É sempre uma tarefa ingrata quando se faz uma lista dos cem melhores filmes de todos os tempos e ter que escolher somente um ou dois filmes do mestre Charles Chaplin. Como excluir, por exemplo, a magistral "O Grande Ditador" (1940), uma sátira, porém, profética contra os nazistas, cujo seu discurso atual está mais atual do que nunca em tempos em que o fascismo de hoje nos assombra. E o que dizer do meigo "Luzes da Cidade" (1931), sendo um precioso exemplo de como deveriam ser feitas as comédias românticas até hoje.
Contudo, certa vez o próprio Chaplin disse que, se tivessem que escolher um filme para que ele fosse sempre lembrado esse seria "Em Busca do Ouro" (1925) e que recentemente completou o seu centenário. A produção é uma de muitas protagonizadas pelo personagem Carlitos, um vagabundo, porém, carismático e que no decorrer de sua jornada pela sobrevivência se mete nas mais diversas confusões. Porém, ele nunca perde o bom humor e a alegria de ainda continuar vivendo em meio aos tantos percalços.
A trama se passa no final do século dezenove, onde vemos Carlitos indo para o Alasca onde ocorre uma corrida desenfreada por ouro e despertando a ganância de muitos homens que anseiam em se tornarem milionários. Por lá, o protagonista conhece Big Jim, garimpeiro experiente no ramo e que encontrou a montanha de ouro, mas que devido uma briga com um bandido acabou perdendo a memória. Ao mesmo tempo, Carlitos se apaixona pela bela Georgia em um bar dançante e é através dela que o protagonista protagoniza a famosa cena da dança dos pãezinhos.
Curiosamente, Georgia seria interpretada pela mulher de Chaplin, Lita Grey, mas ela ficou grávida pouco antes do início das filmagens. No decorrer do filme, Chaplin dá um tratamento cômico com relação às situações melancólicas, como a separação entre as classes, a solidão e a pobreza que aqui está mais acentuada do que nunca. Quando Big Jim está morrendo de fome na cabana começa imaginar Carlitos como um enorme galo e cuja cena é bem sugestiva com relação aos canibalismos.
Quando eu assisti esse clássico pela primeira vez foi no canal católico Rede Vida e cuja versão foi aquela de 1942, onde Charles decidiu restaurar o seu filme, colocando som e tendo uma narração off de sua própria voz. Curiosamente, acabou sendo indicada ao Oscar de melhor som e trilha sonora mesmo tendo se passado quase vinte anos desde o seu lançamento original. Vale salientar que o próprio realizador decidiu simplificar o seu final nesta nova versão, onde vemos o casal central somente subir na escada do navio e assim encerrando o filme com chave de ouro.
Para a geração de hoje que assiste aos filmes de Chaplin eles acham que tudo era mais simples em termos de filmagem, mas os que pensam isso estão completamente enganados. O caso é que o realizador era um verdadeiro perfeccionista e quando não estava satisfeito com determinada cena sempre fazia questão de refazer ela diversas vezes. Para "Busca do Ouro", por exemplo, o material gravado foi quase trinta vezes maior do que o tempo de duração final, sendo que a cena em que o protagonista e Big Jim cozinham uma bota para comer levou três dias e mais de 60 takes para ser filmada.
Para ser feita a cena Chaplin criou uma bota feita de alcaçuz para comer, assim como também os próprios cadarços. O resultado desse processo foi que ele acabou ficando doente diversas vezes depois de ingerir muito açúcar em seu organismo e tendo que paralisar as filmagens em algumas ocasiões. O esforço foi árduo, porém, recompensador e hoje o filme é considerado uma de suas maiores obras primas e do qual possui diversas cenas que entraram para a história do cinema.
"Em Busca do Ouro" é o filme do qual Charles Chaplin desejou que fosse sempre lembrado e que nós o revistamos sempre com muito carinho.
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