Nota: Filme exibido para os associados no dia 25/09/2022.
Sinopse: Judith leva uma vida dupla: dois amantes, duas famílias. Emaranhada entre segredos e mentiras, suas vidas começam a desmoronar.
São raros os casos de dois gêneros se cruzarem e renderem bons frutos para um determinado filme. Quando acontece, porém, tudo se torna surpreendente, principalmente quando achávamos que nesta mistura pudesse dar tudo errado. "O Segredo de Madeleine Collins" (2021) é um desses casos em que os gêneros se cruzam para moldar uma história surpreendente, mas que nos soa verossímil perante esse mundo cada vez mais complexo.
Dirigido por Antoine Barraud, o filme conta a história de Judith, interpretada pela atriz Virginie Efira e vista recentemente em "Benedetta" (2021), que se divide entre a Suíça e a França, vivendo uma vida dupla com dois amantes e filhos diferentes. Em um lugar, com Abdel ela cria uma menina, e em outro, com Melvil, tem dois meninos mais velhos. Todavia, essa frágil harmonia é quebrada, e toda teia de mentiras, segredos e idas e vindas começa a ser revelada.
Em sua abertura, Antoine Barraud busca inspiração através de Alfred Hitchcock, já que nela nos é apresentado a protagonista em um dia qualquer comprando umas roupas. Toda essa parte é apresentado em um plano-sequência, como se o realizador quisesse que a gente se prepare para algo de peculiar venha acontecer. Algo realmente acontece, mas as respostas surgem mais adiante.
Aos poucos vamos conhecendo o dia a dia de Judith, mas não demora muito para a gente notar que a sua vida é mais complexa do que a gente imagina. No primeiro ato, por exemplo, conhecemos os seus dois lados da mesma moeda, os seus trabalhos do qual ela se sustenta e que é através deles que ela consegue contornar e manter as suas mentiras. Aos poucos percebemos em seu olhar que ela possui um conflito interno, pois sabe que a qualquer momento tudo aquilo que ela havia construído pode desmoronar a qualquer momento.
Virginie Efira nos brinda com uma das melhores atuações do ano, cuja a sua expressão sintetiza toda ação e reação que sua personagem provoca para si e para as pessoas em sua volta. Não deixa de ser espantoso, por exemplo, a cena em que ela assiste ao concerto do seu marido, para logo percebemos que a sua expressão vai mudando e fazendo a mesma sair do local antes que acontecesse algo de pior para dizer o mínimo. Um momento simples, porém, poderoso, muito bem dirigido e que somente obteve esse feito graças ao desempenho da atriz que se entregou na cena como um todo.
Curiosamente, a trama em alguns momentos vem e volta no tempo, fazendo com que a gente tenha uma atenção redobrada para não ficarmos no meio do caminho. Quando a situação foge do controle para Judith as coisas começam a fazer maior sentido, mesmo quando desejamos no fundo que tudo se amenize, pois já sentimos que a protagonista não conseguirá manter tudo o que construiu por muito tempo. Na medida em que as revelações são jogadas ao nosso colo percebemos também uma Judith cada vez mais se desequilibrando e partindo por situações que fogem do seu raciocínio.
O filme, portanto, se torna um suspense psicológico de proporções arrasadoras, não somente para a protagonista, como também para as pessoas das quais ela ama, porém, que sofrem pelas suas ações e consequências. Neste último caso, por exemplo, ficamos com o coração partido ao vermos a inocência de uma criança diante da complexidade da vida adulta e tentando compreender algo que nem os adultos envolvidos conseguem explicar de forma coerente. De forma resumida, o filme é uma síntese atual do ser humano que se encontra sempre correndo contra o relógio, escolhendo caminhos errados e não conseguindo achar o caminho de volta para recomeçar do zero.
"O Segredo de Madeleine Collins" é um eficiente suspense dramático com contornos surpreendentes e que nos levam junto com a protagonista ao fim iminente.
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