Sinopse: Um dedicado médico cubano se apaixona pelo Brasil quando emigra para o país através do programa Mais Médicos.
O programa "Mais Médicos" foi criado através do governo Dilma onde mais de quinze mil médicos foram convocados para trabalhar em áreas onde falta profissionais adequados. Infelizmente o programa quase foi extinto pelo governo Bolsonaro, que não via com bons olhos o fato de que muitos ali eram médicos cubanos e sendo que muitos foram levados de volta para o seu país. "O Deserto de Akin" (2025) fala sobre esses tempos de dúvidas e crise de identidade perante tempos de metamorfose.
Dirigido por Bernard Lessa, acompanhamos a jornada de Akin, um dos médicos cubanos trabalhando no Brasil em 2018. Com as eleições, a cooperação entre o Brasil e Cuba termina. Os médicos são convocados a retornar ao seu país de origem. Akin está em uma encruzilhada, se deve retornar para o seu país ou procurar se manter em território brasileiro.
Bernadrd Lessa procura nos apresentar o protagonista de forma gradual, como se fosse uma forma para tentarmos adivinhar quem ele é e o que faz ali em pleno território brasileiro. Aos poucos entendemos que ele é um profissional dedicado trabalhando pelo SUS, mas que ao mesmo tempo busca uma forma de compreender o lado cultural de um país como o Brasil que naquele momento, mais precisamente nas vésperas das eleições de 2018, estava completamente dividido e deixando tudo mais confuso. Uma espécie de estranho no ninho, mas que procura ajudar o próximo mesmo quando os ventos da mudança dizem ao contrário.
Embora ainda novo no território da atuação, o cubano Reynier Morales se sai bem em cena ao saber comprar com a proposta principal do cineasta. O seu Akin nos transmite curiosidade, confusão e incerteza através do seu olhar, mas que obtém certo equilíbrio quando colocar em prática o que estava predestinado a ser, principalmente quando ajuda crianças necessitadas em um território indígena. Atenção para a cena em que ele busca uma forma de curar a visão de uma criança e que se tornará crucial na reta final da trama.
Já a personagem Ana Flávia Cavalcanti se torna um motivo a mais para o protagonista se manter no Brasil, mas não somente por ter se tornado um interesse amoroso, como também um elo de força que o faz seguir em frente nesta terra desconhecida. Curiosamente, é interessante observar que os eventos daquele ano ocorrem na surdina no decorrer da trama, mas que afeta os personagens principais de forma imediata. Além disso, o filme está cheio de simbolismo, desde uma serpente que perde a sua pele, como também a possibilidade da cidade desaparecer com uma tempestade de areia.
Tudo isso é moldado para sintetizar tempos de incerteza de um Brasil que se enveredou para um lado obscuro da história e tendo piorado ainda mais com o advento da Pandemia. Ao final, constatamos que a força de vontade de certos médicos cubanos é o que fizeram a diferença naquela época e Akin seria uma representação desta força mesmo perante o movimento que ia contra eles. Ao final, a virtude pela prática do bem venceu, mas isso não impede o fato de como fomos ingratos com certos profissionais que foram predestinados a salvar vidas mesmo com poucos recursos em sua volta.
"O Deserto de Akin" é um pequeno retrato sobre tempos indefinidos e que deixou diversas pessoas indecisas sobre qual o melhor caminho para trilhar depois de tudo.
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