Colo
Sinopse: Em Portugal,
a rotina diária de pai, mãe e filha é absorvida pelos efeitos da crise
econômica. A mãe se desdobra em dois empregos para pagar as contas, pois seu
marido está desempregado. A filha adolescente guarda seus próprios segredos e
tenta manter sua rotina diária apesar da falta de dinheiro. Para escapar dessa
realidade comum, eles se tornam, lentamente, estranhos uns aos outros, enquanto
a tensão se transforma em silêncio e culpa.
Não é necessário retratar
de uma forma minuciosa os períodos históricos da crise de um país num filme,
pois basta, por exemplo, retratar um grupo de indivíduos para que então aja uma
síntese do real estado de espírito daquele período. No filme nacional Terra
Estrangeira de Walter Salles, por exemplo, vemos uma família sofrer as consequências
do plano Collor, época da qual o governo confiscou as poupanças de todos os
brasileiros. Então seguimos essa lógica no presente, ao testemunharmos o filme
português Colo, do qual não há políticos discursando, situações que retratem a
crise que assola o país ou algo do gênero, mas sim ao vermos os desdobramentos
desse período de crise afetar uma família comum da classe média.
Dirigido pela portuguesa
Teresa Villaverde (Os Mutantes) acompanhamos a via cruz de uma família sendo
afetada pela crise da qual Portugal passa até recentemente. O pai (João Pedro
Vaz) desempregado, mãe (Beatriz Batarda) fazendo uns bicos para se sustentar e
a filha Marta (Alice Albergaria Borges) tentando manter a sua rotina normal em
meio às mudanças. Essa última, aliás, tem uma amiga da escola chamada Julia
(Clara Frost) que está grávida e não sabe o que irá fazer.
Diferente do que a gente
espera, não existe nos primeiros minutos de projeção, por exemplo, algo que nos
explique os motivos que levaram essa família a se encontrar dessa maneira. Tudo
que sabemos é que há uma crise no país e da qual afeta gradualmente o dia a dia
dessa família. Quando o filme começa já somos transportados ao apartamento
deles e é onde testemunharemos todas as mudanças das quais eles terão que
encarar.
Villaverde faz então um
estudo sobre o comportamento do ser humano perante as mudanças bruscas. Antes
acostumada com tudo na mão, a filha, por exemplo, não entende num primeiro
momento o do porque a situação estar piorando. A mãe, aliás, tenta manter a
normalidade na medida do possível, pois o pai começa a entrar numa fase de
desesperança. É com ele que o espectador começa a testemunhar a falta de
recursos daquele ambiente, desde a falta de comida, ou até mesmo o vermos
recorrer a comer restos que se encontram na cobertura do prédio de onde eles
vivem.
Villaverde também opta em
não dar muitas explicações sobre o surgimento de personagens ou de terminadas
situações que surgem do nada na tela. Temos, por exemplo, a cena da qual o pai
entra no carro de um conhecido seu e o força a ir num destino indefinido. É
nesse momento em que a cineasta testa a nossa atenção, fazendo com que
levantemos inúmeras teorias sobre o que está acontecendo e tornando a situação
um dos momentos mais imprevisíveis do filme.
Talvez a grande questão que a
obra levanta é que vivemos numa sociedade materialista e que, uma vez perdendo
os recursos de lazer, acaba então testando o outro lado da pessoa e da qual ela
mesma desconhecia. Se por um lado o marido se sente num beco sem saída, a
esposa, por sua vez, tenta de todas as formas em nivelar a situação crítica e recorrer
aos velhos recursos para sobreviver. Contudo, a falta de autoestima vinda do
marido faz com que ela perca o controle num determinado momento chave da trama
e pondo em cheque o futuro daquela família.
Em meio a isso, as jovens
amigas Marta e Julia convivem numa realidade separada a dos seus pais, como se
vivessem numa cruzada particular de descobertas, onde testemunham uma vida mais
simples e que antes passava por elas de forma despercebida. Num dos melhores momentos
do filme, vemos as jovens sem rumo após uma noite turbulenta, mas que recebem alimento
de um humilde pescador em sua velha casa de trabalho. Esse cenário, aliás, será
revisto nos momentos cruciais da trama e que fecha com a proposta principal do
filme como um todo.
Colo é analise complexa sobre
pessoas comuns perante uma realidade dura e que os obriga a enfrentar situações
até então inéditas no seu dia a dia.
