Sinopse: Através de
entrevistas realizadas com vários homens moradores da Região Metropolitana de
Recife, este é um retrato aprofundado sobre o universo masculino e sobre como
os homens enxergam o papel das mulheres na sociedade ocidental,
tradicionalmente patriarcal e machista, e uma exploração minuciosa sobre a
identidade feminina, sobre as violências sofridas pelas mulheres no Brasil e
até mesmo sobre o cenário social e político do país.
O espelho é um reflexo de
nós, do qual somente nos mostra a superfície, mas nunca o que há por dentro de
cada um. Não é o que somos por dentro, mas sim as nossas ações é o que
nos define.O documentário Câmara de Espelho é um pequeno reflexo sobre o olhar intimo que os
homens têm com relação às mulheres e que expõe os seus pensamentos, por vezes,
errôneos.
Dirigido pela cineasta Dea
Ferraz (Sete Corações, 2015), acompanhamos a construção de dois cenários, dois
quais possuem espelhos e algumas artes que representam a mulher contemporânea
de hoje. A imagem é cortada, dando lugar a uma tela preta, onde começamos a
ouvir em off a cineasta pedindo para um grupo de homens reagirem com relação ao
que estão enxergando numa determinada imagem. O filme começa e vemos então dois
grupos formados por homens entrando nos cenários que haviam sido criados, para
que então eles testemunhem inúmeras cenas que serão apresentadas numa tela central
do local e das quais cada um delas irá gerar reações diversas em cada um
deles.
Já nos primeiros minutos
alguém faz uma referência ao programa de TV Big Brother, já que eles se
encontram num cenário aonde eles irão se interagir e tendo suas reações registradas
de acordo com o que irão testemunhar na tela central. É inevitável que se aja
essa comparação, mas que, diferente de inúmeros realities shows, Câmara de
Espelhos está mais preocupado em tentar fazer com que esses indivíduos exponham
as suas reais opiniões de um mundo cada vez mais feminista, mas que ainda sofre
com o preconceito nascido do machismo vindo dos homens e até mesmo das próprias
mulheres. Embora no princípio cada um deles tente passar uma atitude neutra,
aos poucos, eles começam a ficarem mais a vontade ao lançar suas opiniões e
gerando reações dos demais que se encontram no cenário.
Os temas expostos na tela
central variam, desde o desejo sexual da mulher, como também a violência contra
ela, a vida profissional, ter ou não ter filhos, questão do aborto e etc. Para
obter então uma reação da qual se gere um debate após a exibição de cada cena apresentada, a cineasta convidou homens de gerações diferentes, opiniões
distintas, assim como as crenças e até mesmo alguns com conhecimento
com relação à história. Isso se cria certo atrito no ar no decorrer do
documentário, já que a maioria tem opiniões que diferem das outras e fazendo com
que todos tenham uma reação imediata.
Há logicamente opiniões
muito conservadoras no decorrer da projeção, como no caso de um senhor mais
velho do grupo querer se casar com uma mulher, unicamente para que ela faça
tudo que ele quer e que ela seja surda e muda. É nesses momentos que a câmera
da cineasta foca a todo custo cada um deles, para que então se obtenha um
registro preciso de suas reações. A utilização de espelhos dentro do cenário,
por exemplo, não é de uma forma gratuita, mas sim necessária, pois mesmo quando
a câmera não foca alguém disparando uma opinião, os reflexos contribuem para
testemunharmos diversos ângulos da ação e reação.
Embora nunca apareça, a
diretora Dea Ferraz faz questão de participar dos debates acalorados de uma
forma indireta. Num determinado momento, por exemplo, quando o debate se encontra
no calor do momento, a cena é cortada, para que a tela seja banhada pela escuridão
e para somente ouvirmos a cineasta dizendo para o cameraman onde se posicionar
para pegar o melhor ângulo do momento. O ápice desses momentos é quando Ferraz
age como um verdadeiro “Grande Irmão” (ou Big Brother) e dizendo para o seu
colega de produção (que se encontra nos dois grupos de debate) reagir no calor
do momento e para que assim o assunto tome outros rumos.
Na questão do aborto, por
exemplo, preconceito, crenças e pensamentos até mesmo racionais são colocados
na mesa e gerando um atrito do qual é sentido por todos. O clima só não vai
para um caminho de agressão verbal porque há um interesse mútuo pelo diálogo
mais racional, mesmo quando o preconceito tente aflorar de alguns deles. A cena
final, aliás, não é preciso ser dito nada, pois basta observarmos a expressão
do rosto de alguns em cena para nós termos uma ideia do que eles pensam quando
eles veem na tela mulheres feministas protestando nas ruas pelos seus direitos
e nas mais diversas formas.
Mais do que um mero Big Brother
cinematográfico, o documentário Câmara de Espelhos escancara um Brasil ainda
muito preconceituoso e que tem muito que aprender sobre os direitos iguais do mundo
contemporâneo.
Onde assistir: Cinebancários: Rua General da Câmara, nº424, centro de Porto Alegre. Horário: 15h e 19h.
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