a jovem terá
que fazer uma difícil decisão: fazer ou não um aborto.
Embora para alguns o cinema
seja um local de fuga para que possamos nos esquecer um pouco da realidade,
alguns filmes, por sua vez, escancaram os problemas dos quais nós enfrentamos
no dia a dia, para assim refletimos e debatermos sobre o assunto. Se em filmes
recentes como O Formidável, do qual retrata os protestos de Maio de 68 na França e fazendo com que as imagens daquele período consigam ecoar em nosso
presente, o filme Manifesto, por sua vez, escancara uma dura crítica contra conservadores
de hoje e que ousam censurar as artes das quais nos fazem pensar. Ironicamente,
Invisível vem para colocar mais lenha na fogueira com relação ao tema do aborto,
justamente numa semana em que dezoito homens do congresso de nosso país tentam
retroceder os direitos da mulher.
Dirigido por Pablo Giorgelli
(do cultuado Las Acacias), acompanhamos a história de Ely (Mora Arenillas), jovem estudante que
trabalha num pet Shop e cuida da mãe Susana (Mara Bestelli), que vive de
depressão. No trabalho, vive um relacionamento sem compromisso algum com o seu
colega e ao mesmo tempo perambula pelas ruas de Bueno Aires em busca de uma
forma para se esquecer de sua rotina. Porém, Ely descobre que está grávida e
começa então a enfrentar uma difícil cruzada e da qual ela própria terá que escolher
um caminho para trilhar.
Como o aborto é proibido na
Argentina, Pablo Giorgelli cria então um retrato conflituoso de uma pessoa da
qual vive com um sério dilema. Com a câmera na mão, o cineasta não se distancia
por muito tempo de sua protagonista, pois faz questão que, mesmo com poucas
palavras vindas dela, ele consiga extrair com a sua lente os conflitos internos
dos quais ela passa em seu dia a dia. É como se a câmera então representasse o
nosso olhar com relação à Nely, esperando então qual será o próximo passo dela
e desejando para que ela faça uma escolha coerente consigo mesma.
Ao mesmo tempo, Pablo
Giorgelli cria um retrato pouco reconfortante da cidade de Bueno Aires, cuja
sua fotografia fria e cinzenta sintetiza uma realidade pouco acolhedora para
aquelas pessoas. Ao vermos a protagonista pesquisar a forma de se fazer um aborto,
por exemplo, é uma alusão clara de uma realidade política, seja ela de lá ou
aqui, da qual cada vez mais se afunda em leis retrógradas e somente tirando os
direitos de escolha das pessoas. Contudo, o cineasta opta em não colocar na
parede essas questões políticas como um todo, mas deixando claro que o estado
deveria sim ajudar as pessoas que optam em seguir um caminho tão espinhoso.
Embora possa ser uma novata na área
da atuação, Mora Arenillas é a alma do filme como um todo. Fazendo me lembrar o
trabalho da atriz Adèle Exarchopoulos em Azul é a cor mais quente,
Arenillas cria para sua Ely um olhar observador com relação ao mundo em que
vive, do qual tenta de todas as formas em saber enfrentar uma realidade dura e da
qual aos poucos vai demonstrando amadurecimento para encará-la: a cena em que
ela confronta a sua mãe para que ela vença sua depressão é disparado o seu
melhor momento.
O ato final reserva momentos
primorosos, onde a técnica de filmagem e atuação fica de mãos dadas até o
derradeiro momento de escolha da personagem. Após o seu final, o destino da
protagonista fica em aberto e fazendo com que continuemos pensando na árdua tarefa
da qual ela própria irá trilhar. Por mais polêmico que seja o assunto, o filme Invisível
propõe para que todos nós debatermos sobre um assunto tão delicado e não
somente sendo decidido por políticos conservadores de hoje, dos quais usam a bíblia
dentro do governo como uma espécie de arma ao invés de usá-la para paz.
Onde Assistir: Cinebancários: R. Gen. Câmara, 424 - Centro, Porto Alegre. Horário: 17horas
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