Cinemateca Capitólio: Demétrio
Ribeiro, 1085 - Centro Histórico, Porto Alegre. Horário: 19h30min
A terra vermelha
Sinopse: Um
funcionário de uma multinacional é responsável por derrubar árvores em bosques
para plantar pinheiros para a produção de papel. Ele conhece uma professora de
uma comunidade rural que luta contra o uso inadequado de agrotóxicos e se vê em
um fogo cruzado.
Co-produção entre
Brasil, Argentina e Bélgica, a trama de A terra vermelha é inspirada em inúmeras
histórias verídicas ao tocar em assunto recorrente na América do Sul, a
destruição das florestas, a contaminação da natureza e das pessoas pelo uso
indiscriminado de pesticidas. Dirigido e roteirizado pelo argentino Diego
Martinez Vignatti, do qual trabalhou como diretor de fotografia em Japón (2012)
e Batalha no céu (2005), o filme evolui em torno de seu núcleo social, político,
ecológico e fazendo uma dura crítica à corrupção política e de uma realidade
capitalista opressora.
Mas embora essas questões sejam o mote principal, contudo, elas surgem a partir de um romance, entre o belga radicado na Argentina Pierre (Geert Van Rampelberg), gerente de uma multinacional madeireira, e a professora Ana (Eugenia Ramírez), uma empenhada ativista contra a destruição ambiental. Num primeiro momento, trata-se de um envolvimento complexo, entre duas pessoas que têm tudo para serem oponentes um do outro. Mas é justamente destas posições distintas é que a história obtém boa parte de sua energia, se enveredando numa gradual transformação de Pierre.
Decidido a ser pragmático e ganhar dinheiro para um dia sair do local onde vive, ele cumpre suas funções em seu emprego, mas tenta ser leal com os empregados que convive. Não acredita nos efeitos nocivos dos pesticidas que seus homens aplicam até que ele mesmo começa a sentir algo de errado com a sua própria saúde. Quando a trama se afasta do desenvolvimento do casal, o filme cria subtramas com relação a outros personagens, sem tanta individualidade e boa dose de maniqueísmo - os sindicalistas e trabalhadores da saúde, o patrão corrupto, a polícia sempre decidida em agir cm à violência para conter os protestos.
Essa dose de realidade, da qual qualquer brasileiro de hoje que se preze irá reconhecer, funciona para compreensão do problema central de que o roteiro quer tratar, fazendo então com que o longa metragem se enverede numa complexidade mais rica para o melhor aprofundamento das questões tratadas na obra. O filme funciona também pelo fato de haver poucos atores profissionais, fazendo então com que as situações, principalmente nos derradeiros últimos minutos da trama, tenham então um resultado cru, porém realístico e impiedoso.
Mas embora essas questões sejam o mote principal, contudo, elas surgem a partir de um romance, entre o belga radicado na Argentina Pierre (Geert Van Rampelberg), gerente de uma multinacional madeireira, e a professora Ana (Eugenia Ramírez), uma empenhada ativista contra a destruição ambiental. Num primeiro momento, trata-se de um envolvimento complexo, entre duas pessoas que têm tudo para serem oponentes um do outro. Mas é justamente destas posições distintas é que a história obtém boa parte de sua energia, se enveredando numa gradual transformação de Pierre.
Decidido a ser pragmático e ganhar dinheiro para um dia sair do local onde vive, ele cumpre suas funções em seu emprego, mas tenta ser leal com os empregados que convive. Não acredita nos efeitos nocivos dos pesticidas que seus homens aplicam até que ele mesmo começa a sentir algo de errado com a sua própria saúde. Quando a trama se afasta do desenvolvimento do casal, o filme cria subtramas com relação a outros personagens, sem tanta individualidade e boa dose de maniqueísmo - os sindicalistas e trabalhadores da saúde, o patrão corrupto, a polícia sempre decidida em agir cm à violência para conter os protestos.
Essa dose de realidade, da qual qualquer brasileiro de hoje que se preze irá reconhecer, funciona para compreensão do problema central de que o roteiro quer tratar, fazendo então com que o longa metragem se enverede numa complexidade mais rica para o melhor aprofundamento das questões tratadas na obra. O filme funciona também pelo fato de haver poucos atores profissionais, fazendo então com que as situações, principalmente nos derradeiros últimos minutos da trama, tenham então um resultado cru, porém realístico e impiedoso.
Onde assistir: Casa de
Cultura Mario Quintana. Rua das Andradas nº 736, Porto Alegre. Horário: 19horas.
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