O cinema independente norte americano teve o seu ápice nos anos noventa, principalmente quando Quentin Tarantino pegou o mundo de surpresa através do seu genial "Cães de Aluguel" (1990). Infelizmente estamos falando de Hollywood, da qual a mesma se deixa ser dominada por grandes estúdios e não permitindo que pequenos filmes obtenham um grande espaço. Contudo, "Frances Ha" (2012) parece que foi a válvula de escape para a revitalização dos pequenos estúdios, dos quais a criatividade vem em primeiro lugar ao invés da pirotecnia vazia e que cada vez mais contamina as grandes produções.
O filme foi dirigido por Noah Baumbach, mas a ideia partiu da atriz e hoje diretora Greta Gerwwig, realizadora do recente "Adoráveis Mulheres" (2019) e que comanda o aguardado "Barbie" (2023). Na realização do roteiro ela se inspirou em sua própria vida pessoal, onde a mesma frequentava antigamente apartamentos alugados através de amigos que cursavam a faculdade enquanto a mesma buscava por alguma realização que pudesse crescer na vida. Muito disso é colocado no filme e fazendo com que nos identifiquemos facilmente com a protagonista, pois todos nós buscamos pelos nossos sonhos, mas mal sabíamos que não seria fácil.
Frances não é uma personagem que gosta de mudanças, mas elas acontecem e fazendo com que a mesma tenha que pôr em prática diversos planos e dos quais ela nem imaginava que um dia sairiam da gaveta. Ela tem uma melhor amiga chamada Sophie (Mickey Summer), da qual possui os seus próprios desejos, mesmo indo contra as expectativas da protagonista. Uma vez testemunhando-a sozinha nós embarcamos em uma jornada pessoal, onde ela não sabe ao ser onde parar e, portanto, a vemos quase sempre correndo contra o relógio, mas ao mesmo tempo parando para ouvir o seu próximo.
O filme em si remete aos bons tempos do cinema francês Nouvelle Vague, onde na maioria dos filmes nos era apresentado tramas que mostrava a realidade francesa, onde os protagonistas conversavam, bebiam, fumavam e refletiam sobre as suas encruzilhadas com destinos indefinidos. Portanto, se algum momento você comparar esse filme com clássicos como "Os Incompreendidos" (1959), não se surpreenda, pois, a intenção dos realizadores era exatamente essa. Com uma fotografia em preto e branco, o filme foi para época algo incomum em tempos em que o cinema norte americano cada vez se encontra mais preso em suas franquias intermináveis e sempre não parando para realizar algo mais humano e reflexivo.
Com uma bela atuação, Greta Gerwig quebrou com a sua personagem alguns tabus que o cinemão por lá insiste em pôr em prática com relação a personagens femininas, já que Frances não representa nenhum padrão que a maioria espera, mas sim uma garota que procura saber o seu lugar na vida, mesmo que, por vezes sozinhas. Portanto, seja homem ou mulher, é um filme que você se identifica muito mais facilmente do que um herói de ação moldurado por efeitos visuais, já que aqui é o mundo real falando mais alto e sendo ele muito mais complexo do que qualquer outro multiverso. Não é à toa, portanto, que Greta Gerwig viria a se tornar uma das poucas diretoras a concorrer ao Oscar de melhor direção através de "Lady Bird - A Hora de Voar" (2017) e sendo um feito e tato em tempos em que o machismo ainda insiste em manter o padrão no cinemão norte americano.
Eu gosto de pensar que "Frances Ha" foi um pequeno filme que fez muitos voltarem a enxergar o cinema independente norte americano como ponto de fuga para os realizadores terem mais liberdade na realização dos seus projetos e sendo algo que muitos não obtêm quando estão dentro dos grandes estúdios. Greta Gerwig, portanto, fez o seu dever de casa com louvor e não é à toa que a mesma está no comando do aguardado "Barbie", mas que ao que tudo indica não será nada o que muitos esperam e eu somente agradeço.
"Frances Ha" é uma pequena, porém, grande pérola do cinema independente norte americano do início do século vinte um e provando que uma trama que fala sobre a nossa própria vida é muito mais interessante do que qualquer outra franquia multibilionária.
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